O dia em que fui atalaia de um apóstolo

Publicado em 24 de maio de 2008 e atualizado em 10 de janeiro de 2024

Elder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos

Este é mais um daqueles relatos especiais que, por ser tão rico em detalhes, faz-me sentir perdido em meio a eles.

Quando soube que um Apóstolo do Senhor Jesus Cristo nos visitaria, meus pensamentos e sentimentos imediatamente remeteram-me à lembrança de quando tive meu primeiro contato pessoal com um deles, na missão. Mas eu jamais poderia imaginar que, desta vez, o contato seria tão pessoal.

Como membro do sumo-conselho de minha estaca, uma de minhas responsabilidades é fazer funcionar o comitê de recepção e segurança das conferências de estaca. Meu presidente designou meu bispo — oficial graduado da polícia militar — e eu para fazer a segurança pessoal do Élder David Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos.

Para ser sincero, até agora a ficha não caiu direito. Eu, segurança de um apóstolo! Um pequeno vislumbre desse privilégio foi dado por uma irmã de quem fui mestre familiar, que me mandou e-mail dizendo:

Seguem algumas fotos do jantar no qual você foi segurança de Élder Bednar. Quero que as guarde como lembrança e que possa afirmar a sua posteridade que você não aparece nas fotos porque estava literalmente servindo como atalaia de um Apóstolo do Senhor Jesus Cristo. Que benção!!

É, parece que foi mesmo. 🙂

O jantar ao qual ela se refere aconteceu no intervalo de cerca de uma hora e meia entre a palestra dele com os missionários e a devocional para os membros das quatro estacas da cidade. Nossa capela, na qual também funciona a sede do Instituto de Religião, tem uma área de lazer dotada de copa/cozinha no primeiro andar, ambiente onde o jantar foi servido para Élder e Sister Bednar e algumas famílias convidadas (lamento que a foto não esteja mais nítida, foi assim que a recebi).

Observando do lado de fora, meu companheiro-bispo-policial me chamou a atenção para a atitude de Élder Bednar, que não se serviu para jantar senão após todos terem-no feito antes dele, sua esposa inclusive. “Aí está um verdadeiro líder: aquele que serve em vez de ser servido”, comentou.

Apesar de estarmos atuando como seguranças pessoais de Élder Bednar, meu companheiro e eu não participamos desse jantar. Para entender porquê, é preciso primeiro fazer algumas colocações.

A segurança exigida em eventos como conferências de estaca limita-se a assegurar que não há estranhos “de bobeira” nas dependências da capela. Como todos os membros e visitantes entram para participar da conferência, geralmente a parte externa do edifício fica deserta. Se os portões forem deixados abertos, a ocasião pode ser a oportunidade perfeita para arrombadores de carros, vândalos e outros amigos do alheio. Por isso, os portões costumam ser fechados no início das sessões. Essa é toda preocupação que preciso ter como encarregado da segurança. É uma tarefa que qualquer pessoa pode desempenhar, mas alguém tem que fazê-la.

Tendo eu sido designado como responsável pela recepção e segurança desse tipo de evento, meu bispo se colocou na posição de agir sob minha direção no desempenho dessa função. O detalhe é que não tenho qualquer experiência nessa área. Ele, por outro lado, como oficial da polícia militar responsável pela mediação de conflitos e segurança de personalidades e autoridades civis, tem conhecimento e experiência que seria até covardia comparar aos meus (nenhum). Ainda assim, reconhecendo a linha de autoridade das designações atribuídas por nossa presidência de estaca, colocou-se na posição de agir sob minha liderança. Eu não sabia exatamente como poderia liderá-lo nessa área, por isso eu lhe disse: “suas sugestões são uma ordem”.

Assim, foi seguindo sua sugestão que nos mantivemos do lado de fora da sala onde foi oferecido o jantar a Élder e Sister Bednar e convidados. Primeiro, porque a lista de convidados não nos incluía. Segundo, porque estávamos “de serviço”. O serviço foi a justificativa que demos — ou melhor, que meu companheiro deu e para a qual eu disse “amém” — para não aceitar o convite posterior feito pelo presidente da estaca para adentrarmos a sala e participarmos do jantar e também para recusarmos a oferta de refrigerantes feita pela mesma irmã do e-mail citado acima.

A voz da experiência de meu companheiro prevaleceu também no que se referia ao mais importante momento de nosso serviço: o discurso de Élder Bednar. Por sugestão de meu companheiro, ficamos em pé, um em cada extremo do púlpito, guardando o acesso a ele. Nos deslocamentos do apóstolo dentro da capela e no acesso ao carro, fomos sempre um à frente e outro atrás dele. Felizmente, os membros se comportaram exemplarmente e não foi preciso interceder na prevenção de qualquer inconveniência.

Contando todo o tempo em que estive a serviço de Élder Bednar, foram quase quatro horas em pé, sem descanso. Meu companheiro, já macaco velho nesse galho, disse que não estava sentindo nada. Em mim, da base da coluna para baixo, doía tudo. Mas pergunte-me se eu estava reclamando! Por algumas horas tive o sagrado privilégio de ser a sombra de uma testemunha especial do Salvador. Teria valido a pena até dar a vida por ele, se preciso fosse.

O Quórum dos Doze Apóstolos, em maio de 2008. Em pé, da esq. p/ dir.: Richard G. Scott, Robert D. Hales, Jeffrey R. Holland, David. A. Bednar, Quentin L. Cook e D. Todd Christofferson. Sentados: Boyd K. Packer, L. Tom Perry, Russel M. Nelson, Dallin H. Oaks, M. Russel Ballard e Joseph B. Wirthlin.

Em seu breve discurso, Sister Bednar fez um resumo de como tem sido a vida do casal desde quando o marido foi chamado para integrar o Quórum dos Doze. Segundo ela, eles praticamente não sabem mais o que é ter um lar, pois passam mais tempo fora, viajando pelo mundo visitando membros, alas, estacas e missões, do que em casa. Foi particularmente interessante o trecho em que ela disse:

Conheço as virtudes e as fraquezas de meu marido. Sei que ele tem o manto apostólico sobre si. Vou prestar atenção ao que vai dizer em seu discurso depois de mim para aprender mais com ele.

Como se não bastasse essa notável manifestação de fé e humildade expressa em palavras, ela o fez também em atos durante o discurso do marido. Como eu estava próximo a ela, pude ver que, quase o tempo todo, tomou nota de tudo que ele dizia. Achei aquilo impressionante! Sublime! Que exemplo de humildade de uma esposa diante do chamado apostólico do marido!

Não era para menos. Em cerca de uma hora de um discurso proferido sem qualquer roteiro escrito e baseado unicamente em seu conhecimento, experiência e inspiração, Élder Bednar destilou sobre nós mais doutrina e conselhos apostólicos do que já fui capaz de assimilar a vida inteira. Mas nem foi isso o que me chamou mais a atenção. Enquanto eu o ouvia falar, fui possuído pela penetrante certeza de que aquele verdadeiramente era uma testemunha especial do Salvador. Para sê-lo, é preciso conhecer o Salvador pessoalmente, “face a face, como qualquer fala com o seu amigo” (Êxodo 33:11). Sim, pois, se assim não fosse, ele não poderia ser uma testemunha especial do Salvador. É especial porque já conquistou o direito de receber o Segundo Consolador, que é o Salvador Jesus Cristo em pessoa (veja João 14:18, 21, 23; D&C 130:3), e foi chamado para prestar testemunho de Sua divindade e ressurreição dos mortos (veja Atos 1:22; D&C 107:23). Eu não precisaria ver isso com meus próprios olhos para saber que Élder Bednar é uma das doze testemunhas especiais Dele hoje em dia. Se alguma vez houve uma oportunidade em que o Espírito do Senhor me revelou essa verdade de modo penetrante e contundente, sem deixar margem para a menor das dúvidas, foi naquela noite sagrada. Senti um pouco do espírito do Reino Celestial nas palavras daquele homem: paz, alegria, mansidão, bondade, santidade, reverência, obediência, humildade, fé. Tudo isso e muito mais foi o que ele conseguiu transmitir com seus discurso inspirado. Não há como eu possa duvidar de seu chamado apostólico dado pessoalmente pelo Deus Todo-Poderoso.

Em seu discurso, Élder Bednar nos ensinou muitas preciosidades espirituais. Começou dirigindo-se aos visitantes não-membros. A eles, testificou sobre a missão divina do Profeta Joseph Smith de uma forma que, como num filme, quase foi possível ver as cenas que descrevia. Explicou porquê a Igreja original de Jesus Cristo caiu em apostasia e porquê seria necessário que fosse restaurada antes da Segunda Vinda do Salvador. E prestou testemunho de que esta é Sua Igreja restaurada e de que Deus, como sempre fez, fala aos homens por meio de profetas como o que Ele colocou na presidência de Sua Igreja.

Aos membros, Élder Bednar falou sobre revelação pessoal (como obtê-la e reconhecê-la) e obediência (devemos aprender a amá-la), dentre muitos outros detalhes que me é impossível lembrar com minha mente limitada e imperfeita. O curioso é que o espírito perfeito que habita dentro de mim lembra-se perfeitamente do que sentiu ao ouvir o discurso de Élder Bednar: aquela sensação de estar de volta ao lar celestial de onde veio.

Como teria tudo isso sido possível se esta não fosse a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo?

Eis porque em minha vida já movi montanhas para estar onde estou e fazer o que fiz. Quem me conhece de perto sabe o que já tive que passar para chegar onde cheguei. Eu jamais teria tido a força e o incentivo necessários para tanto se não tivesse a mais absoluta certeza de que a causa vale a pena pela perspectiva da eternidade. Ninguém poderia me dar essa certeza senão o próprio Deus dos Céus e da Terra. Por nada nem ninguém mais valeria a pena o sofrimento e o sacrifício. Eis porque prefiro arder na agonia do inferno a negar o testemunho que me foi dado por meu tão amado Pai Celestial através de Seu Espírito. Prefiro a morte a estar em outra igreja ou a levar outra vida. Isso explica porquê, em cada uma de minhas orações, digo ao Pai “obrigado” pela Igreja e pelo Evangelho Restaurado em minha vida, quase como se isso fosse um ritual. É porque, realmente, eu não poderia querer maior bênção em minha vida e na de minha família. Bendito e louvado seja nosso Pai Celestial!

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10 comentários em “O dia em que fui atalaia de um apóstolo

  1. Muito poderoso o último parágrafo de seu post. Seu testemunho engradece nossa fé, e que você possa sempre saber, e lembrar-se destes sentimentos nessas ocasiões especiais, de que é um Atalaia e também uma luz para muitos nesse mundo virtual.

  2. Irmão Marcelo, parabéns pela experiência e pelo relato, o segurança (Policial Civil) ao qual você se referia era eu, infelizmente, no dia eu estava trabalhando e não pude comparecer, talvez não tenha uma outra oportunidade pois esse foi um momento raro e você (creio eu) foi escolhido para compartilhar desse momento. abraços…

  3. Como teria tudo isso sido possível se esta não fosse a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo?

    É a pergunta que me faço, com lágrimas nos olhos de emoção, sempre que vivo ou fico sabendo de grandes e pequenos milagres do dia-a-dia. É a pergunta que me faço quando sou fortalecida com testemunhos como o seu, Marcelo. É a pergunta que me faço sempre!

    A resposta é sempre a mesma: não, não seria possível.

    A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos é o reino de Deus na terra hoje. Ela foi restaurada entre os homens, assim como foram restaurados o poder e a autoridade do sacerdórcio, que realiza ordenanaças sagradas e essenciais à salvação de pessoas e à exaltação de famílias. O Senhor nos fala através de um profeta vivo, Presidente Thomas S. Monson, e dos apóstolos, entre os quais está o inspirado e sábio Élder Bednar.

    Obrigada, Marcelo, por compartilhar! 🙂

  4. Irmão Marcelo,

    Obrigada por compartilhar essa experiência tão especial. É um privilégio quando podemos reconhecer as bênçãos que o Senhor nos concede. Com certeza essa foi uma grande bênção.

    Fico feliz que você tenha tirado o melhor proveito dela e magnificado esse chamado tão simples e importante ao mesmo tempo. Assim funcionam as coisas do Senhor.

    Um abraço!

  5. Olá Marcelo!
    Que bom essa experiência com um apóstolo do Senhor que vc teve.Na minha missão eu também já tive duas aportunidade dessas, com elder Scott e Robert D. Hales.
    Um abraço

  6. Obrigada por lembrar-me do motivo pelo qual aceitei este evangelho em minha vida!!! foi tocante seu relato ao proferir que preferia a morte do que ter outra vida!!

    Obrigada!!!

  7. Prezado Irmão,

    O seu testemunho foi transmitido de maneira sublime. Assim como você colocou as palavras do Élder Bednar: cenas de um filme, onde foi possível ver as cenas…

    Senti tamanha alegria e chorei por isso. Que felicidade é sentir o Espírito Santo confirmar essas verdades.

    Obrigada, por ajudar-me no fortalecimento do meu testemunho.

  8. Fico honrada em saber que o élder que me batizou serviu como atalaia de um apóstolo. 🙂

    Parabéns!

    Creio que estas e outras são as bênçãos de ter feito uma missão honrosa.

    Seja sempre muito abençoado.

    Márcia Gomes (Porto Alegre)

  9. Meu grande e bom amigo Marcelo, sentei-me agora pra trabalhar mas quando vi seu e-mail não pude continuar sem entrar no seu blog e dar uma lida.

    De fato uma experiência sublime e única em sua vida, gosto muito do jeito simples e direto do Elder Bednar.

    Antes quando ainda era possivel no geral quase todos os missionários tinham o prazer de ter uma visita de um apóstolo, porém eu em minha missão não tive esse privilégio, quando eu parti para o campo missionário eu acha que teria o prazer de ver um apóstolo; quando eu estava no CTM um dia depois de minha saida para o campo tivemos a presença do Elder Scott, ele veio para um seminário de presidentes de missões, fez o seminário visitou as missões de São Paulo e depois quando ele foi para o CTM eu tive que ir para o campo. 😉

    Sei que no devido tempo eu verei de longe ou mesmo perto seja como for que o Senhor me permita.

    Assim como você sei que eles são homens chamados por Deus para nos guiarem e nos ajudarem a ser como o Salvador também é.

    Parbéns pela experiência e muito obrigado por fazê-la de nosso conhecimento.

    p.s: “Chorei ao ler seu relato!” 😉

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