O caso Trump: Deus está escrevendo certo por linhas tortas?

Publicado em 1 de fevereiro de 2025 e atualizado em 2 de fevereiro de 2025

Antes de mais nada, quero deixar bem claro: eu detesto Donald Trump! Como pessoa, empresário ou político, considero-o indigno de minha confiança. Eu não votaria nele nem para síndico de condomínio.

Isto posto, também quero deixar claro que não gostar de Trump não significa que apoio quem lhe faz oposição nos sórdidos meandros da política. Tal como está, a política, na minha opinião, é um câncer que precisa ser extirpado.

Independentemente de minha opinião pessoal sobre Trump, é impossível ficar indiferente a ele, seja para o bem ou para o mal. Se Deus é soberano sobre todas as coisas, é inevitável questionar se Ele permite que certos líderes cheguem ao poder por um propósito maior, ainda que suas ações e conduta sejam reprováveis. Seria esse também o caso de Trump?

Mãe imigrante

Mary Anne MacLeod nasceu em 10 de maio de 1912 na ilha de Lewis, na Escócia, e emigrou para os Estados Unidos em 1930, em busca de melhores oportunidades. Vinda de uma família humilde, sua jornada refletia o sonho de muitos imigrantes que buscavam prosperidade na América. Ao chegar, trabalhou como empregada doméstica antes de se casar com Fred Trump, um promissor empresário do setor imobiliário. Sua trajetória moldou a criação de seus filhos, incluindo Donald John Trump, que mais tarde se tornaria presidente dos Estados Unidos, apesar de sua rígida postura em relação à imigração da qual sua própria mãe se beneficiou — se o país não tivesse acolhido sua mãe, hoje ele não seria seu presidente.

Donald nasceu em 14 de junho de 1946, no bairro do Queens, em Nova York. Criado como cristão na Igreja Presbiteriana, cresceu em um ambiente privilegiado, cercado de disciplina e expectativas elevadas. Ainda jovem, demonstrou comportamento rebelde, o que levou seus pais a matriculá-lo na Academia Militar de Nova York aos 13 anos, na esperança de incutir nele disciplina e autodisciplina. Na escola militar, Trump destacou-se nos esportes e no comando estudantil, experiências que mais tarde influenciariam sua postura competitiva nos negócios e na política.

Mentoria “saudável”

Um dos mentores mais influentes de Donald Trump foi Roy Cohn, um advogado implacável conhecido por sua abordagem agressiva e sem escrúpulos na defesa de clientes poderosos. Cohn, que havia sido assessor do senador Joseph McCarthy durante os infames julgamentos anticomunistas dos anos 1950, tornou-se conselheiro jurídico e amigo próximo de Trump nos anos 1970 e 1980. Ele ensinou ao jovem empresário uma estratégia que se tornaria sua marca registrada: nunca admitir erros, sempre contra-atacar e negar tudo, independentemente das evidências. Essa filosofia ajudou Trump a enfrentar processos, investigações e crises ao longo de sua carreira nos negócios e, mais tarde, na política, solidificando sua reputação como um negociador implacável e resistente a críticas.

A personalidade que Trump moldou para si atraiu todo tipo de crítica, dentre as quais:

  • Desonestidade – Trump é acusado de distorcer fatos, disseminar informações falsas e negar verdades inconvenientes, uma prática que se tornou um traço característico de sua comunicação política e empresarial.
  • Narcisismo – Muitos críticos apontam que ele demonstra um ego inflado e uma necessidade constante de validação, frequentemente se gabando de suas conquistas e recusando-se a admitir falhas.
  • Autoritarismo – Seu estilo de liderança agressivo, desrespeito por normas democráticas e tentativas de minar instituições independentes, como o judiciário e a imprensa, são preocupações recorrentes entre analistas políticos.
  • Impulsividade – Decisões precipitadas, declarações polêmicas no Twitter (antes de ser banido da plataforma) e reações exageradas a críticas evidenciam um comportamento errático que gerou instabilidade tanto nos negócios quanto na política.
  • Intolerância e retórica divisiva – Seus discursos frequentemente inflamam tensões raciais, políticas e sociais, atacando adversários, jornalistas e grupos minoritários, o que contribuiu para um ambiente de polarização extrema.
  • Vitimismo e paranoia – Trump frequentemente se apresenta como alvo de conspirações e perseguições injustas, reforçando a narrativa de que qualquer crítica ou investigação contra ele é motivada por interesses políticos e não por fatos concretos.
  • Falta de empatia – Muitas de suas declarações e ações foram interpretadas como insensíveis ou indiferentes ao sofrimento alheio, especialmente em crises humanitárias, como a pandemia da COVID-19.
  • Deslealdade – Apesar de exigir lealdade absoluta de aliados, Trump é conhecido por abandonar apoiadores e subordinados quando não os considera mais úteis, resultando em um alto índice de demissões e traições dentro de sua própria administração.

Tais características podem ter desempenhado um papel crucial em suas condenações judiciais. Sua recusa em admitir erros e sua tendência a desafiar regras o levaram a se envolver em práticas empresariais questionáveis, manipulação eleitoral e obstrução da justiça, resultando em múltiplas investigações e processos criminais. Além disso, sua impulsividade e confiança excessiva em sua impunidade o fizeram agir de maneira descuidada, acumulando evidências contra si, o que facilitou as condenações em tribunais.

Presidente e condenado

Apesar disso tudo, a eleição de Trump levanta questões sobre o eleitorado americano e o sistema do Colégio Eleitoral. Como um candidato com amplo histórico de desonestidade, falta de escrúpulos e retórica divisiva conseguiu conquistar a presidência?

Parte da resposta está na eficácia de seu discurso populista, na insatisfação popular com a política tradicional e no apelo a eleitores que se sentiram representados por sua postura anti-establishment. Além disso, o próprio sistema eleitoral dos EUA, no qual um candidato pode vencer sem a maioria do voto popular, possibilitou sua ascensão, desafiando o conceito de democracia representativa e ampliando o debate sobre os limites e falhas do modelo eleitoral americano.

Talvez Trump considere o fato de ser o primeiro presidente judicialmente condenado da história do país como só mais um troféu em sua parede.

Fé e conduta

Nunca é demais lembrar que Trump foi criado como cristão numa igreja evangélica. Seria de se esperar que um líder que verdadeiramente busca seguir a Deus reflita características como humildade, honestidade, justiça e amor ao próximo, princípios fundamentais ensinados pelas escrituras sagradas. Também que seja seja íntegro em suas palavras e ações, promova a paz em vez da divisão, reconheça seus erros com humildade e governe com retidão, buscando o bem comum acima dos próprios interesses. Em contraste, a trajetória de Trump tem sido marcada por orgulho, desonestidade, retórica agressiva e busca incessante pelo poder e pela autopromoção — a antítese de tudo que o evangelho de Jesus Cristo apregoa.

Até que ponto um líder que age assim pode ser um instrumento de Deus? Ou ele é, na verdade, apenas um reflexo do povo e do sistema que o elegeram?

Desígnios divinos

Há diversos exemplos nas escrituras de líderes iníquos que, mesmo sem serem justos ou tementes a Deus, foram usados como instrumentos para cumprir Seus propósitos. Alguns dos mais notáveis são:

  • Faraó do Egito – No relato do Êxodo, o faraó que escravizou os israelitas e lhes negou a liberdade mesmo após múltiplas pragas foi, de certa forma, usado por Deus para demonstrar Seu poder e cumprir Sua promessa a Israel (Êxodo 9:16). Deus permitiu que o faraó endurecesse o coração contra o povo de Israel para que, no final, o êxodo fosse um evento marcante na história do povo.
  • Rei Nabucodonosor – O rei da Babilônia, que destruiu Jerusalém e levou os judeus ao exílio, é descrito como um instrumento de Deus para disciplinar Israel devido à sua idolatria e infidelidade (Jeremias 27:6). No entanto, mais tarde, Nabucodonosor reconheceu o poder de Deus após passar por uma humilhação pessoal (Daniel 4:34-37).
  • O rei da Assíria – Deus usou a Assíria como instrumento para punir Israel e Judá por sua infidelidade (Isaías 10:5-6). O rei assírio, porém, era arrogante e acreditava que suas conquistas eram fruto de sua própria força. Mais tarde, Deus declarou que julgaria a Assíria por sua crueldade e soberba (Isaías 10:12-15), mostrando que mesmo líderes iníquos podem ser usados para cumprir propósitos divinos, mas não ficam impunes por seus atos.
  • Ciro, rei da Pérsia – Diferente dos anteriores, Ciro é citado positivamente em Isaías 45:1 como “ungido do Senhor”, apesar de ser um rei pagão. Deus o usou para permitir que os judeus retornassem do exílio e reconstruíssem o templo em Jerusalém, mesmo que Ciro não adorasse a Deus da forma como faziam os israelitas.
  • Pôncio Pilatos – O governador romano que autorizou a crucificação de Jesus foi um líder fraco e oportunista, mas seu papel foi essencial no cumprimento do plano divino de redenção (João 19:10-11). Jesus afirmou que Pilatos só tinha autoridade porque ela lhe fora dada “de cima”.

Esses exemplos mostram que Deus pode permitir que líderes injustos governem para cumprir propósitos maiores, seja como meio de disciplinar um povo, testar sua fé ou preparar o caminho para eventos futuros (quero enfatizar bem essa parte). Isso sugere que, mesmo diante de governantes de caráter desprezível, há espaço para o cumprimento da vontade divina dentro do princípio eterno do livre arbítrio.

Quem conhece o evangelho de Jesus Cristo talvez consiga ver em alguns dos primeiros atos de Trump em 2025 o possível cumprimento de alguns desígnios divinos em preparação para eventos futuros. Não vou citar quais desses atos cumprem esses desígnios para evitar mais polêmicas e mais polarização, coisas de que já estamos saturados. Mas, por mais que eu deteste admitir, consigo ver Trump sendo usado por Deus com esse propósito. Eu gostaria muito que fosse outro no lugar dele, mas, como dizia meu pai em minha infância, “já que não tem tu, vai tu mesmo”.

Seja Trump um instrumento nas mãos de Deus ou apenas o reflexo de uma sociedade moralmente encardida, o fato é que sua presença no poder desperta questionamentos inevitáveis sobre os rumos do mundo e os propósitos divinos por trás disso tudo. Estaríamos testemunhando um plano maior se desenrolar ou apenas colhendo os indeléveis resultados da manipulação da opinião pública em um jogo egoísta de poder?

Qualquer que seja o caso, o previsível desfecho é um só: “aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado” (Mateus 23:12). É só uma questão de tempo.

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11 comentários em “O caso Trump: Deus está escrevendo certo por linhas tortas?

  1. Estamos vivendo em um momento da história que não será possível fazer a curva! As coisas devem seguir seu destino. Quando Pedro tentou defender Jesus de seus algozes, o próprio Cristo o repreendeu, como se dissesse: “Pedro, as coisas tem que acontecer, o Filho do Homem tem que morrer para que se cumpra os desígnios de Deus”.

    O que sei é que Deus é soberano e conhece todas as coisas.

    1. Trump já produziu alguns escândalos desde que reassumiu. Alguns reconheço que eram necessários para cumprir propósitos do Senhor, mas outros não.

      Complemenentando você, o Senhor também disse: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é necessário que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18:7)

      Já preparei a pipoca e o guaraná. 😉

  2. Olá, Marcelo entendo seu ponto de vista mas gostaria de talvez mostrar o benefício do governo de Trump de um outro ponto de vista. Eu moro nos EUA, sou cristão e tenho 4 filhos pequenos. Sendo cristão é de se revoltar vendo a agenda do Partido Democrata, o oposto de Trump, em assuntos que são importantes para nós cristãos. Eles defendem o aborto e idealizam a causa LGBT. Aqui em muitas escolas, em estados democratas, as escolas são proibidas de relatar aos pais quando as crianças apresentam algum comportamento ou dúvida sobre gênero. A escola oferece apoio, muitas vezes contrários as crenças dos pais, sem ciência dos pais. E existem casos em que passam por cirurgias de gênero sem a ciência dos pais. Presenciei na escola de meus filhos o ensino de tais ideologias. Não estou dizendo que o Trump é o melhor candidato, mas com certeza o Partido Republicano, do qual Trump faz parte, tem valores mas próximos ao que eu valorizo como cristão. É tão verdade que o Estado de Utah é um estado conhecido como vermelho, onde a maioria vota no Partido Republicano, geralmente independentemente do candidato. Isso se dá devido aos valores conservadores do Partido Republicano.

    1. Obrigado por oferecer sua perspectiva, Igor. Pelo que você relatou, escolher entre um lado e outro é como escolher qual demônio é menos maligno. Eu não teria escolhido nenhum dos dois, como, aliás, fiz quando me vi na necessidade de escolher entre Lula e Bolsonaro. Se não há candidato que eu considere bom o bastante, prefiro não votar em nenhum do que no “menos ruim”.

      Mas, até pelo que você contou, acredito que Trump, mesmo sem saber ou querer, pode estar cumprindo um propósito superior. Só o tempo vai dizer. Mas eu de jeito nenhum teria votado nele.

      Um abraço!

  3. Para mim o retorno e a vitória de Trump como presidente dos USA é um marco histórico que mostra o momento em que o poder da mídia especializada como formadora de opinião entra em colapso. Durante meses a mídia ficou batendo em Trump, claramente preferindo e defendendo seu adversário político. Boa parte da população cansou e parou de escutar o que aquela mídia constantemente lhe empurrava como politicamente correto e como ela deveria se comportar. A população cansou que uma agenda “woke” estivesse sendo empurrada goela abaixo, cansou de ouvir dizer coisas como “sexo não é uma condição biológica, mas uma mera convenção social que poderia ser alterada”, etc. Quando Trump se elege, as mesmas grandes organizações que gastam em marketing e sustentam essas grandes redes de mídia perceberam que estavam pondo seu dinheiro onde a população americana estava fazendo ouvidos moucos. Começando com as empresas de Elon Musk (o homem mais rico do mundo), e depois sendo acompanhado por Bezos (2o homem mais rico do mundo), Zuckenberg e várias outras grandes empresas do vale do Silíco, a agenda “woke” começa a ser abandonada.

    1. Que é um marco histórico ninguém tem dúvida. Que Trump está desmontando a agenda woke, também, e isso está implícito nas entrelinhas de meu artigo.

      Eu só gostaria que essas coisas estivessem acontecendo por meio de alguém que não me obrigasse a engolir 10 defeitos para cada virtude, que não fosse tão Pônico Pilatos, tão “mal necessário”. Mantenho o que disse sobre jamais votar em alguém como Trump. No caso do Brasil, por exemplo, tendo sido obrigado a escolher entre Lula e Bolsonaro, escolhi nenhum dos dois. É o que eu faria se fosse eleitor lá também. Agir diferente seria trair minha consciência diante de tudo que sei sobre o evangelho, sobre decência ética e moral e sobre dignidade. Eu não voto em candidato “menos pior”. Ou ele está em um nível que eu considere aceitável, ou jamais terá meu voto, mesmo que não reste mais ninguém em quem votar.

  4. Prezado Marcelo Todaro,

    Li atentamente seu artigo e gostaria de compartilhar algumas reflexões que, acredito, podem contribuir para um diálogo mais amplo sobre essa temática tão desafiadora e instigante.

    PS: Um dos Lideres da igreja nos ensinou num serão que Deus sempre escreve certo por linhas certas… com ele não tem nada torto 🙂

    Reconhecimento da Complexidade dos Acontecimentos:
    Seu texto nos convida a olhar para os eventos políticos e sociais com um olhar que transcende o imediatismo e o aparente caos. De fato, a ideia de que “Deus escreve certo por linhas tortas” nos remete à compreensão de que, mesmo quando a realidade parece desordenada, pode haver uma ordem maior, muitas vezes além do alcance de nossa lógica limitada. Essa perspectiva, longe de minimizar as dificuldades, nos desafia a confiar que, em meio às adversidades, existe um propósito que pode transformar nossos desafios em aprendizados.

    Integração entre Fé e Razão:
    Ao abordar a intervenção divina na história, você reforça a importância de equilibrar o entendimento racional com a fé. Como bem pontua a passagem bíblica em Romanos 8:28 – “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” – somos lembrados de que, mesmo nos momentos de incerteza, há um propósito subjacente. Essa harmonia entre fé e razão nos encoraja a adotar uma postura de humildade, reconhecendo que nossa compreensão é limitada e que, muitas vezes, o que parece um desvio pode ser, na verdade, parte de um caminho maior.

    O Papel Transformador dos Desafios:
    Os desafios que vivenciamos no cenário político e social podem ser encarados como oportunidades de crescimento interior e de transformação coletiva. Ao perceber os “caminhos tortos” como elementos fundamentais de uma trajetória que visa a evolução, somos convidados a desenvolver a resiliência e a paciência necessárias para construir um futuro mais justo e esperançoso.

    Convite à Reflexão e ao Diálogo:
    Sua abordagem abre espaço para um diálogo enriquecedor, onde diferentes perspectivas – espirituais, filosóficas e políticas – podem se encontrar. Essa intersecção de visões nos permite compreender que a complexidade do mundo não pode ser reduzida a uma única narrativa, mas sim interpretada por meio de múltiplos olhares que, juntos, ampliam nossa capacidade de compreender e transformar a realidade.

    Agradeço pela provocação intelectual e espiritual que seu artigo proporciona. Acredito que essa visão, que une a confiança em uma ordem divina com a busca por entendimento racional, é fundamental para enfrentarmos os desafios atuais. Que possamos continuar esse diálogo de forma aberta, sempre dispostos a aprender com as adversidades e a reconhecer que, mesmo por linhas tortas, o caminho pode nos levar a um bem maior.

    Com apreço e respeito…

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