Minha Missão de Tempo Integral: Rio Grande, novembro de 1985

Publicado em 1 de janeiro de 2007 e atualizado em 27 de fevereiro de 2024

Eu, ao pé de uma frondosa árvore no centro de Rio Grande
Ao pé de uma frondosa árvore no centro de Rio Grande

A época de vacas magras em Pelotas havia passado. Tantas eram as referências e famílias novas para ensinar que não estávamos dando conta. Em consequência, no dia 10 batizamos mais cinco pessoas.

Nove dias depois, um fato raro: meu companheiro e eu fomos transferidos juntos para uma nova área, permanecendo como companheiros. Juntamo-nos à dupla que já havia na área e com eles dividimos uma casa que, de tão minúscula, não permite que eu chegue à minha cama sem passar por cima de nossas mesas. Tivemos muito trabalho tentando arrumar tudo, mas não conseguimos devido à falta de espaço.

Fora o trabalho duro, o mês nos reservou o falecimento do profeta e presidente da Igreja, Spencer Wolley Kimball, idoso e muito doente. Seu falecimento já era esperado, mesmo assim causou surpresa. Que descanse em paz. Nosso profeta agora é o Élder Ezra Taft Benson.

Num daqueles dias, meu companheiro aprontou uma que me enfureceu, exigindo de mim muito auto-controle e uma considerável dose de paciência. Quando percebi que a raiva me levaria a fazer uma besteira, comecei a cantar um hino. É incrível como o cântico apazigua os sentimentos e traz paz. Ele não ficou em paz, mas eu fiquei.

Dentre todas as boas experiências espirituais que estamos tendo destaco uma como das de maior importância. Ao chegarmos à casa de uma família recém-conversa para visitá-la, o casal discutia asperamente por causa de uma banalidade. Depois de ouvirmos o desabafo de ambos, apaziguamos os ânimos, abençoamos a família e acabamos com o problema. O Espírito veio e transformou o ambiente antes pesado e triste em leve e aconchegante.

Tais experiências são relativamente frequentes em nosso trabalho. O presidente me disse certa vez: “Você veio à missão para ser plenamente convertido ao evangelho restaurado”. Não dá para não se converter passando por tais experiências.


Um jornal de grande circulação na cidade publicou um poema de um padre no qual critica a própria igreja e nos toma como exemplo:

Eu te exorto
diante de Jesus Cristo:
PREGA a Palavra,
consagra-te a esse ministério (Tim 4:1, 2 e 5).

Entre os católicos,
tirando os que o fazem
por “missão” ou por “obrigação”,
quem é que se consagra
ao ministério da Palavra?

Os mórmons,
os Pregadores Populares
das nossas praças,
do rádio e da tevê,
nos envergonham.
Eles, em duas, três escovadas,
de Bíblia,
já saem falando
com uma convicção
que nos faz inveja.
Deixaram a vergonha
em casa.
São ativos,
falam, pregam,
gesticulam,
atraem,
convencem.

Alguns os chamam
de fanáticos,
mas é para esconder
a própria vergonha.
Podemos dizer deles
que, quando os católicos
fecham uma porta,
Deus abre duas janelas.

Na parábola dos “Trabalhadores da Vinha”,
Jesus sai às cinco da tarde
e encontra na praia
gente de braços cruzados
e de papo enorme,
e lhes pergunta direto:
“Por que estão todo o dia
sem fazer nada?” (Mateus 20:6)

Não eram desempregados,
eram preguiçosos mesmo.
Trabalho por toda a parte,
trabalho urgente,
plantações se perdendo,
gente necessitada,
e eles aí, de papo pro ar…

Quem seriam, hoje,
esses ociosos da praça
(para não dizer “preguiçosos”)?

Como pode ser que,
sentados num tesouro
estejamos choramingando?
Alheios à salvação ou à perdição
de nossos irmãos?
Por que os mórmons,
os pregadores populares
têm mais coragem do que nós?
Onde está a diferença?
Talvez seja mais cômodo
assistir de camarote
ao fracasso do Evangelho?
Que é que nos amarra
a boca?

“Eu te exorto
diante de Jesus Cristo:
prega a palavra,
consagra-te a esse ministério”.

O dia está apenas raiando:
ainda podemos ser
operários da primeira hora
da vinha do Senhor.

(Jotaesse)

Além da alegria de ver que nosso trabalho estava sendo reconhecido pela comunidade, me alegrei também porque fui transferido de novo — apenas duas semanas após receber a última transferência —, mas desta vez vou sozinho. Minha nova cidade é Alegrete.

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