Minha Missão de Tempo Integral: Porto Alegre, abril de 1986

Publicado em 1 de janeiro de 2007 e atualizado em 27 de fevereiro de 2024

Meu primeiro companheiro júnior e eu
Meu primeiro companheiro júnior e eu

Fui transferido no início do mês, ganhando o novo chamado de sênior que tanto queria. Ganhei também meu primeiro companheiro americano, Elder Bagley, que está há apenas dois meses na missão e no Brasil.

Logo deu para sentir o peso da responsabilidade de ser sênior. Dirigir o trabalho e tomar decisões não é fácil, especialmente quando o companheiro fala pouco o português. Carga e desgaste são maiores.

Num daqueles dias encontramos na rua um homem bêbado que ameaçava se suicidar. Parou-nos dizendo já ter conhecido outros missionários e dizendo também outras coisas sem sentido, repetindo o tempo todo que queria morrer. Como não lhe demos muita atenção, começou a gritar e proferir palavrões. Assustado, dei-lhe as costas e chamei meu companheiro para irmos embora.

Mas não fomos muito longe. O mal estar espiritual que senti por isso foi tamanho que não tive escolha senão voltar. O homem estava a nos perseguir, insistindo que queria que fôssemos à sua casa. Acabamos indo.

Lá, desabafou tudo o que queria e, um pouco mais sóbrio, disse: “Se não tivesse encontrado vocês, já teria me matado”. Foi quando senti um enorme frio na espinha. Se não tivéssemos voltado para reencontrá-lo, talvez o mundo espiritual contasse agora com mais um habitante. Que estupidez a minha! Ofendi-me porque um bêbado nos dirigiu algumas palavras grosseiras quando, na realidade, aquela era uma agonizante súplica por socorro vinda de um espírito que nos reconheceu. No fim, quase sóbrio, prometeu nos esperar dias depois.

Dias depois, também, meu companheiro caiu doente. Pediu-me que lhe desse uma bênção do sacerdócio. Durante a bênção, senti claramente que as palavras que proferi vinham do Alto. Como meu companheiro é estrangeiro e ainda não entende bem o português, preocupei-me em saber se havia compreendido as palavras da bênção. Respondeu: “O mais importante é que eu as senti”. Seu sentimento enquanto recebia a bênção provavelmente foi igual ao meu enquanto a administrava. Verdadeiramente senti que as palavras não vinham de mim mesmo, pois não sabia de antemão o que dizer. Além disso, eu disse coisas que nem sequer imaginava ser capaz de dizer numa bênção.

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