Publicado em 9 de maio de 2008 e atualizado em 29 de fevereiro de 2024
“O Jornal Nacional vai ser interrompido agora pela propaganda partidária obrigatória”, anunciou William Bonner, decorridos 15 minutos da edição de ontem do telejornal. Eu estava jantando e, por curiosidade, resolvi assistir ao programa do Partido Republicano Progressista (PRP). Seriam só 5 minutos mesmo. Mas, nos 5 minutos a que teve direito, o PRP não conseguiu dizer nada que me convencesse. “Por que devo acreditar neles?”, pensei. “Em quê são diferentes do resto?”
Juro que, às vezes, assisto esses programas na esperança de encontrar alguma luz no fim do túnel político, qualquer coisa que me entusiasme, me faça crer que algo pode mudar e arranque um voto de mim. Não um voto consternado pelo caráter repressoramente obrigatório de um ato que deveria ser espontâneo, mas um voto seguro de que o ilustre dignitário em quem deposito minha confiança não a trairá nos sórdidos meandros da política nacional. Até o momento não tive esse prazer.
Há muito me sinto atraído pela política. A mais remota lembrança que tenho disso remonta a meados da década de 1980, ainda estudante de engenharia elétrica no Campus II da Universidade Federal da Paraíba, em Campina Grande. Procurei o diretório local do antigo Partido Liberal (PL) — depois convertido em Partido da República (PR) após fusão com o PRONA do prosaico Enéas Carneiro — para me informar sobre filiação e possível candidatura a vereador. Na época, o PL representava a corrente política de centro-direita com a qual até hoje me identifico. Não lembro o que deu errado em meus planos, mas o fato é que não me candidatei nem me filiei ao PL.
A idéia de atuar na vida política nunca deixou de me parecer atraente. Sempre achei fascinante a dinâmica do trabalho legislativo em todas as esferas e sempre me senti à altura do desempenho de um trabalho relevante nesse cenário. Não levei a idéia adiante por causa do sentimento de inadequação ao processo eletivo, especialmente no que diz respeito ao financiamento de campanhas. Sem apadrinhamento político nem varinha de condão para fabricar dinheiro para financiar uma campanha, achei melhor esquecer o sonho político. Não era para meu bico.
Foi por isso que, quando minha mulher sugeriu que me filiasse a um partido e concorresse a um cargo público nas eleições de 2002, a idéia — que andava confinada aos sombrios subterrâneos de minha embolorada memória — a princípio não despertou nenhum entusiasmo. Mas, por algum motivo, daquela vez havia como que um martelete em minha mente tentando desenterrá-la. Passei várias semanas pensando nisso com incomum insistência. Voltaram os sentimentos de atração pelo trabalho legislativo e o desejo de fazer uma diferença positiva na vida da sociedade maior que a possível de ser feita como mero cidadão comum. A mim pareceu especialmente vantajoso o fato de que, empenhado em cumprir os mandamentos do Senhor e os convênios que fiz com Ele no batismo e no templo, eu talvez pudesse debutar na vida política desfrutando do privilégio de gozar da companhia e orientação de Seu Espírito em todas as coisas, caso em que uma carreira política talvez fosse viável.
A possibilidade de exercer um cargo legislativo sem me sentir na necessidade de chafurdar na lama imunda da moral torta em que muitos políticos afundam pareceu-me bem atraente. Muitos membros da Igreja em todo o mundo exercem posições de destaque em governos e parlamentos. Aqui mesmo, no Brasil, o caso mais notório é o do deputado federal Moroni Torgan, do Ceará — hoje candidato a prefeito de Fortaleza —, cuja proeminência também se manifesta em sua liderança eclesiástica. Pensei até em escrever ao irmão Torgan pedindo-lhe que contasse como consegue conciliar sua vida pública com a vivência do Evangelho.
O irmão Torgan não está sozinho na vida política, presente ou passada, como membro da Igreja. O Profeta Joseph Smith, primeiro presidente da Igreja, candidatou-se à presidência dos EUA em 1844, ano em que foi assassinado. Seu sucessor, Brigham Young, foi governador do Estado de Utah nos EUA do Séc. XIX. Naquele país, como em muitos outros, há hoje em dia diversos membros em cargos políticos. O exemplo recente mais conhecido é o do ex-candidato a candidato a presidente dos EUA, Mitt Romney, que foi também governador do Estado de Massachusetts, eleito em 2002. Mesmo aqui no Brasil há e já houve diversos cargos nos poderes executivo e legislativo ocupados por membros da Igreja.
Então por que não eu?
Foi com essa pergunta em mente e determinado que estava a dar o primeiro passo nesse sentido que, tal como sempre faço quando estou para tomar uma decisão importante — que pode mudar o rumo de minha vida e o de minha família e, talvez, até o de gerações futuras —, não pude deixar de submeter a decisão à opinião de meu tão amado Pai Celestial. Afinal, quem mais há capaz de me dizer, com a onisciência que Lhe é peculiar, se a idéia é ou não boa para mim?
Então pus à prova Seu próprio conselho expresso na revelação dada por Ele a Oliver Cowdery, por intermédio do Profeta Joseph Smith, acerca de seu desejo de receber o mesmo dom de tradução concedido ao profeta para traduzir o Livro de Mórmon. O Senhor lhe disse:
Mas eis que te digo que deves estudá-lo bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o teu peito; portanto sentirás que está certo. Mas se não estiver certo, não terás tais sentimentos; terás, porém, um estupor de pensamento que te fará esquecer o que estiver errado. (D&C 9:8-9)
Eu já vinha estudando o assunto em minha mente há várias semanas — na verdade, há vários anos — e achava que já tinha conseguido chegar a uma decisão. Eu não poderia antever se era ou não boa para mim, mas me sentia entusiasmado, especialmente considerando os exemplos dos irmãos citados acima, cujos passos eu me julgava capaz de seguir.
Foi com tudo isso em mente que me prostrei de joelhos, apoiado no assento de uma das poltronas de minha sala de estar, e elevei aos céus o desejo de meu coração a fim de que meu tão amado Pai opinasse sobre minhas intenções. E foi então que, mais uma vez, tive o privilégio de observar o cumprimento da promessa feita por Ele naquela escritura.
Eis o que aconteceu em resposta: rapidamente, o entusiasmo sumiu e a idéia se esvaiu de minha mente, como se uma borracha tivesse sido passada nela, fazendo-me esquecer das coisas em que, na opinião Dele, eu não deveria pensar.
Confesso que fiquei frustrado. Mas agradeci-Lhe pela resposta. Que bom que eu estava digno de receber uma. Não sou idiota o bastante para ignorar o conselho do Deus Todo Poderoso e fazer qualquer coisa contrária à Sua onisciente orientação. Confio Nele e me submeto à Sua vontade com alegria e gratidão. Sei que deve haver algum motivo além de minha visão e compreensão para que não queira que me meta com política. Sabe-se lá em que tipo de encrenca eu teria entrado de outra forma!
Mesmo tendo sumido o entusiasmo pela idéia de dar o primeiro passo, a atração pela política permaneceu. Lamentei saber que não deveria fazer nada a respeito. Ponderando sobre isso, deduzi que o conselho Dele pode ter relação com o local, com a época ou com as circunstâncias em que vivo. Talvez no futuro Sua orientação seja diferente. Caso isso ocorra, não significará que Ele terá mudado de idéia (pois Ele é perfeito e não precisa mudar de idéia — nem eu creria em um Deus mutável), e sim que as circunstâncias serão diferentes e passarão a favorecer o projeto.
Foi por isso que, desde então, embora ainda sinta essa atração, verdadeiramente não pensei mais em dar os passos necessários para entrar para a política. Não tomarei nenhuma atitude nesse sentido enquanto Ele não disser que é o momento.
Feliz de quem confia no Senhor e busca conselho de Sua boca!
Se (ou quando) Ele tivesse dito (ou vier a dizer) que, caso eu queira, é hora de pegar essa onda, lutarei em favor de três propostas (para começar):
- O fim da obrigatoriedade do serviço militar. Na verdade, a idéia não é nova. Estudo realizado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) em 2002 mostra que o número de jovens que têm realizado o serviço militar obrigatório está em queda. O estudo mostra que em 1987 foram alistados 1.392.738 jovens e 129.898 foram incorporados — 9,33% do total de alistamentos. Em 2001, apesar de terem sido realizados 1.513.864 alistamentos, apenas 77.761, o que corresponde a 5,14%, foram incorporados às unidades militares. Diante da queda do número de alistamentos, discute-se a profissionalização do serviço militar com base na adesão voluntária. “A profissionalização é característica dos países de tradição democrático-liberal. Na Inglaterra, Canadá e Austrália o sistema é de voluntários e profissionais há bastante tempo; nos EUA, a profissionalização ocorreu após o conflito no Vietnã. Alguns países da Europa estão em processo de mudança de modelo de incorporação, como Portugal, Espanha, Itália e França; na América Latina, o Uruguai, o Peru e a Argentina têm incorporação totalmente baseada no voluntariado”, relata o pesquisador Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann, autor do estudo. “O Chile flexibilizou a incorporação, priorizando os voluntários; se não são completadas as vagas, é feita a convocação obrigatória. O Brasil poderia adotar um sistema semelhante”. (Veja aqui mais detalhes do estudo.)
- O fim da obrigatoriedade do voto. Nas principais democracias representativas do mundo o voto é sempre facultativo. Constata-se, de fato, uma correlação entre o voto obrigatório e o autoritarismo político. O voto facultativo é, sem dúvida, mais democrático e aufere melhor a vontade do eleitor. Paulo Henrique Soares, mestre em Direito e Estado pela UnB e consultor legislativo do Senado Federal, elaborou o documento Vantagens e desvantagens do voto obrigatório e do voto facultativo. Para mim, os motivos elencados por ele em favor do caráter opcional do voto são muito mais convincentes:
- O voto é um direito e não um dever;
- O voto facultativo é adotado pela maioria dos países desenvolvidos e de tradição democrática;
- O voto facultativo melhora a qualidade do pleito eleitoral pela participação de eleitores conscientes e motivados, em sua maioria;
- A participação eleitoral da maioria decorrente do voto obrigatório é um mito;
- É ilusão acreditar que o voto obrigatório possa gerar cidadãos politicamente evoluídos.
Leia as explicações para cada um dos motivos acima, bem como para os pouco convincentes argumentos favoráveis à obrigatoriedade do voto, neste PDF.
- O fim da propaganda partidária obrigatória no rádio e na TV. Eis aí o que considero mais um ato antidemocrático enraizado no autoritarismo político: a tentativa de obrigar a população a assistir um programa que não quer ver. É coisa típica de regimes totalitários, como Cuba e Coréia do Norte, não de democracias consolidadas. Quantos países democráticos do mundo têm algo parecido? Há muitas outras maneiras de levar a mensagem dos partidos ao eleitor que não seja cerceando sua liberdade de escolha de programação na TV e no rádio.
Tenho também outra idéia para ajudar na debatida reforma política em discussão no Congresso, esta visando acabar com distorções do tipo que permite que novatos interesseiros sejam eleitos para altos cargos executivos ou legislativos logo na primeira tentativa, como ocorreu em 2006 com o costureiro Clodovil Hernandez, eleito deputado federal. Para mim, quem quer que pretenda fazer carreira política — além de exigir-se formação superior como pré-requisito, como bem lembrou meu amigo Zé no comentário nº 2, abaixo — precisa obrigatoriamente começar de baixo, desta forma:
Para ser eleito… | …é preciso ter cumprido pelo menos um mandato completo como |
Deputado Estadual ou Prefeito | Vereador |
Deputado Federal | Deputado Estadual |
Governador | Deputado Estadual e Prefeito |
Senador | Deputado Federal |
Presidente da República | Senador e Governador |
Essa linha hierárquica eleitoral elimina o interesse dos oportunistas de plantão, movidos pela vaidade ou atraídos pelos altos salários (aliás, outro ponto que merece reformulação). Duvido que Clodovil teria se candidatado a alguma coisa se precisasse começar de baixo!
Eu também trabalharia por não permitir ou retirar a candidatura de quem:
- Seja alvo de investigações policiais ou réu em processos judiciais — o que teria impedido a eleição de Paulo Maluf como deputado federal com a maior votação do país em 2006, ele que é réu em diversos processos por crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha;
- Aparece no programa eleitoral apenas para fazer palhaçadas na TV, sabe-se lá com que propósito.
Enquanto não chega — e talvez nunca chegue — o dia em que poderei lutar como protagonista do jogo político para trabalhar em prol dessas idéias, resta-me fazer o que todo cidadão pode fazer: encaminhá-las aos políticos por meio de e-mails, cartas, faxes e artigos como este. Posso também influenciar a formação de opiniões, coisa que também espero conseguir com este artigo.
É de especial importância o voto, aquele que para mim deveria ser democraticamente espontâneo e não antidemocraticamente obrigatório.
Falando em voto, este ano teremos eleições municipais. Ainda não identifiquei nenhum candidato digno de minha confiança. A julgar pelas experiências passadas, mais uma vez precisarei buscar inspiração e orientação do Senhor para escolher candidatos cujas intenções só Ele conhece. Como em todas as coisas, a opinião Dele deve vir em primeiro lugar. Eis porque tenho me mantido fora da cena política e atuado como aquele que dá votos ao invés de recebê-los — ou seja, a política e eu somos como o dia e a noite: nunca se encontram. Enquanto eu mantiver essa disposição, não há como as coisas darem errado para mim.
Concordo Marcelo,
Com certeza podes entrar nesse rumo da política,acredito que tens capacidade para ajudar esse povo que tanto precisa. Quando chegar a hora certa sentirás. O certo mesmo é já ir ajudando nas comunidades e entre o seu próximo.
Abraços,
Achei legal seus projetos, tirando a parte o do ensino superior, afinal o que um biologo e coisas do tipo tem a ver com politica?
Oi, Fernando.
A biologia e etc. em si não tem nada a ver com política. A idéia é garantir que o poder seja entregue apenas a quem tenha uma qualificação intelectual mínima, sendo que o patamar para esse mínimo é elevado.
Já cansei de ler notícias de cidadezinhas de interior que elegeram analfabetos funcionais como prefeitos e vereadores. Para governar e legislar sobre toda uma comunidade, o candidato precisa ter cultura e inteligência acima da média da população. Do contrário, que tipo de contribuição poderá dar a ela?
É preciso ter em mente que aqueles que desejam o poder para si são os que devem servir ao povo, não ser servido por ele. Esse, aliás, é um princípio que já havia sido ensinado pelo próprio Salvador Jesus Cristo ao dizer:
“…todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo.” (Mateus 20:26,27)
Quanto mais qualificado intelectualmente o candidato for, melhor poderá servir ao povo. A idéia da exigência de titulação acadêmica superior é essa.
Um abraço!