Nem tudo que reluz é ouro, já dizia minha avó

Publicado em 28 de março de 2010 e atualizado em 18 de janeiro de 2024

Este artigo relata o surpreendente (e um tanto frustrante) desdobramento do caso que contei no artigo Ganhar (muito!) dinheiro com pornografia? Não, obrigado. Se você ainda não conhece o caso, sugiro ler aquele artigo antes deste para situar-se no contexto.

O leitor Raphael Coelho, após ler o relato daquela experiência, comentou:

Posso estar errado, mas isso está parecendo uma clara tentativa de alguém que na verdade queria vê-lo ceder para depois publicar e desmoralizá-lo.

Respondi que não acreditava nisso, pois eu já havia constatado que a pessoa em questão de fato existia.

Mas é com consternação que devo reconhecer que ele tinha razão.

Anteontem (26/3) a verdade veio à tona. Tudo não passou de uma encenação bolada e executada por alguém que, de fato, tentou armar para cima de mim. Essa pessoa acabou confessando tudo. Ele disse:

Quero dar um fim nisso. Primeiro não sou [aquela pessoa]. Achei seu site no Google e li vários absurdos nele. Dai pensei em te botar pilha, mas vi que tu é um cara legal. Bom, me desculpe. Foi uma criancice minha.

Ele acabou me contando que é de São Paulo e criou um e-mail novo com o único propósito de se fazer passar pela atriz pornô (que de fato existe, mas nomes não vêm ao caso) e por sua suposta secretária, que fala português porque já teria participado de um programa de intercâmbio no Brasil. A história prosseguiu por quase dois meses além do ponto em que encerrei o artigo anterior. Nesse meio tempo (e sempre escrevendo em ótimo inglês para dar mais autenticidade à encenação), teceu toda uma teia de histórias, argumentações e dramas pessoais que me levaram a crer que eu realmente falava com quem achava que falava. Ainda que algumas peças do quebra-cabeças não encaixassem, foi tão criativo, convincente e rico em detalhes no desempenho das duas personagens que jamais passou por minha cabeça que alguém pudesse estar inventando aquilo tudo e por tanto tempo. Devo tirar o chapéu para sua encenação.

Mas, depois de algum tempo, ele decidiu encerrar o teatro. Confessou (em português mesmo) dizendo o que disse acima e acrescentou depois:

Me desculpe. Favor me perdoar. 🙁

Respondi-lhe:

Perdoar é algo que costumo fazer mesmo que não me peçam. É o que o Salvador ensinou e o que procuro fazer o melhor que posso.

Devo reconhecer que você foi bastante criativo em sua atuação, em cada detalhe. E me convenceu de que eu estava falando com quem achava que estava.

Não se preocupe, não me sinto ofendido. No fim das contas, sua brincadeira acabou servindo a um bom propósito, que foi provar minha determinação em me manter fiel a meus princípios e dar exemplo disso a outros.

Embora me sinta frustrado pela constatação da enganação, consegui extrair algum dividendo espiritual da criancice do “artista”. Se o caso tivesse sido real — para mim estava sendo —, o resultado teria sido rigorosamente o mesmo. Quando fazemos escolhas certas, aumentamos nosso poder e capacidade de fazer mais escolhas certas.

Ele, por outro lado, parece ter tirado pouco ou nenhum proveito da experiência. Na condição de ateu, veio tentar provar a inutilidade de minha fé em Deus pelo fato de Ele não ter me alertado que tudo não passava de uma farsa. “Se Deus fala com você, por que não te avisou?”, alfinetou.

Porque não era necessário. Eu não corria qualquer perigo e, no fim, ficaria sabendo a verdade. Se houvesse alguma ameaça iminente de qualquer natureza para a qual eu precisasse ser alertado, Ele o teria feito. Isso já aconteceu um sem número de vezes ao longo de minha vida.

Além do mais, o tempo todo em que falei com você crendo ser [a estrela pornô], eu estava pondo à prova minha fé, demonstrando ao Senhor o quanto estou comprometido com Ele e com o bem estar espiritual das pessoas com quem me relaciono.

Então, como eu disse, sua brincadeira acabou servindo a um bom propósito. Isso, e o fato de que eu acabaria sabendo a verdade, podem ter sido os motivos pelos quais não fui avisado.

Não satisfeito, tentou que eu provasse que Deus fala comigo impondo um teste: queria que eu perguntasse a Ele qual era seu nome. Se eu acertasse, então ele acreditaria. Ou seja, estava me pedindo um sinal. As escrituras nos dão exemplos do que pode acontecer a quem tenta o Senhor dessa forma (veja Jacó 7:13–20, Alma 30:48–60). O sujeito passou esse tempo todo me testando e não cedi, então não seria agora que eu iria pisar na bola.

Releia a mensagem sobre fé que lhe enviei. Quando você conseguir desenvolver fé, terá todas as provas espirituais que quiser, inclusive poderá saber por si mesmo se Deus efetivamente fala comigo ou não. É assim que as coisas de Deus funcionam: por meio da fé. Adivinhar seu nome não ajudaria você a desenvolver fé em Jesus Cristo — que é a exata razão pela qual Ele não me diria seu nome mesmo se eu perguntasse. E se fosse realmente necessário que eu soubesse seu nome para cumprir algum propósito Dele, eu já o saberia mesmo sem ter que Lhe pedir.

Eu estava tentando lhe ensinar que não devemos buscar sinais para satisfazer nossa curiosidade nem para apoiar a fé. Ao contrário, o Senhor dá sinais aos que crêem quando julga conveniente (ver D&C 58:64). Apesar disso, ele continuou insistindo que queria uma “pequena prova” para que acreditasse, uma “micro introdução”.

Respondi que a iniciativa tem que ser dele, não minha. “Não posso desenvolver sua fé, você é que tem que fazê-lo por si mesmo”, disse-lhe. E sugeri que experimentasse começar a orar e a ler as Escrituras para iniciar o processo de exercitar a fé.

Bom, faço isso depois. Não tenho nenhuma gibiblia aqui perto.

“Gibíblia” foi o trocadilho que usou para debochar da Bíblia, comparando-a a um gibi.

Triste, não?

Nem sei se adiantou mostrar-lhe versões online da Bíblia e do Livro de Mórmon caso tivesse interesse em lê-los, pois ele não respondeu mais.

Pelo menos a semente está plantada. Sou um otimista incorrigível. 😉

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22 comentários em “Nem tudo que reluz é ouro, já dizia minha avó

  1. Nossa, que história, heim, Todaro! Obrigado por compartilhar, aconselho todos a lerem. Realmente traz muita luz e compreensão do que é o “Mundo” e o “evangelho de Cristo” nas escrituras, duas coisas que não podem se misturar.

  2. Já tem bastante tempo que isso foi postado e vim parar aqui por um infortúnio, o pesquise como ganhar dinheiro usando um blog.
    Amigo, sua fé é maravilhosa e eu a admiro de verdade, sendo real ou não o caso citado você não retrocedeu e isso é o que importa; mas a respeito de Deus falar com você e o pior se referir a nosso senhor Jesus Cristo como Deus me deixa triste , pois percebo o quando esse ensino falso está arraigado nas pessoas, estou numa batalha contra alguns amigos sobre esse dogma enxertado no meio cristão por Constantino e seus concilios, por favor análise a história, use de dicernimento e veja que nosso senhor Jesus tem um papel maravilhoso no propósito de Deus.

    Amém meu irmão.

    1. Não tenho que analisar história, Gleison. Tenho que analisar apenas o testemunho que recebo do Espírito do Senhor. É por Ele que sei que Jesus Cristo é nosso Deus também, assim como o Pai, além de nosso Salvador e Redentor. História nenhuma é capaz de me dar essa confirmação. É por causa dela que sei que qualquer coisa que se afirme em contrário não pode ser e não é verdade. Você pode saber disso por si mesmo também, que quiser.

      Um abraço!

    1. Não entendi o que seu comentário tem a ver com o assunto do artigo.

      De qualquer forma, a Igreja nunca me matou e não acredito que algum dia o faça. 😉

  3. Eu dei risadas no primeiro artigo enquanto lia o que a “mente criativa” da “atriz” falava para tentar te convencer. E que final surpreendente!

    Bom, concordo contigo, algum dia, talvez o homem que te pregou a peça seja tocado pelo que houve e abra seu coração para o evangelho. Não custa ter esperanças, custa?

  4. Marcelo, essa história me fez lembrar os 40 dias de Jesus no deserto.

    A pornografia é um mal terrível, que hoje passa despercebido em muitas famílias. Todos ficam com aquele ar de “ah, mas o que tem de mal em uma revista”?

    Infelizmente, muitas mães e pais de família não pensam como você. Vide as famosas modelos que posam nuas até mesmo grávidas, ofendendo a honra não só delas, mas de seus filhos! E os pais que encorajam suas filhas desde a mais tenra idade a ganharem dinheiro com “fotos sensuais”. É tudo muito triste.

    Pena que a mocinha em questão não tenha aproveitado para conhecer de onde você tirou essa fortaleza!

  5. Filho, porque você fica procurando desculpa minha expressão, pêlo em ovo?
    Há tantas questõs mais para serem tratadas você fica com esse Robby de blog, tá vendo no que dá? Você foi traído pela mente de uma pessoa. Alguém se passou por uma atriz pornô que fala inglês, você em sua inocência acreditou e deu no que deu.
    Sei lá, não gaste seu tempo com isso.
    Há outras formas mais eficazes de contribuir com sociedade!

    1. Eduardo,

      De fato, há muitas formas de contribuir com a sociedade. Esta é só uma delas.

      O fato de eu ter sido enganado pela astúcia de um desocupado de forma alguma invalida toda ajuda que já pude dar a várias pessoas por meio do meu blog. Uma única má experiência não anula centenas de boas outras.

      Um abraço!

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