Conselhos do Élder Dallin H. Oaks em uma conferência de estaca

Publicado em 4 de novembro de 2010 e atualizado em 28 de dezembro de 2023

Élder Dalling H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos

No último domingo tivemos o sagrado privilégio de receber nova visita de outro dos apóstolos do Senhor Jesus Cristo. Desta vez foi o Élder Dallin H. Oaks. Foi a terceira visita de um apóstolo em dois anos e meio a uma cidade distante de onde esse tipo de visita costuma acontecer com mais frequência.

Ao contrário do ocorrido nas outras ocasiões, desta vez ele veio falar exclusivamente aos membros de nossa estaca. Desconheço a razão de tamanho privilégio, mas não faz diferença. O fato é que a notícia se espalhou como fogo em palha seca e a capela ficou pequena para tanta gente de várias estacas que quis desfrutar dessa bênção.

Cheguei à capela uns 20 minutos antes do início da conferência. Para minha grata surpresa, quem estava servindo de recepcionista à entrada do salão sacramental era o próprio Élder Oaks! Sublime demonstração de humildade e simpatia. Dei-lhe um sorriso largo, apertei sua mão e disse-lhe: “Muito obrigado por estar entre nós hoje. É um enorme prazer e privilégio tê-lo aqui. Muito obrigado!” Ele sorriu e respondeu: “É uma alegria muito grande para mim estar aqui”. Então eu disse: “Para nós também é uma grande alegria. Muito obrigado mais uma vez”.

A seguir, algumas de minhas anotações pessoais sobre seu edificante e inspirador discurso.

O dever cívico de votar

Por ser dia de eleições, o Élder Oaks começou seu discurso lembrando-nos de nossas responsabilidades cívicas como eleitores. Comentou que, dois dias depois, seria dia de eleição também nos EUA e observou que, embora naquele país o voto não seja obrigatório como no Brasil, os membros da Igreja são incentivados a ser bons cidadãos indo votar.

Discursos por inspiração

Contou que estava dando seu quarto discurso desde sua chegada à cidade, sendo que não havia trazido nenhum discurso preparado. “Estou apenas confiando no Senhor para que me inspire sobre o que deseja que seja dito a Seus filhos”, disse ele.

A Igreja no Brasil

O Élder Oaks confessou-se impressionado com o vigoroso crescimento e amadurecimento da Igreja no Brasil, comparando-a a um jovem adulto que entra nas responsabilidades da vida adulta querendo ocupar um lugar nesse mundo de adultos. Observou que, no mundo todo, apenas México (com mais de 1 milhão de membros) e EUA (com 5 milhões) têm mais membros da Igreja que o Brasil (pouco mais de 1 milhão), mas tem mais missões (27) que o México e que a taxa de crescimento da Igreja no Brasil é maior até que a dos EUA, razão pela qual disse que, se continuar crescendo assim, em uma geração provavelmente haverá mais membros no Brasil do que nos EUA.

O amor incondicional do Pai

Ele destacou que, pelo modelo de casamento e família dado por Deus a Seus filhos e por ter nos ensinado que um homem não pode ser salvo sem uma mulher nem uma mulher sem um homem, somos filhos de Pai e Mãe Celestiais. O amor de ambos por cada um de nós fica evidente nos detalhes de Seu Plano de Salvação, que prevê sermos exaltados como Eles são mediante nossa fidelidade e honra aos convênios feitos com o Pai no batismo e no templo.

Ele lembrou também que viemos a este mundo com um propósito: receber este corpo mortal e mostrar a Deus que guardaríamos Seus mandamentos. Para isso, teríamos que ter um Salvador, pois todos que vivem neste mundo seriam manchados por pecados. Por isso, o Plano de Salvação nos permitiria sermos limpos. Ele comparou a necessidade de sermos limpos à de lavarmos regularmente as roupas que usamos. Por isso, precisamos tomar o sacramento semanalmente. O fato de nos ter sido oferecido um Salvador, por cujo sacrifício expiatório podemos ser perdoados e limpos se tão somente nos arrependermos de nossos pecados, é uma prova do grande ato de amor tanto do Pai — por nos ter oferecido Seu Filho em sacrifício — quanto de Jesus Cristo — por ter sofrido esse sacrifício por nós.

Para nos dar outro exemplo desse amor, o Élder Oaks contou uma experiência vivida por ele numa conferência de estaca nos EUA que lhe ensinou uma lição pessoal sobre o amor de Deus. Segundo ele, iniciada a conferência, sentiu-se compelido pelo Espírito do Senhor a convidar uma irmã que estava no meio da congregação para subir ao púlpito e prestar um testemunho. A irmã contou ser enfermeira e trabalhar uma entidade assistencial na qual havia um interno que, nas palavras dela, era o homem mais feio e repulsivo do mundo. Ele era cheio de ódio. Odiava as enfermeiras que cuidavam dele e fazia tudo que podia para tornar a vida delas mais difícil. Até cuspia no chão só para que tivessem que limpar. Usava linguagem profana e falava coisas muito vulgares. Mas foi com ele que a irmã teve uma experiência muito incomum. Segundo ela, no meio da noite, quando estava em seu posto de trabalho, ouviu um forte barulho vindo do quarto do homem. Ele havia caído da cama e se debatia no chão, com a cabeça ferida e sangrando em meio a uma grande bagunça, em uma convulsão que lhe pareceu ser a última de sua vida. Segundo o Élder Oaks, ela descreveu da seguinte forma o que aconteceu ao entrar no quarto: “Foi como se uma grande corrente elétrica estivesse fluindo de nosso Pai Celestial até aquele Seu filho. Quando entrei no quarto, senti como se eu tivesse entrado naquela corrente. Era uma corrente de amor. Senti o amor que Deus tinha por aquele Seu filho tão desajustado. Foi um sentimento de amor tão profundo que me ajoelhei ao lado dele, segurei-o em meus braços e lhe dei um beijo na testa. Então ele me disse: ‘Posso ir para casa agora?’ Respondi: ‘Sim, pode’. Beijei-o novamente e senti o amor que Deus tinha por ele. Logo em seguida, ele morreu”.

O Élder Oaks comentou que aquela experiência ensinou-lhe uma maneira nova de pensar no amor do Pai por Seus filhos ao perceber que era fácil para ele entender como Deus pode amar quem O ama e honra Seu nome, mas nunca havia compreendido como o Pai pode amar quem age de maneira oposta. Foi quando entendeu que Deus ama todos os Seus filhos incondicionalmente, não importa como sejam, pelo simples fato de serem Seus filhos. O Élder Oaks comentou que Deus nos deu a oportunidade de entender esse princípio ao termos nossos próprios filhos e os vermos fazendo coisas que não queremos que façam.

Outro exemplo do amor do Pai por Seus filhos, conforme destacado pelo Élder Oaks, é o fato de haver reinos de glória reservados até a quem não fez por merecer as maiores de Suas recompensas mas que são pessoas boas e honradas. Essas pessoas não receberão as bênçãos do reino celestial, mas serão ressuscitadas para um reino de glória muito mais bonito e maravilhoso que esta Terra. Segundo o Élder Oaks, isso é uma expressão do amor de Deus por todos os Seus filhos.

Em seguida, leu duas escrituras, João 13:34-35 (“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”) e Gálatas 5:13-14 (“Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor. Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”), destacando que a maneira como demonstramos esse amor uns pelos outros é servindo uns aos outros. “O serviço é algo que fazemos para mostrar nosso amor”, disse.

Fofocas

Mas também há como demonstrar amor pelo que não fazemos ou dizemos, salientou ele. Em Levítico 19:16 (“Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo”) o Senhor advertiu os filhos de Israel contra o pecado da fofoca, que era um problema também para os membros da Igreja dos tempos de Jesus Cristo, época em que havia muita fofoca uns contra os outros e isso infligia dor em seu próximo. O Élder Oaks destacou que, no Guia de Estudo das Escrituras, o termo “mexerico” mostra várias passagens de escritura que falam desse assunto. Uma delas traz palavras ditas pelo Senhor aos membros da Igreja de hoje em dia, quando abordou esse assunto por meio do profeta Joseph Smith, em D&C 42:27: “Não falarás mal de teu próximo nem lhe farás mal algum”.

Os jovens da Igreja

O Élder Oaks compartilhou conosco outra experiência ocorrida também numa conferência de estaca, desta vez na Inglaterra, para mostrar como gosta dos jovens por, entre outros motivos, terem o dom de dizer franca e abertamente o que pensam e sentem. Na conferência, recebeu uma carta de uma menina de 10 anos na qual agradecia a ele por estar lá, o elogiava dizendo que ele era “muito bonito, gentil e legal” e pedia-lhe que dissesse ao presidente Ezra Taft Benson e aos outros onze apóstolos que eles também eram muito bonitos, gentis e legais. Ao final da carta, contou o Élder Oaks, a menina desenhou a cabeça dele (lembrando que ele é careca) e, ao lado do desenho, escreveu: “Sei que você é um apóstolo porque você é limpo e sua cabeça brilha”. É esse tipo de franqueza e espontaneidade que ele acha cativante nos jovens.

Não há elevação ou rebaixamento na Igreja

Ele ensinou também que, quando alguém recebe um chamado para servir na Igreja ou quando é desobrigado desse chamado, isso não significa uma elevação ou rebaixamento em seu status como membro. Ao invés, a pessoa pode andar para frente ou para trás, conforme suas atitudes ao ser chamada e desobrigada. Segundo ele, andamos para frente quando guardamos nossos convênios e para trás quando não o fazemos. E destacou que o certo é pensar em termos de andar para frente ou para trás, e não para cima ou para baixo.

Para ilustrar esse princípio, compartilhou conosco algumas experiências que teve com pessoas que foram desobrigadas de posições proeminentes na Igreja, começando por si próprio. Quando era presidente da Universidade Brigham Young, um dia foi comunicado pelo presidente da Igreja que seria desobrigado de seu chamado e que essa desobrigação seria anunciada no dia seguinte. Mas, por causa da falta de cuidado com a confidencialidade do assunto por parte de alguém que trabalhava nos escritórios da Igreja, a notícia acabou vazando e foi anunciada numa estação de rádio antes mesmo que ele conseguisse chegar em casa. Isso tirou dele o privilégio de contar à sua família e aos colaboradores com quem trabalhou por nove anos que estava sendo desobrigado. Pior ainda: alguns pensaram que estava sendo desobrigado por ter sido infiel ou desonesto ou algum outro motivo e começaram a fazer comentários. Isso o deixou magoado. Mesmo assim, contou ele, empenhou-se em aplicar o princípio de demostrar amor ficando em silêncio e confiando no fato de que com o tempo as pessoas saberiam a verdade, como de fato souberam. “Qualquer coisa que eu dissesse poderia piorar a situação”, observou.

Então ele comentou que, sempre que é designado para desobrigar um presidente de estaca, pensa em sua própria experiência e tenta conduzir a desobrigação de modo que ninguém seja magoado como ele foi. Contou da desobrigação de um presidente de estaca no Arizona que tinha 39 anos e havia servido por 9 anos. Imaginando como ele se sentiria não sendo mais um presidente de estaca, perguntou a ele e à sua esposa como se sentiam com a desobrigação. O jovem ex-presidente respondeu dizendo sentirem-se ótimos, pois seu bispo já os havia chamado para outra responsabilidade: serem os novos líderes do berçário de sua ala. Na opinião do Élder Oaks, aquele era um exemplo maravilhoso de como não se vai para cima ou para baixo na Igreja, e sim para frente ou para trás. Aquele era um ex-presidente de estaca que andou para frente ao se sentir feliz deixando de ser presidente de estaca para ser líder do berçário de sua ala.

No lado oposto, houve também um caso compartilhado pelo Élder Oaks que ilustra a postura errada nesses momentos. Ele desobrigou um presidente de estaca no Japão e depois ficou sabendo que, por causa da desobrigação, o homem havia se afastado da Igreja. Segundo o Élder Oaks, na cultura japonesa a reputação de uma pessoa é tida como algo extremamente importante em sua vida e, quando alguém é desobrigado numa cultura dessas, é muito difícil descer da posição em que estava — que é como vêem a situação. Nesse caso, aquele ex-presidente andou para trás.

Brincando com a situação de ser desobrigado, o Élder Oaks observou que qualquer um dos presentes àquela conferência estava em situação muito melhor que a dele, pois, pela natureza do chamado dele como apóstolo de Jesus Cristo, quando for desobrigado haverá um funeral.

O chamado de pai e mãe

Ele destacou que o propósito de nosso serviço é tornarmo-nos como Deus quer que nos tornemos e que, quando somos desobrigados de nossos chamados na Igreja, não somos desobrigados de nossos chamados como pai e mãe. Então contou que, em recente reunião do Quórum dos Doze Apóstolos, o presidente do Quórum dos Doze, o Élder Boyd K. Packer, ensinou esse princípio dizendo que, no julgamento final, é pouco provável que o Senhor nos pergunte que tipo de bispo, presidente ou outro líder fomos, e sim que tipo de pai fomos.

Responsabilidade missionária

O Élder Oaks disse que, em conferências de estaca, gosta de discursar sobre o trabalho missionário usando uma única frase. Para fazê-lo, primeiro pediu a todos os missionários de tempo integram que ficassem em pé. Em seguida, pediu a todos que têm uma responsabilidade missionária que ficassem em pé. Toda a congregação se levantou. Então o Élder Oaks agradeceu e explicou que havia acabado de dar seu discurso de uma só frase sobre o trabalho missionário. Ou seja, fez com que todos reconhecessem sua própria responsabilidade missionária.

A importância do sacramento

Ele disse que, em seus discursos em conferências, costuma enfatizar a importância do sacramento lembrando que somos batizados apenas uma vez, que os homens são ordenados apenas uma vez, que recebemos a investidura do templo apenas uma vez e nos casamos para a eternidade numa única cerimônia, mas temos o mandamento de receber a ordenança do sacramento todas as semanas e por milhares de vezes ao longo da vida. Segundo ele, isso é muito importante para recebermos a limpeza regular de nossos pecados, a renovação regular de nossos convênios e o lembrete regular da existência de nosso Salvador Jesus Cristo.

Testemunho apostólico

O Élder Oaks disse que, como apóstolo do Senhor Jesus Cristo, teve o privilégio de assinar, no início do milênio (ano 2000) a proclamação sobre o Cristo vivo. Então leu dela o seguinte trecho: “Oferecemos nosso testemunho da realidade de Sua vida incomparável e o infinito poder de Seu grande sacrifício expiatório. (…) Ele ensinou as verdades da eternidade, a realidade de nossa existência pré-mortal, o propósito de nossa vida na Terra e o potencial que os filhos e filhas de Deus têm em relação à vida futura. Ele instituiu o sacramento como lembrança de Seu grande sacrifício expiatório”.

No último parágrafo da proclamação, leu: “Prestamos testemunho, como Apóstolos Seus, devidamente ordenados, de que Jesus é o Cristo Vivo, o Filho imortal de Deus. Ele é o grande Rei Emanuel, que hoje Se encontra à direita de Seu Pai. Ele é a luz, a vida e a esperança do mundo. Seu caminho é aquele que conduz à felicidade nesta vida e à vida eterna no mundo vindouro”. Testificou que isso é verdade, que somos guiados por um profeta, que temos a plenitude de Seu evangelho e que temos o poder de Seu sacerdócio. Encerrou invocando as bênçãos do Pai sobre nós conforme buscarmos cumprir nossas responsabilidades na Igreja e no lar.

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4 comentários em “Conselhos do Élder Dallin H. Oaks em uma conferência de estaca

  1. Oi Marcelo, ótima iniciativa de publicar as palavras do nosso querido apóstolo que esteve conosco fim de semana passado. Como eu sempre pensei, ele não vinha à toa a nossa Estaca, mas tinha um propósito específico, não que fossemos mais privilegiados que os outros membros das outras estacas, pelo contrário, com suas palavras, podemos sentir as coisas que estávamos precisando melhorar para sermos realmente chamados discípulos de Jesus Cristo.

  2. Amei as palavras do Elder Oaks! O amor de nosso Pai Celestial é maravilhoso, grandioso, de difícil compreensão, Ele tem um plano para todos os seus filhos; Gostei das palavras em que nos é dito que vamos prestar contas dos nossos deveres familiares.

    E algo de bom proveito: “Fique calado!” Acho que não há nada melhor do que estar em silêncio em determinadas situações.

    Para finalizar, adorei o fato de que a esposa deve dar total apoio ao marido, isto ele usou como exemplo a sua esposa. Amei este discurso.

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