Referente a outubro de 2006
Em julho tive uma forte gripe, com febre alta, coisa que eu não tinha há vários anos e da qual até agora, três meses depois, não consegui recuperar-me totalmente. Tosse e irritação na garganta têm sido uma constante. Como em todas as ocasiões anteriores em que fui acometido desse mal — que tem sido uma rotina em minha vida desde minha adolescência —, esses sintomas iam embora junto com o ciclo de vida do vírus, achei que desta vez seria a mesma coisa. Não foi. Embora a gripe tenha me deixado, não melhorei da garganta até agora — desta vez com o agravante de que o problema afetou também minhas cordas vocais, deixando-me totalmente afônico devido ao excesso de tosse.
Cansado de esperar pela reação do organismo, decidi procurar um médico. Eu estava disposto a recorrer à emergência de um grande hospital próximo de casa, mas fui persuadido por mamãe a ir com ela a um homeopata.
Homeopatia não é novidade para mim. Tive um excelente médico homeopata no passado ao qual eu ainda estaria recorrendo se não tivesse aumentado absurdamente o preço de suas consultas. Mamãe argumenta que ele faz isso para selecionar sua clientela. Ela deve ter razão. Não devo ser um cliente bom o bastante para ele. Mesmo se o valor extorsivo que hoje cobra por suas consultas não me fizessem absolutamente nenhuma falta no fim do mês, eu não concordaria em pagá-lo. Mamãe ofereceu-se para pagar, mas não deixei. Não posso ser conivente com o que considero uma infâmia.
O homeopata que consultei pelo menos atende pelo meu plano de saúde e tem a reputação de ser um bom médico. Eu já o conhecia, pois acompanhei Adriana a uma consulta com ele há alguns anos. Na ocasião, não saí de seu consultório muito bem impressionado, pois ao recomendar um chá de ervas para ajudar Adriana com suas corriqueiras cólicas, ele disse a ela algo como “deixe que as ervas falem com você, elas têm uma experiência de vários milênios que querem compartilhar com você” — como se folhas secas e desidratadas tivessem vontade própria. É claro que entendi o que quis dizer, mas não concordei com a abordagem. Pareceu-me que queria que realmente acreditássemos que as ervas iam falar com ela e transmitir-lhes experiência. Eu, hein?
Mas tudo bem, decidi ignorar esse detalhe (até porque o chá funcionou mesmo) em prol de uma possível solução para meu tormento otorrinolaringológico.
Mamãe e eu entramos juntos no consultório, pois ela também queria consultar-se por causa de um problema semelhante ao meu. Como bom cavalheiro, deixei que fosse atendida primeiro. O médico fez-lhe diversas perguntas sobre seus problemas, seus hábitos e sua vida. Após ouvir as respostas de mamãe, começou o que por alguns minutos pareceu-me uma interminável e chatérrima palestra filosófica sobre a vida e a saúde do corpo.
Eu já estava começando a arrepender-me de tê-lo procurado quando percebi que algumas das coisas que dizia faziam sentido do ponto de vista do Evangelho Restaurado. Falou que levamos conosco para a vida após a morte nossa mente, temperamento e personalidade. Falou diversas vezes em Deus, em nossa herança divina e em nosso relacionamento com Ele, dentre outras coisas. O mistério que pairava em minha mente sobre qual seria sua religião foi desvendado quando recomendou à mamãe a leitura de textos budistas.
Então chegou minha vez. Minha conversa com ele foi bem mais rápida. Depois de ouvir um relato afônico sobre a irritação em minha garganta e vias respiratórias, que me fazem tossir incessantemente, ele também quis saber sobre como lido com os problemas da vida. A otorrino com quem me consultei em janeiro por causa do mesmo problema fez-me a mesma pergunta. Na ocasião, ela achou que meu caso tinha relação com stress e alergia. Tanto naquela consulta quanto nesta, minha resposta foi a mesma: costumo enfrentar minhas provações com muita serenidade. Talvez por isso, o médico não se sentiu na necessidade de dar-me o longo aconselhamento que deu à mamãe (ufa!).
Comecei a tomar os dois medicamentos prescritos no mesmo dia, colocando neles e no Senhor minha fé de que poderia ter meu tormento aliviado.
Todavia, três noites consecutivas depois, não consegui dormir direito por causa da tosse persistente.
Perdi a paciência e, no dia seguinte, fui ao hospital. A médica que me examinou constatou uma forte irritação na garganta. Nada apareceu no raio X do tórax. Prescreveu-me medicamentos antialérgicos e antiinflamatórios que, a exemplo dos homeopáticos (que não parei de tomar) também comecei a tomar com fé.
Nenhum resultado.
Naquela noite fui tentar dormir preocupado com a inglória perspectiva de não conseguir repousar. A tosse simplesmente não me deixava pegar no sono.
Foi então que tentei a última das alternativas: suplicar ao Pai por um alívio. “Pai amado, se te for possível, alivia-me dessa tosse para que eu consiga dormir”, pedi-Lhe, sabendo que Ele podia, sim, atender meu pedido, mas sem saber se isso estava de acordo com Sua vontade.
Repeti o pedido umas três outras vezes naquela noite. Foi então que senti a amorosa mão do Senhor repousar sobre mim e a irritação em minhas vias respiratórias abaixo da garganta ir embora.
“Obrigado, Pai, por atender meu pedido. Te amo muito”, disse-Lhe, quase emocionado.
Então dormi tranqüilamente até a manhã seguinte.
Nem liguei para o fato de, ao acordar, os sintomas terem voltado. Ter conseguido dormir em paz valeu a pena.
Mas ainda estou rouco e tossindo muito. Nenhum dos medicamentos está surtindo efeito. Não sei o que fazer, a não ser pedir ao Senhor que me conceda novamente o mesmo alívio dado naquela noite. Espero que isso esteja de acordo com Sua vontade como estava naquela vez.