Esclarecendo o massacre de Mountain Meadows

Publicado em 14 de julho de 2008 e atualizado em 20 de dezembro de 2023

Já faz algum tempo que me sinto compelido a publicar algo que esclarecesse um triste episódio envolvendo membros da Igreja do Séc. XIX e que críticos da Igreja adoram usar contra ela.

O texto abaixo é uma tradução livre deste artigo, originalmente publicado na edição de setembro de 2007 da revista Ensign, às pgs. 14-21.

Meu desejo é o de que este artigo chegue aos olhos e corações de todos os interessados em conhecer a posição oficial da Igreja e compreendam que ela não tem motivos para desculpar-se por algo que não fez.

Como leitura adicional, sugiro esta notícia (em inglês) do Deseret News, que informa não terem sido descobertas evidências de que Brigham Young, presidente da Igreja na época, ordenou o massacre.


O Massacre de Mountain Meadows

Por Richard E. Turley Jr.
Diretor do Departamento de História e Família da Igreja

Este mês [setembro de 2007] marca o 150° aniversário de um terrível episódio na história de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Em 11 de setembro de 1857, cerca de 50 a 60 milicianos do sul de Utah, ajudados por aliados indígenas americanos, massacraram aproximadamente 120 emigrantes que viajavam em carroças para a Califórnia. O crime horrível, que poupou apenas 17 crianças de até seis anos, ocorreu em um vale montanhoso chamado Mountain Meadows, cerca de 35 milhas a sudeste de Cedar City. As vítimas, a maioria do Arkansas, estavam a caminho da Califórnia sonhando com um futuro brilhante.

Por um século e meio, o Massacre de Mountain Meadows tem chocado e angustiado quem toma ciência dele. A tragédia provocou profundo pesar nos parentes das vítimas, inflingiu dor e sentimentos de culpa coletiva nos descendentes dos perpretadores e nos Santos dos Últimos Dias em geral, provocou críticas contra a Igreja e levantou questionamentos dolorosos e difíceis. Como pôde isso ter acontecido? Como pôde ter havido participação de membros da Igreja em tal crime?

Dois fatos tornam o caso ainda mais difícil de compreender. Primeiro, nada que nenhum dos emigrantes aparentemente fez ou disse, mesmo que seja tudo verdade, chega perto de justificar suas mortes. Segundo, a grande maioria dos perpretadores levava uma vida decente e pacífica antes e depois do massacre.

Como qualquer episódio histórico, os fatos compreendendo os eventos de 11 de setembro de 1857 requerem compreensão das condições da época, mas apenas um breve resumo deles pode ser compartilhado em poucas páginas de um artigo nesta revista. Para uma leitura mais completa e documentada do evento, o leitor deve consultar o livro O Massacre de Mountain Meadows. [O livro, de autoria dos historiadores SUD Ronald W. Walker, Richard E. Turley e Glen M. Leonard, será publicado em breve pela Oxford University Press.]

Panorama histórico

Em 1857, um exército de cerca de 1500 soldados dos Estados Unidos marchava em direção ao Território de Utah, com mais que viriam em seguida. Nos anos anteriores, discórdias, falhas na comunicação, preconceitos e disputas políticas de ambos os lados criaram um crescente racha entre o território e o governo federal. Diante de tal retrospecto, é fácil ver que ambos os lados exageraram na reação — o governo enviou um exército para acabar com uma suposta traição em Utah e os membros da Igreja criam que o exército vinha para oprimi-los, compeli-los ou mesmo destrui-los.

Em 1858, esse conflito — posteriormente chamado de Guerra de Utah — foi resolvido através de uma conferência de paz e negociação. Uma vez que os milicianos de Utah e as tropas do exército dos EUA nunca chegaram a lutar em campo de batalha, a Guerra de Utah foi caracterizada como “sem sangue”. Mas a atrocidade em Mountain Meadows tornou-a longe de ser sem sangue.

Tal como as tropas estavam a caminho do oeste no verão de 1857, assim também estavam milhares de emigrantes. Alguns deles eram membros da Igreja convertidos indo para Utah, mas a maioria tinha a Califórnia como destino, muitos deles com grandes rebanhos de gado. A temporada de emigração trouxe muitas companhias de carroças a Utah, uma vez que os Santos dos Últimos Dias preparavam-se para o que acreditavam que seria uma invasão militar hostil. Eles já haviam sido violentamente expulsos do Missouri e de Illinois nas duas décadas anteriores e temiam que a história se repetisse.

Brigham Young, presidente da Igreja e governador do território, e seus conselheiros formaram políticas baseadas nessa percepção. Eles instruíram as pessoas a economizar grãos e a preparar-se para guardá-los nas montanhas caso precisassem fugir para lá quando as tropas chegassem. Sequer uma semente de grão deveria ser perdida ou vendida a mercadores ou emigrantes de passagem. As pessoas também estavam guardando munição e mantendo suas armas de fogo em ordem, e os milicianos do território foram postos em alerta para defender o território contra a aproximação das tropas, se necessário.

Essas ordens e instruções foram espalhadas para os líderes em todo o território. O Élder George A. Smith, do Quórum dos Doze Apóstolos, levou-as ao sul de Utah. Ele, Brigham Young e outros líderes pregaram ardentemente contra o inimigo que percebiam no exército que se aproximava e buscaram aliança com os índios para resistir às tropas.

Essas políticas de guerra exacerbaram as tensões e conflitos entre os emigrantes que iam em direção à Califórnia e os colonos Santos dos Últimos Dias conforme as caravanas passavam pelos assentamentos de Utah. Os emigrantes ficavam frustrados quando não conseguiam se reabastecer no território como esperavam. Tiveram dificuldades para comprar grãos e munição e seus rebanhos, alguns dos quais contendo centenas de cabeças de gado, tinham que competir com os rebanhos dos colonos pelo pasto e água limitados ao longo do caminho.

Algumas histórias tradicionais de Utah sobre o que ocorreu em Mountain Meadows incorporaram a alegação de que envenenamento também contribuiu para aumentar o conflito — os emigrantes do Arkansas teriam deliberadamente envenenado uma nascente e uma carcaça de boi próximos à cidade de Fillmore, no centro de Utah, causando doença e morte dentre os índios locais. De acordo com essa história, os índios enfureceram-se e seguiram os emigrantes até Mountain Meadows, onde teriam cometido a atrocidade sozinhos ou forçado hesitantes colonos Santos dos Últimos Dias a unirem-se a eles no ataque. A pesquisa histórica mostra que essas histórias não são precisas.

Embora seja verdade que parte dos rebanhos dos emigrantes estivesse morrendo ao longo do caminho, inclusive próximo a Fillmore, as mortes pareceram resultado de uma doença que afetou os rebanhos nas jornadas da década de 1850. Os humanos contraíam a doença dos animais infectados através de cortes, ferimentos ou pelo consumo da carne contaminada. Sem essa compreensão moderna, as pessoas suspeitavam que o problema tivesse sido causado por envenenamento.

A escalada da tensão

O plano de atacar a companhia de emigrantes foi originado dentre a liderança local da Igreja em Cedar City, que havia sido recentemente alertada de que as tropas federais poderiam entrar a qualquer momento através da passagem ao sul de Utah. Cedar City era a última cidade na rota para a Califórnia para o reabastecimento de grãos e suprimentos, mas ali também os emigrantes se frustraram. Produtos básicos não estavam disponíveis na loja da cidade e o dono do moinho cobrou um boi inteiro — um preço exorbitante — para moer algumas dúzias de medidas de grãos. Semanas de frustrações logo cobraram seu preço. Com a tensão crescendo, um dos emigrantes alegou possuir a arma que matou Joseph Smith. Outros ameaçaram unir-se às tropas federais contra os Santos dos Últimos Dias. Alexander Fancher, capitão da caravana dos emigrantes, repreendeu esses homens.

As afirmações daqueles homens muito provavelmente foram ameaças vazias feitas no calor do momento, mas, no ambiente em transformação de 1857, os líderes de Cedar City levaram as declarações daqueles homens a sério. O delegado da cidade tentou prender alguns dos emigrantes sob a alegação de intoxicação pública e blasfêmia, mas foi forçado a recuar. A companhia de carroças seguiu seu caminho para sair da cidade cerca de uma hora depois, mas os agitados líderes de Cedar City não estavam dispostos a deixar o assunto morrer. Planejaram chamar a milícia local para perseguir e prender os ofensores e talvez confiscar parte de seu gado. Carne e grãos faziam parte da comida que os Santos dos Últimos Dias pretendiam usar para sobreviver se tivessem que fugir para as montanhas quando as tropas chegassem.

O prefeito de Cedar City, o comandante da milícia e o presidente de estaca Isaac Haight descreveram o descontentamento contra os emigrantes e pediram permissão para chamar a milícia em um despacho expresso ao comandante distrital da milícia, William Dame, que vivia nas proximidades de Parowan. Dame era também presidente da estaca de Parowan. Após convencer um conselho a discutir o assunto, Dame negou o pedido. “Não dêem importância às ameaças deles”, escreveu ele no despacho de volta à Cedar City. “Palavras são como o vento: elas não injuriam ninguém. Mas se eles (os emigrantes) cometerem atos de violência contra os cidadãos, informem-me imediatamente e tais medidas serão adotadas para assegurar a tranquilidade”. [James H. Martineau, “The Mountain Meadow Catastrophy,” July 23, 1907, Church Archives, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints.]

Ainda querendo punir os emigrantes, os líderes de Cedar City então formularam um novo plano. Como não podiam usar a milícia para prender os ofensores, persuadiriam os índios Paiute para darem à companhia do Arkansas uma “lição”, matando alguns ou todos os homens e roubando seu rebanho. [John D. Lee, Mormonism Unveiled: The Life and Confessions of the Late Mormon Bishop, John D. Lee (1877), 219.]

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O ataque foi planejado para uma parte da caravana para a Califórnia que fugiu por uma passagem estreita do cânion do Rio Santa Clara, várias milhas ao sul de Mountain Meadows. Essa área estava sob a jurisdição da milícia do Fort Harmony, liderada por John D. Lee, que foi convencido a participar do plano. Lee era também um “fazendeiro indígena” fundeado pelo governo federal para os índios Paiutes locais. Lee e Haight tiveram uma longa conversa durante a noite sobre os emigrantes, na qual Lee disse a Haight que acreditava que os Paiutes “matariam a todos, homens, mulheres e crianças” se fossem incitados a atacar. [Mormonism Unveiled, 220.] Haight concordou e os dois planejaram depositar toda a culpa pela matança aos pés dos índios.

Os normalmente pacíficos Paiutes relutaram quando foram apresentados ao plano pela primeira vez. Apesar de ocasionalmente assaltarem os estoques de emigrantes em busca de comida, não tinham tradição de ataques em larga escala. Mas os líderes de Cedar City prometeram-lhes uma pilhagem e os convenceram de que os emigrantes estavam alinhados com as tropas “inimigas” que matariam os índios junto com os colonos mórmons.

Em 6 de setembro, domingo, Haight apresentou o plano ao conselho de líderes locais que ocupavam posições eclesiásticas, civis e militares. O plano encontrou resistência dos que o ouviram pela primeira vez, produzindo um acalorado debate. Finalmente, o conselho de membros perguntou a Haight se ele havia consultado o Presidente Brigham Young a respeito. Respondendo que não, Haight concordou em enviar um mensageiro expresso a Salt Lake City com uma carta explicando a situação e pedindo orientação.

O cerco de cinco dias

Mas, no dia seguinte, pouco antes de Haight enviar a carta a Brigham Young, Lee e os índios fizeram um ataque prematuro ao campo de emigrantes em Mountain Meadows ao invés de no local planejado no cânion de Santa Clara. Vários dos emigrantes foram mortos, mas os que sobraram resistiram ao ataque, forçando um recuo. Os emigrantes rapidamente organizaram seus carroções em círculo, protegendo-se dentro dele. Dois outros ataques ocorreram nos dois dias seguintes dos cinco que durou o cerco.

Após o ataque inicial, dois milicianos de Cedar City, julgando ser necessário conter a volatilidade da situação, atiraram em dois cavaleiros emigrantes descobertos poucas milhas fora do círculo. Eles mataram um dos cavaleiros, mas o outro escapou e voltou para o círculo, levando a notícia de que os matadores de sua companhia eram homens brancos, não índios.

Os conspiradores foram apanhados em sua teia de enganos. Seu ataque aos emigrantes tinha falhado. Seu comandante militar logo saberia que eles tinham grosseiramente desobedecido suas ordens. Um despacho havia sido enviado a Brigham Young em Salt Lake City. Uma testemunha do envolvimento dos brancos havia espalhado a notícia dentre os emigrantes. Se os emigrantes sobreviventes fossem libertados e seguissem seu caminho para a Califórnia, logo se espalharia a notícia de que os mórmons estavam envolvidos no ataque. Um exército já se aproximava do território e, se a notícia de sua participação no ataque chegasse a eles, criam os conspiradores, resultaria em ação militar retaliatória que ameaçaria suas vidas e as vidas de seu povo. Além disso, esperava-se para qualquer dia a chegada de outras caravanas de emigrantes para a Califórnia em Cedar City e depois a Mountain Meadows.

Ignorando a decisão do conselho

Em 9 de setembro, Haight viajou a Parowan com Elias Morris, um dos dois capitães da milícia e seu conselheiro na presidência da estaca. Novamente, pediram permissão a Dame para convocar a milícia e, novamente, Dame reuniu o conselho de Parowan, que decidiu que homens deveriam ser enviados para ajudar os combalidos emigrantes a prosseguir em seu caminho em paz. Posteriormente, Haight lamentou: “Eu daria um mundo, se o tivesse, se tivéssemos sustentado a decisão do conselho”. [Andrew Jenson, notas da conversa com William Barton, Jan. 1892, arquivo Mountain Meadows, Jenson Collection, Church Archives.]

Ao invés, quando a reunião terminou, Haight e seu conselheiro encontraram Dame sozinho e compartilharam com ele informações que não tinham dito ao conselho: os emigrantes encurralados provavelmente sabiam que homens brancos estavam envolvidos nos ataques iniciais. Essa informação levou Dame, agora isolado do moderado consenso de seu conselho, a repensar sua decisão anterior. Tragicamente, ele cedeu. Quando a conversa terminou, Haight achou que tinha sua permissão para usar a milícia.

Na chegada a Cedar City, Haight imediatamente convocou duas dúzias de milicianos, a maioria policiais, para juntar-se aos que já esperavam próximo ao acampamento dos emigrantes em Mountain Meadows. Aqueles que haviam deplorado a violência contra seu próprio povo no Missouri e em Illinouis estavam agora prestes a virtualmente seguir o mesmo padrão de violência contra outros, mas em escala mortal.

O massacre

Na sexta-feira, 11 de setembro, Lee entrou no acampamento dos emigrantes com uma bandeira branca e, de certa forma, convenceu-os a aceitar termos perigosos. Ele lhes disse que a milícia os escoltaria em segurança na passagem pelos índios de volta a Cedar City, mas tinham que deixar para trás seus bens e entregar as armas, sinalizando aos índios suas intenções pacíficas. Os desconfiados emigrantes debateram o que fazer, mas, no fim, aceitaram os termos, já que não tinham alternativa melhor. Estavam sitiados há dias, com pouca água, os feridos estavam morrendo e não tinham munição suficiente para suportar mais um ataque.

Como combinado, as crianças mais novas feridas deixaram o acampamento primeiro, levadas em dois carroções, seguidos pelas mulheres e crianças que podiam andar. Os homens e garotos mais velhos ficaram por último, cada um escoltado por milicianos armados. A procissão marchou por cerca de uma milha até que, num sinal previamente combinado, cada miliciano virou-se e atirou no emigrante próximo a ele, enquanto os índios saíram de seus esconderijos para atacar as aterrorizadas mulheres e crianças. Os milicianos que acompanhavam os dois primeiros carroções mataram os feridos. Apesar dos planos de culpar os Paiutes pelo massacre — e dos persistentes esforços posteriores em fazê-lo —, Nephi Johnson depois susteve que seus companheiros milicianos foram responsáveis pela maior parte da matança.

Comunicado tardio

A mensagem expressa de resposta do Presidente Young a Haight, datada de 10 de setembro, chegou em Cedar City dois dias depois do massacre. Sua carta relatava notícias recentes de que não havia tropas do exército americano em condições de alcançar o território antes do inverno. “Portanto, vejam que o Senhor respondeu nossas preces e, novamente, evitou a desgraça concebida para cair sobre nossas cabeças”, escreveu ele.

“No que diz respeito às caravanas de emigrantes passando por nossos assentamentos”, prosseguiu Young, “não devemos interferir nelas antes de serem notificadas a seguirem seu curso. Vocês não devem se meter com elas. Esperamos que os índios façam o que acharem melhor, mas vocês devem tentar preservar um bom relacionamento com eles. Não há outras caravanas indo para o Sul, que eu saiba. (…) Os que estão lá devem deixá-los ir em paz. Apesar de precisarmos estar alertas e sempre prontos, devemos também possuir a nós mesmos com paciência, preservando-nos e tendo sempre em mente os mandamentos de Deus.” [Brigham Young to Isaac C. Haight, Sept. 10, 1857, Letterpress Copybook 3:827–28, Brigham Young Office Files, Church Archives.]

Quando Haight leu as palavras de Young, chorou como criança e só conseguiu dizer as palavras “tarde demais, tarde demais”. [James H. Haslam, entrevista por S. A. Kenner, relatado por Josiah Rogerson, Dec. 4, 1884, material impresso, 11, em Josiah Rogerson, Transcripts and Notes of John D. Lee Trials, Church Archives.]

Consequências

As 17 crianças sobreviventes, consideradas “novas demais para contar histórias”, foram adotadas por famílias locais. [John D. Lee, “Lee’s Last Confession,” San Francisco Daily Bulletin Supplement, Mar. 24, 1877.] Representantes do governo resgataram as crianças em 1859 e as devolveram aos membros de suas famílias no Arkansas. O massacre ceifou cerca de 120 vidas e afetou irremediavelmente as vidas das crianças sobreviventes e de seus parentes. Um século e meio depois, o massacre permanece sendo um assunto profundamente doloroso para seus descendentes e outros parentes.

Embora Brigham Young e outros líderes da Igreja em Salt Lake City tenham sabido do massacre logo após o ocorrido, a percepção da extensão do envolvimento dos assentados e os terríveis detalhes do crime só chegaram aos poucos ao longo do tempo. Em 1859, eles desobrigaram de seus chamados o presidente de estaca Isaac Haight e outros proeminentes líderes da Igreja em Cedar City que tiveram participação no massacre. Em 1870, excomungaram Isaac Haight e John D. Lee da Igreja.

Em 1874, um juri territorial acusou judicialmente nove homens por sua participação no massacre. A maioria deles eventualmente foi presa, embora apenas Lee tenha sido julgado, condenado e executado pelo crime. Outros acusados tornaram-se provas do Estado e outros ficaram foragidos da lei por muitos anos. Outros milicianos que participaram do massacre lutaram pelo resto de suas vidas contra um terrível sentimento de culpa e tiveram pesadelos recorrentes por causa do que fizeram e testemunharam.

As famílias dos homens que planejaram o crime sofreram com o ostracismo imposto por seus vizinhos ou com alegações de que maldições haviam caído sobre eles. Por décadas, os Paiutes também sofreram injustamente, pois muitos os consideravam culpados pelo crime, chamando-os e a seus descendentes de “quemiadores de carroções”, “selvagens” e “hostis”. O massacre tornou-se uma mancha indelével na história da região.

Hoje, alguns dos descendentes das vítimas do massacre e seus parentes são Santos dos Últimos Dias. Esses indivíduos estão em uma posição incomum, pois sabem como é ser um membro da Igreja e também um parente de vítima.

James Sanders é bisneto de Nancy Saphrona Huff, uma das crianças que sobreviveram ao massacre. “Ainda sinto dor; ainda sinto raiva e tristeza por causa do massacre”, disse o irmão Sanders. “Mas sei que as pessoas que fizeram isso responderão perante o Senhor e isso me traz paz”. O irmão Sanders, que serve como consultor de história da família em sua ala no Arizona, disse que saber que um ancestral seu foi morto no massacre “não afeta minha fé, pois ela é baseada em Jesus Cristo, não em nenhuma pessoa da Igreja”.

Sharon Chambers, de Salt Lake City, é bisneta da sobrevivente Rebecca Dunlap. “As pessoas que fizeram isso perderam seu rumo. Não sei o que havia em suas mentes ou em seus corações”, disse ela. “Sinto pesar pelo que aconteceu a meus ancestrais. Também sinto pesar pelo fato de haver quem culpe todo um grupo, ou toda uma religião, pelos atos de alguns”.

O Massacre de Mountain Meadows tem causado dor e controvérsia por 150 anos. Nas últimas duas décadas, os descendentes e outros parentes dos emigrantes e dos perpretadores têm às vezes trabalhado juntos para preservar a memória das vítimas. Esses esforços tiveram o apoio do Presidente Gordon B. Hinckley [décimo-quinto presidente da Igreja, falecido em janeiro de 2008], representantes do Estado de Utah e de outras instituições e indivíduos. Dentre os frutos dessa cooperação estão a construção de dois memoriais no local do massacre e a colocação de placas em homenagem aos emigrantes do Arkansas. Grupos de descendentes, líderes e membros da Igreja e autoridades civis continuam a trabalhar pela reconciliação e participarão de vários serviços memoriais neste mês em Mountain Meadows.

Leitura adicional recomendada: A Paz e a Violência entre os Membros da Igreja no Século 19

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78 comentários em “Esclarecendo o massacre de Mountain Meadows

  1. Marcelo Todaro, transcrevo um comentário anterior seu:

    Claro que não assume e não é para assumir. Como membro da Igreja, o responsável por meus atos sou eu mesmo. Se eu matar ou roubar alguém, a Igreja não tem nada com isso

    Por esse seu raciocínio, O psicopata Charles Manson não seria culpado e condenado pelos crimes brutais cometidos nos EUA pelos seguidores de sua seita (a chamada família Manson). Pela sua lógica, Manson também não precisaria nem sequer pedir desculpas pela babárie. Contudo, a justiça dos EUA condenou Manson à prisão perpétua, e o mesmo destino deveria ter sido dado aos líderes da igreja que articularam o Massacre de Monte Meadows.
    Não tem como se isentar da culpa meu caro. Só o fanatismo religioso para fazer a mente humana ficar em paz diante de uma barbárie dessas.

    1. Ocorre, meu amigo Charles, que os líderes locais da Igreja envolvidos no episódio foram, sim, excomungados da Igreja e condenados judicialmente pelo crime. Releia o artigo, por favor.

      Se, em franca oposição ao que a Igreja prega, um líder direto meu me incentivasse a cometer um crime e se eu o cometesse, alem de mim ele também estaria sujeito à disciplina da Igreja e à da sociedade, mas não o líder máximo da Igreja, nem a Igreja como um todo, que não teriam nada a ver com o caso. Não é assim que funciona.

      O que ocorre com os críticos e opositores da Igreja é que todos são rápidos em apontar o dedo contra Brigham Young e a Igreja, mas são lentos em analisar as circunstâncias. A comparação com Charles Manson é inválida porque Brigham Young deu ordem em carta para que os índios fossem deixados em paz (novamente, releia o artigo, por favor). O azar dos índios foi que a carta não chegou a tempo. Young deveria ser condenado porque o cavalo que levou a carta não foi rápido o suficiente?

      Quem fez, pagou pelo que fez. Quem não fez, não. O que passa disso é só mimimi da oposição. Simples assim.

      Um abraço!

  2. Ah algo bem diferente que distingue necessariamente estes eventos de outros crimes assemelhados praticados pela igreja católica durante a inquisição,qual seja, o presidente da igreja SUD diz falar diretamente com Deus.em sendo assim, aqueles eventos caracterizadores de crime ctra a humanidade poderiam ter sido evitados mediante uma simples revelação para Brigham Young, o que não ocorreu de modo a caracterizar a farsa desta alto proclamada única igreja verdadeira, que sempre discriminou de perseguiu negros,mulheres, lgbt”s e ao longo de sua história defendeu a escravidão e pena de morte.

    1. Rodrigo escreveu:

      o presidente da igreja SUD diz falar diretamente com Deus.em sendo assim, aqueles eventos caracterizadores de crime ctra a humanidade poderiam ter sido evitados mediante uma simples revelação para Brigham Young, o que não ocorreu de modo a caracterizar a farsa desta alto proclamada única igreja verdadeira

      Então, pela sua lógica, podemos dizer que Jesus era um falso profeta porque Ele nada fez para evitar Sua crucificação nem o posterior massacre dos cristãos pelos romanos, certo?

      Não é por aí, Rodrigo.

      Um profeta serve como porta-voz de Deus, mas ele não tem o poder de obrigar Deus a lhe revelar o futuro. Isso só ocorre de acordo com os oniscientes desígnios e sabedoria Dele. Se Ele julgou que não deveria informar Brigham Young sobre o que estava por acontecer, algum motivo teve, certo? O fato de Brigham Young não saber que o massacre aconteceria de forma alguma o desqualifica como profeta, assim como o massacre dos primeiros cristãos não desqualifica Jesus como Filho de Deus. A sabedoria Dele está infinitamente acima da nossa para compreendermos por que Ele decide revelar algumas coisas e outras não. Tudo tem um propósito e todos compreenderemos tudo no devido tempo.

      que sempre discriminou de perseguiu negros,mulheres, lgbt”s e ao longo de sua história defendeu a escravidão e pena de morte

      Pode apresentar alguma prova concreta, verdadeira e fidedigna dessas acusações? Vamos lá, estou esperando.

    2. Você pode tirar suas dúvidas diretamente com mórmons negros, mulheres e gays. Eles podem lhe ajudar a entender melhor a posição e a doutrina da Igreja relacionada a esses dois casos. E sobre a escravidão e pena de morte realmente verifique nos registros históricos americanos sobre isso. Você vai ficar surpreso.

  3. Fui batizado e deixar de frequentar a igreja quando um membro disse qu Joseph Smith , havia salvado mais almas que Jesus Cristo , na realidade este episódio foi a gota d água
    Mas no seu texto percebe se claramente que você tenta desesperadamente amenizar toda esta tragedia.
    Pelos textos que li não houve índios na ajuda para os assassinatos , sem falar na grana que foi subtraída , etc

    1. Homero,

      Se você deixou a Igreja porque um membro lhe falou que “Joseph Smith havia salvado mais almas que Jesus Cristo”, então pode preparar seu caminho de volta, pois isso que lhe foi dito (se é que foi mesmo) é fantasia. Não é o que a Igreja ensina, não está escrito em nenhum de nossos livros ou manuais e, principalmente, não é o que o Espírito testifica.

      E também não entendi o que você quis dizer com isto:

      Pelos textos que li não houve índios na ajuda para os assassinatos , sem falar na grana que foi subtraída , etc

      Pode explicar melhor, por favor?

      Um abraço!

  4. Li vários artigos sobre o massacre, escritos por pesquisadores neutros e, sinceramente, não há como negar a crueldade e sordidez deste episódio encabeçado pela Igreja dos Mórmons. Diferentemente das fontes citadas neste artigo do blog que citam em sua maioria, fontes ligadas ao interesse dos Mórmons em desvencilharem-se da culpa e apagar o rastro de sangue deixado por seus precursores, os textos que examinei, trazem informações bastante destoantes destas aqui tecidas. Lamentavelmente, as incoerências e polêmicas em torno das práticas e crenças Mórmons são muitas e isso não quer dizer que as pessoas que não concordem estejam necessariamente “perseguindo a igreja” como seus membros são sutilmente levados a crer, apenas queremos entender como um igreja conhecida pela prática de poligamia, pela descriminação racial (já que durante anos, pessoas negras não podiam receber o tal poder do sacerdocio), pela prática de batismos pelos mortos, uso de roupas íntimas “mágicas, leitura de um livro que se quer possui evidência de autenticidade, falsificação, teorias de que existam “três graus de glória”, etc, funciona!!!
    De minha parte, solicitei meu desligamento por escrito desta instituição que fui praticamente forçado a aceitar durante minha infância e adolescência, hoje, já adulto, posso garantir que foi a melhor decisão da minha vida!

    1. Caríssimo Ton Alex (ou seja lá qual for seu nome verdadeiro),

      O fato você de achar que foi a melhor decisão de sua vida não necessariamente significa que foi a melhor do ponto de vista da eternidade — a menos que assuma a presunção de possuir a onisciência de Deus.

      Você até pode ter perdido seu testemunho, mas isso não muda em rigorosamente nada o fato de a Igreja ser verdadeira, pois o Deus Todo-Poderoso assim o diz. E se Ele diz, quem é o homem mortal falível e parcial para negar?

      Por que só a versão dos críticos sobre o massacre pode ser verdadeira e a nossa não? Se ler o texto do artigo acima com a devida imparcialidade, sem o viés antimórmon típico dos críticos, talvez consiga perceber que o trabalho de pesquisa dos fatos inclui a participação de historiadores não mórmons. Hoje em dia, os descendentes das vítimas congraçam-se com a Igreja ao invés de culpá-la. Será que toda essa gente está “mentindo” só porque você optou (sem nenhuma razão justa) por não acreditar na versão deles?

      Creia você ou não, aceite ou não, a Igreja nada teve a ver com o massacre, independente das fontes em que você tenha optado por acreditar. E todos os outros questionamentos que você levanta têm explicação dentro do evangelho de Jesus Cristo e estão ao alcance de qualquer um que queira encontrá-la pelo estudo e pela fé. Mas você não parece disposto a obtê-la, por isso não me proponho a dá-la (mas, se eu estiver enganado — e espero estar —, fique à vontade para me procurar em particular).

      O bom de tudo isso é que ninguém precisará ter dúvida por muito mais tempo. Quando o Milênio for inaugurado, todos saberemos quem tinha razão. No que me diz respeito, não estou minimamente preocupado em descobrir que a Igreja está mentindo ou ocultando fatos, pois sei que isso é algo impossível de acontecer, por mais que todos os críticos do mundo digam o contrário. Felizmente não dependo dos críticos para receber revelação de Deus. No último dia todos saberemos quem tinha razão. Estou plenamente convicto de que para mim será um dia agradável e feliz. Espero que seja para você também.

      Um abraço!

        1. Engraçado digo eu. Você me acusa de ser irônico e arrogante, mas diz coisas como que fui “adestrado tal como um títere sem vida”, me rotula de manipulador e dono da verdade, dentre outras coisas piores. Se foi isso o que aprendeu fora da Igreja, está na hora de voltar.

          Apaguei o restante do seu comentário porque meu blog não se presta a ser lavanderia do rancor alheio. As regras em vermelho que você leu antes de postar seus comentários são claras ao especificar que não é permitido usar palavras rudes e agressivas como as suas. Eu não fiz isso com você, então não há motivo para que faça comigo só por discordar de mim.

          Sinto muito se você não gosta do testemunho que Deus me deu, não vou pedir que Ele o mude só porque você não gosta dele. Se eu fosse adaptá-lo ao gosto do freguês, já teria enlouquecido.

          Sei que o que digo é verdade e não há poder na Terra ou no inferno capaz de mudar isso, pois o testemunho que tenho me foi dado por Deus. Só Ele pode tirar de mim o que me deu. Por isso estou onde estou, afirmo o que afirmo e não me desculpo. Há quem não goste disso, como você, mas entre agradar a Deus e agradar algum homem, prefiro a primeira hipótese, por motivos pra lá de óbvios.

          Você pode tentar postar novo comentário, se quiser, contanto que me trate com a mesma consideração e respeito com que espera ser tratado. Aceito críticas, sim, o que não aceito é falta de educação e de respeito.

          Um abraço!

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