Esclarecendo o massacre de Mountain Meadows

Publicado em 14 de julho de 2008 e atualizado em 20 de dezembro de 2023

Já faz algum tempo que me sinto compelido a publicar algo que esclarecesse um triste episódio envolvendo membros da Igreja do Séc. XIX e que críticos da Igreja adoram usar contra ela.

O texto abaixo é uma tradução livre deste artigo, originalmente publicado na edição de setembro de 2007 da revista Ensign, às pgs. 14-21.

Meu desejo é o de que este artigo chegue aos olhos e corações de todos os interessados em conhecer a posição oficial da Igreja e compreendam que ela não tem motivos para desculpar-se por algo que não fez.

Como leitura adicional, sugiro esta notícia (em inglês) do Deseret News, que informa não terem sido descobertas evidências de que Brigham Young, presidente da Igreja na época, ordenou o massacre.


O Massacre de Mountain Meadows

Por Richard E. Turley Jr.
Diretor do Departamento de História e Família da Igreja

Este mês [setembro de 2007] marca o 150° aniversário de um terrível episódio na história de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Em 11 de setembro de 1857, cerca de 50 a 60 milicianos do sul de Utah, ajudados por aliados indígenas americanos, massacraram aproximadamente 120 emigrantes que viajavam em carroças para a Califórnia. O crime horrível, que poupou apenas 17 crianças de até seis anos, ocorreu em um vale montanhoso chamado Mountain Meadows, cerca de 35 milhas a sudeste de Cedar City. As vítimas, a maioria do Arkansas, estavam a caminho da Califórnia sonhando com um futuro brilhante.

Por um século e meio, o Massacre de Mountain Meadows tem chocado e angustiado quem toma ciência dele. A tragédia provocou profundo pesar nos parentes das vítimas, inflingiu dor e sentimentos de culpa coletiva nos descendentes dos perpretadores e nos Santos dos Últimos Dias em geral, provocou críticas contra a Igreja e levantou questionamentos dolorosos e difíceis. Como pôde isso ter acontecido? Como pôde ter havido participação de membros da Igreja em tal crime?

Dois fatos tornam o caso ainda mais difícil de compreender. Primeiro, nada que nenhum dos emigrantes aparentemente fez ou disse, mesmo que seja tudo verdade, chega perto de justificar suas mortes. Segundo, a grande maioria dos perpretadores levava uma vida decente e pacífica antes e depois do massacre.

Como qualquer episódio histórico, os fatos compreendendo os eventos de 11 de setembro de 1857 requerem compreensão das condições da época, mas apenas um breve resumo deles pode ser compartilhado em poucas páginas de um artigo nesta revista. Para uma leitura mais completa e documentada do evento, o leitor deve consultar o livro O Massacre de Mountain Meadows. [O livro, de autoria dos historiadores SUD Ronald W. Walker, Richard E. Turley e Glen M. Leonard, será publicado em breve pela Oxford University Press.]

Panorama histórico

Em 1857, um exército de cerca de 1500 soldados dos Estados Unidos marchava em direção ao Território de Utah, com mais que viriam em seguida. Nos anos anteriores, discórdias, falhas na comunicação, preconceitos e disputas políticas de ambos os lados criaram um crescente racha entre o território e o governo federal. Diante de tal retrospecto, é fácil ver que ambos os lados exageraram na reação — o governo enviou um exército para acabar com uma suposta traição em Utah e os membros da Igreja criam que o exército vinha para oprimi-los, compeli-los ou mesmo destrui-los.

Em 1858, esse conflito — posteriormente chamado de Guerra de Utah — foi resolvido através de uma conferência de paz e negociação. Uma vez que os milicianos de Utah e as tropas do exército dos EUA nunca chegaram a lutar em campo de batalha, a Guerra de Utah foi caracterizada como “sem sangue”. Mas a atrocidade em Mountain Meadows tornou-a longe de ser sem sangue.

Tal como as tropas estavam a caminho do oeste no verão de 1857, assim também estavam milhares de emigrantes. Alguns deles eram membros da Igreja convertidos indo para Utah, mas a maioria tinha a Califórnia como destino, muitos deles com grandes rebanhos de gado. A temporada de emigração trouxe muitas companhias de carroças a Utah, uma vez que os Santos dos Últimos Dias preparavam-se para o que acreditavam que seria uma invasão militar hostil. Eles já haviam sido violentamente expulsos do Missouri e de Illinois nas duas décadas anteriores e temiam que a história se repetisse.

Brigham Young, presidente da Igreja e governador do território, e seus conselheiros formaram políticas baseadas nessa percepção. Eles instruíram as pessoas a economizar grãos e a preparar-se para guardá-los nas montanhas caso precisassem fugir para lá quando as tropas chegassem. Sequer uma semente de grão deveria ser perdida ou vendida a mercadores ou emigrantes de passagem. As pessoas também estavam guardando munição e mantendo suas armas de fogo em ordem, e os milicianos do território foram postos em alerta para defender o território contra a aproximação das tropas, se necessário.

Essas ordens e instruções foram espalhadas para os líderes em todo o território. O Élder George A. Smith, do Quórum dos Doze Apóstolos, levou-as ao sul de Utah. Ele, Brigham Young e outros líderes pregaram ardentemente contra o inimigo que percebiam no exército que se aproximava e buscaram aliança com os índios para resistir às tropas.

Essas políticas de guerra exacerbaram as tensões e conflitos entre os emigrantes que iam em direção à Califórnia e os colonos Santos dos Últimos Dias conforme as caravanas passavam pelos assentamentos de Utah. Os emigrantes ficavam frustrados quando não conseguiam se reabastecer no território como esperavam. Tiveram dificuldades para comprar grãos e munição e seus rebanhos, alguns dos quais contendo centenas de cabeças de gado, tinham que competir com os rebanhos dos colonos pelo pasto e água limitados ao longo do caminho.

Algumas histórias tradicionais de Utah sobre o que ocorreu em Mountain Meadows incorporaram a alegação de que envenenamento também contribuiu para aumentar o conflito — os emigrantes do Arkansas teriam deliberadamente envenenado uma nascente e uma carcaça de boi próximos à cidade de Fillmore, no centro de Utah, causando doença e morte dentre os índios locais. De acordo com essa história, os índios enfureceram-se e seguiram os emigrantes até Mountain Meadows, onde teriam cometido a atrocidade sozinhos ou forçado hesitantes colonos Santos dos Últimos Dias a unirem-se a eles no ataque. A pesquisa histórica mostra que essas histórias não são precisas.

Embora seja verdade que parte dos rebanhos dos emigrantes estivesse morrendo ao longo do caminho, inclusive próximo a Fillmore, as mortes pareceram resultado de uma doença que afetou os rebanhos nas jornadas da década de 1850. Os humanos contraíam a doença dos animais infectados através de cortes, ferimentos ou pelo consumo da carne contaminada. Sem essa compreensão moderna, as pessoas suspeitavam que o problema tivesse sido causado por envenenamento.

A escalada da tensão

O plano de atacar a companhia de emigrantes foi originado dentre a liderança local da Igreja em Cedar City, que havia sido recentemente alertada de que as tropas federais poderiam entrar a qualquer momento através da passagem ao sul de Utah. Cedar City era a última cidade na rota para a Califórnia para o reabastecimento de grãos e suprimentos, mas ali também os emigrantes se frustraram. Produtos básicos não estavam disponíveis na loja da cidade e o dono do moinho cobrou um boi inteiro — um preço exorbitante — para moer algumas dúzias de medidas de grãos. Semanas de frustrações logo cobraram seu preço. Com a tensão crescendo, um dos emigrantes alegou possuir a arma que matou Joseph Smith. Outros ameaçaram unir-se às tropas federais contra os Santos dos Últimos Dias. Alexander Fancher, capitão da caravana dos emigrantes, repreendeu esses homens.

As afirmações daqueles homens muito provavelmente foram ameaças vazias feitas no calor do momento, mas, no ambiente em transformação de 1857, os líderes de Cedar City levaram as declarações daqueles homens a sério. O delegado da cidade tentou prender alguns dos emigrantes sob a alegação de intoxicação pública e blasfêmia, mas foi forçado a recuar. A companhia de carroças seguiu seu caminho para sair da cidade cerca de uma hora depois, mas os agitados líderes de Cedar City não estavam dispostos a deixar o assunto morrer. Planejaram chamar a milícia local para perseguir e prender os ofensores e talvez confiscar parte de seu gado. Carne e grãos faziam parte da comida que os Santos dos Últimos Dias pretendiam usar para sobreviver se tivessem que fugir para as montanhas quando as tropas chegassem.

O prefeito de Cedar City, o comandante da milícia e o presidente de estaca Isaac Haight descreveram o descontentamento contra os emigrantes e pediram permissão para chamar a milícia em um despacho expresso ao comandante distrital da milícia, William Dame, que vivia nas proximidades de Parowan. Dame era também presidente da estaca de Parowan. Após convencer um conselho a discutir o assunto, Dame negou o pedido. “Não dêem importância às ameaças deles”, escreveu ele no despacho de volta à Cedar City. “Palavras são como o vento: elas não injuriam ninguém. Mas se eles (os emigrantes) cometerem atos de violência contra os cidadãos, informem-me imediatamente e tais medidas serão adotadas para assegurar a tranquilidade”. [James H. Martineau, “The Mountain Meadow Catastrophy,” July 23, 1907, Church Archives, The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints.]

Ainda querendo punir os emigrantes, os líderes de Cedar City então formularam um novo plano. Como não podiam usar a milícia para prender os ofensores, persuadiriam os índios Paiute para darem à companhia do Arkansas uma “lição”, matando alguns ou todos os homens e roubando seu rebanho. [John D. Lee, Mormonism Unveiled: The Life and Confessions of the Late Mormon Bishop, John D. Lee (1877), 219.]

en07sep17a_map
en07sep17b_map

O ataque foi planejado para uma parte da caravana para a Califórnia que fugiu por uma passagem estreita do cânion do Rio Santa Clara, várias milhas ao sul de Mountain Meadows. Essa área estava sob a jurisdição da milícia do Fort Harmony, liderada por John D. Lee, que foi convencido a participar do plano. Lee era também um “fazendeiro indígena” fundeado pelo governo federal para os índios Paiutes locais. Lee e Haight tiveram uma longa conversa durante a noite sobre os emigrantes, na qual Lee disse a Haight que acreditava que os Paiutes “matariam a todos, homens, mulheres e crianças” se fossem incitados a atacar. [Mormonism Unveiled, 220.] Haight concordou e os dois planejaram depositar toda a culpa pela matança aos pés dos índios.

Os normalmente pacíficos Paiutes relutaram quando foram apresentados ao plano pela primeira vez. Apesar de ocasionalmente assaltarem os estoques de emigrantes em busca de comida, não tinham tradição de ataques em larga escala. Mas os líderes de Cedar City prometeram-lhes uma pilhagem e os convenceram de que os emigrantes estavam alinhados com as tropas “inimigas” que matariam os índios junto com os colonos mórmons.

Em 6 de setembro, domingo, Haight apresentou o plano ao conselho de líderes locais que ocupavam posições eclesiásticas, civis e militares. O plano encontrou resistência dos que o ouviram pela primeira vez, produzindo um acalorado debate. Finalmente, o conselho de membros perguntou a Haight se ele havia consultado o Presidente Brigham Young a respeito. Respondendo que não, Haight concordou em enviar um mensageiro expresso a Salt Lake City com uma carta explicando a situação e pedindo orientação.

O cerco de cinco dias

Mas, no dia seguinte, pouco antes de Haight enviar a carta a Brigham Young, Lee e os índios fizeram um ataque prematuro ao campo de emigrantes em Mountain Meadows ao invés de no local planejado no cânion de Santa Clara. Vários dos emigrantes foram mortos, mas os que sobraram resistiram ao ataque, forçando um recuo. Os emigrantes rapidamente organizaram seus carroções em círculo, protegendo-se dentro dele. Dois outros ataques ocorreram nos dois dias seguintes dos cinco que durou o cerco.

Após o ataque inicial, dois milicianos de Cedar City, julgando ser necessário conter a volatilidade da situação, atiraram em dois cavaleiros emigrantes descobertos poucas milhas fora do círculo. Eles mataram um dos cavaleiros, mas o outro escapou e voltou para o círculo, levando a notícia de que os matadores de sua companhia eram homens brancos, não índios.

Os conspiradores foram apanhados em sua teia de enganos. Seu ataque aos emigrantes tinha falhado. Seu comandante militar logo saberia que eles tinham grosseiramente desobedecido suas ordens. Um despacho havia sido enviado a Brigham Young em Salt Lake City. Uma testemunha do envolvimento dos brancos havia espalhado a notícia dentre os emigrantes. Se os emigrantes sobreviventes fossem libertados e seguissem seu caminho para a Califórnia, logo se espalharia a notícia de que os mórmons estavam envolvidos no ataque. Um exército já se aproximava do território e, se a notícia de sua participação no ataque chegasse a eles, criam os conspiradores, resultaria em ação militar retaliatória que ameaçaria suas vidas e as vidas de seu povo. Além disso, esperava-se para qualquer dia a chegada de outras caravanas de emigrantes para a Califórnia em Cedar City e depois a Mountain Meadows.

Ignorando a decisão do conselho

Em 9 de setembro, Haight viajou a Parowan com Elias Morris, um dos dois capitães da milícia e seu conselheiro na presidência da estaca. Novamente, pediram permissão a Dame para convocar a milícia e, novamente, Dame reuniu o conselho de Parowan, que decidiu que homens deveriam ser enviados para ajudar os combalidos emigrantes a prosseguir em seu caminho em paz. Posteriormente, Haight lamentou: “Eu daria um mundo, se o tivesse, se tivéssemos sustentado a decisão do conselho”. [Andrew Jenson, notas da conversa com William Barton, Jan. 1892, arquivo Mountain Meadows, Jenson Collection, Church Archives.]

Ao invés, quando a reunião terminou, Haight e seu conselheiro encontraram Dame sozinho e compartilharam com ele informações que não tinham dito ao conselho: os emigrantes encurralados provavelmente sabiam que homens brancos estavam envolvidos nos ataques iniciais. Essa informação levou Dame, agora isolado do moderado consenso de seu conselho, a repensar sua decisão anterior. Tragicamente, ele cedeu. Quando a conversa terminou, Haight achou que tinha sua permissão para usar a milícia.

Na chegada a Cedar City, Haight imediatamente convocou duas dúzias de milicianos, a maioria policiais, para juntar-se aos que já esperavam próximo ao acampamento dos emigrantes em Mountain Meadows. Aqueles que haviam deplorado a violência contra seu próprio povo no Missouri e em Illinouis estavam agora prestes a virtualmente seguir o mesmo padrão de violência contra outros, mas em escala mortal.

O massacre

Na sexta-feira, 11 de setembro, Lee entrou no acampamento dos emigrantes com uma bandeira branca e, de certa forma, convenceu-os a aceitar termos perigosos. Ele lhes disse que a milícia os escoltaria em segurança na passagem pelos índios de volta a Cedar City, mas tinham que deixar para trás seus bens e entregar as armas, sinalizando aos índios suas intenções pacíficas. Os desconfiados emigrantes debateram o que fazer, mas, no fim, aceitaram os termos, já que não tinham alternativa melhor. Estavam sitiados há dias, com pouca água, os feridos estavam morrendo e não tinham munição suficiente para suportar mais um ataque.

Como combinado, as crianças mais novas feridas deixaram o acampamento primeiro, levadas em dois carroções, seguidos pelas mulheres e crianças que podiam andar. Os homens e garotos mais velhos ficaram por último, cada um escoltado por milicianos armados. A procissão marchou por cerca de uma milha até que, num sinal previamente combinado, cada miliciano virou-se e atirou no emigrante próximo a ele, enquanto os índios saíram de seus esconderijos para atacar as aterrorizadas mulheres e crianças. Os milicianos que acompanhavam os dois primeiros carroções mataram os feridos. Apesar dos planos de culpar os Paiutes pelo massacre — e dos persistentes esforços posteriores em fazê-lo —, Nephi Johnson depois susteve que seus companheiros milicianos foram responsáveis pela maior parte da matança.

Comunicado tardio

A mensagem expressa de resposta do Presidente Young a Haight, datada de 10 de setembro, chegou em Cedar City dois dias depois do massacre. Sua carta relatava notícias recentes de que não havia tropas do exército americano em condições de alcançar o território antes do inverno. “Portanto, vejam que o Senhor respondeu nossas preces e, novamente, evitou a desgraça concebida para cair sobre nossas cabeças”, escreveu ele.

“No que diz respeito às caravanas de emigrantes passando por nossos assentamentos”, prosseguiu Young, “não devemos interferir nelas antes de serem notificadas a seguirem seu curso. Vocês não devem se meter com elas. Esperamos que os índios façam o que acharem melhor, mas vocês devem tentar preservar um bom relacionamento com eles. Não há outras caravanas indo para o Sul, que eu saiba. (…) Os que estão lá devem deixá-los ir em paz. Apesar de precisarmos estar alertas e sempre prontos, devemos também possuir a nós mesmos com paciência, preservando-nos e tendo sempre em mente os mandamentos de Deus.” [Brigham Young to Isaac C. Haight, Sept. 10, 1857, Letterpress Copybook 3:827–28, Brigham Young Office Files, Church Archives.]

Quando Haight leu as palavras de Young, chorou como criança e só conseguiu dizer as palavras “tarde demais, tarde demais”. [James H. Haslam, entrevista por S. A. Kenner, relatado por Josiah Rogerson, Dec. 4, 1884, material impresso, 11, em Josiah Rogerson, Transcripts and Notes of John D. Lee Trials, Church Archives.]

Consequências

As 17 crianças sobreviventes, consideradas “novas demais para contar histórias”, foram adotadas por famílias locais. [John D. Lee, “Lee’s Last Confession,” San Francisco Daily Bulletin Supplement, Mar. 24, 1877.] Representantes do governo resgataram as crianças em 1859 e as devolveram aos membros de suas famílias no Arkansas. O massacre ceifou cerca de 120 vidas e afetou irremediavelmente as vidas das crianças sobreviventes e de seus parentes. Um século e meio depois, o massacre permanece sendo um assunto profundamente doloroso para seus descendentes e outros parentes.

Embora Brigham Young e outros líderes da Igreja em Salt Lake City tenham sabido do massacre logo após o ocorrido, a percepção da extensão do envolvimento dos assentados e os terríveis detalhes do crime só chegaram aos poucos ao longo do tempo. Em 1859, eles desobrigaram de seus chamados o presidente de estaca Isaac Haight e outros proeminentes líderes da Igreja em Cedar City que tiveram participação no massacre. Em 1870, excomungaram Isaac Haight e John D. Lee da Igreja.

Em 1874, um juri territorial acusou judicialmente nove homens por sua participação no massacre. A maioria deles eventualmente foi presa, embora apenas Lee tenha sido julgado, condenado e executado pelo crime. Outros acusados tornaram-se provas do Estado e outros ficaram foragidos da lei por muitos anos. Outros milicianos que participaram do massacre lutaram pelo resto de suas vidas contra um terrível sentimento de culpa e tiveram pesadelos recorrentes por causa do que fizeram e testemunharam.

As famílias dos homens que planejaram o crime sofreram com o ostracismo imposto por seus vizinhos ou com alegações de que maldições haviam caído sobre eles. Por décadas, os Paiutes também sofreram injustamente, pois muitos os consideravam culpados pelo crime, chamando-os e a seus descendentes de “quemiadores de carroções”, “selvagens” e “hostis”. O massacre tornou-se uma mancha indelével na história da região.

Hoje, alguns dos descendentes das vítimas do massacre e seus parentes são Santos dos Últimos Dias. Esses indivíduos estão em uma posição incomum, pois sabem como é ser um membro da Igreja e também um parente de vítima.

James Sanders é bisneto de Nancy Saphrona Huff, uma das crianças que sobreviveram ao massacre. “Ainda sinto dor; ainda sinto raiva e tristeza por causa do massacre”, disse o irmão Sanders. “Mas sei que as pessoas que fizeram isso responderão perante o Senhor e isso me traz paz”. O irmão Sanders, que serve como consultor de história da família em sua ala no Arizona, disse que saber que um ancestral seu foi morto no massacre “não afeta minha fé, pois ela é baseada em Jesus Cristo, não em nenhuma pessoa da Igreja”.

Sharon Chambers, de Salt Lake City, é bisneta da sobrevivente Rebecca Dunlap. “As pessoas que fizeram isso perderam seu rumo. Não sei o que havia em suas mentes ou em seus corações”, disse ela. “Sinto pesar pelo que aconteceu a meus ancestrais. Também sinto pesar pelo fato de haver quem culpe todo um grupo, ou toda uma religião, pelos atos de alguns”.

O Massacre de Mountain Meadows tem causado dor e controvérsia por 150 anos. Nas últimas duas décadas, os descendentes e outros parentes dos emigrantes e dos perpretadores têm às vezes trabalhado juntos para preservar a memória das vítimas. Esses esforços tiveram o apoio do Presidente Gordon B. Hinckley [décimo-quinto presidente da Igreja, falecido em janeiro de 2008], representantes do Estado de Utah e de outras instituições e indivíduos. Dentre os frutos dessa cooperação estão a construção de dois memoriais no local do massacre e a colocação de placas em homenagem aos emigrantes do Arkansas. Grupos de descendentes, líderes e membros da Igreja e autoridades civis continuam a trabalhar pela reconciliação e participarão de vários serviços memoriais neste mês em Mountain Meadows.

Leitura adicional recomendada: A Paz e a Violência entre os Membros da Igreja no Século 19

Visitado 4.257 vezes, 1 visita(s) hoje

78 comentários em “Esclarecendo o massacre de Mountain Meadows

  1. Houve um massacre, sim! Existem interpretações divergentes sobre o episódio, mas foi um massacre do qual nem crianças escaparam.

    1. Sim, Júlio, ninguém está negando que houve.

      A questão é que os críticos e opositores da Igreja, sem nenhuma prova confiável, acusam-na de conivência e a Brigham Young de ter ordenado o massacre. Isso é o que o artigo está a demonstrar que não é verdade.

  2. Caro Marcelo,
    A sua explicacao so aumentou o meu testemunho da veracidade da igreja. Que o senhor o abencoe. Obrigado.

  3. Rapaz! uma folha de uma arvore nao cai sem conhecimento de Deus!!! Na sabedoria divina a humanidade obedece ao fim de sua criação. Se fosse do interesse da humanidade, não teria havido a II guerra mundial, mas Deus permitiu, por um sábio propósito Seu, não entendemos porque Ele não elimina todo o mal da face da terra (nós não conseguimos eliminar do nosso coração que é bem mais fácil).

    O tal massacre tão exaustivamente comentado se enquadra perfeitamente. Não nos esqueçamos também que os que apertaram os gatilhos serão responsabilizados diante do tribunal divino, não importa se eram mormons ou não e receberao suas recompensas e castigos. Ou será que os nossos atos praticados aqui não terão peso na eternidade? Muitos creem que sim, espero que estejam enganados. Grato pela abertura deste canal, ferramenta de considerações, meditações e até de soluções para estes dias tão extraordinarios que vivemos no Brasil e no mundo. Reparou como nem foi sentido pela rapidez com que passou o ano da Copa?

    1. Oliveira escreveu:

      não entendemos porque Ele não elimina todo o mal da face da terra

      Um antigo profeta das Américas oferece uma resposta bem convincente para essa questão:

      “Porque é necessário que haja uma oposição em todas as coisas. Se assim não fosse, (…) não haveria retidão nem iniqüidade nem santidade nem miséria nem bem nem mal. (…) E para [Deus] conseguir seus eternos propósitos com relação ao homem, depois de haver criado nossos primeiros pais e os animais do campo e as aves do ar, enfim, todas as coisas criadas, era necessária uma oposição; até mesmo o fruto proibido em oposição à árvore da vida, sendo um doce e outro amargo. O Senhor Deus concedeu, portanto, que o homem agisse por si mesmo; e o homem não poderia agir por si mesmo a menos que fosse atraído por um ou por outro.” (2 Néfi 2:11,15-16)

      Justamente porque Deus concede que o homem aja por si mesmo, não impede coisas como massacres, guerras, homicídios e violências de todo tipo. Deus é tão misericordioso que nos concedeu o direito de plantar o que quiséssemos, mas também é tão justo que nos fará colher exatamente aquilo que plantamos. E, se formos prejudicados por causa das más escolhas de outros, seremos amplamente recompensados no devido tempo de Deus.

      Um abraço!

  4. Caro Marcelo,

    Confesso que fiquei muito assustado com esse fato infeliz de nossa religião, pesquisei em varios lugares e realizei até ligações internacionais para saber um pouco mais sobre o assunto, assunto esse que poucos membros da igreja aqui no Brasil sabem, mais fico feliz em saber da sua preocupação em deixar claro, baseado em fatos, o que ocorreu nessa data tão tristes para Igreja, para aqueles emigrantes e pelo legado triste que pessoas que infelizmente esqueceram de seus convênios batismais.

    Mesmo depois de tanta pesquisa e ligações, somente depois de ler de modo muito cuidadoso ficou muito claro pra mim!

    Obrigado!

  5. Se Brigham Yaung fosse um profeta de Deus Teria sido revelado anteriormente e evitado tudo isso, a final para que serve um profeta nessa igreja? No Meu ponto de vista ele apenas quiz se sair da culpa. Que conicidencia em 11 de setembro de 2001 outro massacre aconteça, como um sacrifício em massa, Brigham Yaung era Maçom. Coisa de Illuminates não acham.

    1. Você disse:

      Se Brigham Yaung fosse um profeta de Deus Teria sido revelado anteriormente e evitado tudo isso

      Por essa mesma lógica, podemos dizer que Jesus não era o Filho de Deus por Ele nada ter feito para evitar Sua crucificação nem o posterior massacre dos cristãos pelos romanos.

      Não é por aí, Gilberto.

      a final para que serve um profeta nessa igreja?

      Serve como porta-voz de Deus para a humanidade. O detalhe é que o profeta está tão sujeito à vontade de Deus quanto qualquer um de nós. Se, em Sua infinita sabedoria, Ele julgou apropriado não revelar a Brigham Young o que estava por acontecer, algum motivo teve, certo? Já que profeta algum pode mandar em Deus, o fato de Brigham Young não saber que o massacre iria acontecer de forma alguma o desqualifica como profeta, assim como o massacre dos primeiros cristãos não desqualifica Jesus como Filho de Deus.

      Brigham Yaung era Maçom

      E daí? Meu avô paterno também era, meu pai também era, meu ex-sócio é e só não sou também porque prefiro dedicar à família o tempo que estaria dedicando à maçonaria.

      Apenas para registro: não há rigorosamente nada errado em ser maçom. Quem acha que há revela não saber muita coisa (talvez nada) sobre a maçonaria.

      Coisa de Illuminates não acham.

      Não. 😉

      1. Boa tarde Marcelo, gostaria de dizer que estes teus dois argumentos relatados acima não são verdadeiros, pois Jesus Cristo sabia sim (pois não só as escrituras antigas o falavam mas o próprio Senhor o havia revelado) sobre a perseguição que sofreria e sua crucificação, assim como o próprio Salvador revelou aos seus discipulos e apostolos das perseguições e mortes que sofreriam. Vou te dar 3 exemplos de uma verdadeira revelação. 1 – Quando Samuel foi ungir ao futuro rei de Israel, o mesmo teria escolhido o irmão mais velho de Davi, mas o Senhor o revelou qual deverua realmente ser o escolhido. 2- Quando davi havia cometido adulterio, homicidio, etc e procurava esconder suas atitudes do povo, o Senhor revelou ao profeta Natã tudo. 3- Quando Ananias e Safira tentaram enganar Pedro sobre o valor do terreno vendido pelos mesmos, o Senhor através do E.S. revelou a mentira a Pedro.

        Você pode achar que sabe alguma coisa sobre Maçonaria (assim como seus parentes que são (ou foram)), pois só conhece os verdadeiros ensinamentos Maçons em Graus muito elevados. Como diz no finalzinho da abertura do Arquivo X: ” A verdade (não estou falando sobre espiritual agora) está lá fora”. Pesquise sobre as coisas que tem acontecido no mundo ultimamente e anteriormente e verá sobre a ligação entre Maçonaria e Iluminatis e as “coisas boas” que eles fazem e financiam. Grande abraço e Jesus é a unica verdade a se dar valor.

        1. Ricardo disse:

          Jesus Cristo sabia sim (pois não só as escrituras antigas o falavam mas o próprio Senhor o havia revelado) sobre a perseguição que sofreria e sua crucificação, assim como o próprio Salvador revelou aos seus discipulos e apostolos das perseguições e mortes que sofreriam.

          Pela lógica do Gilberto, isso piora ainda mais a situação, pois Jesus sabia e nada fez para impedir não só a própria morte como a dos primeiros cristãos. De novo, não é por aí.

          O Gilberto usou o fato de Brigham Young não ter sido antecipadamente alertado pelo Senhor do massacre como argumento para desqualificá-lo como profeta (aliás, ninguém sabe se ele realmente não sabia, embora eu creia que não) e eu contra-argumentei dizendo que isso não prova nada, pois quem decide o que deve ou não ser revelado é o Senhor, não o profeta. A sabedoria Dele está infinitamente acima da nossa para compreendermos por que Ele decide revelar algumas coisas e outras não. Tudo tem um propósito e todos compreenderemos tudo no devido tempo.

          Você pode achar que sabe alguma coisa sobre Maçonaria (assim como seus parentes que são (ou foram)), pois só conhece os verdadeiros ensinamentos Maçons em Graus muito elevados.

          O que você sabe sobre o quanto sei ou não? E o que você sabe sobre o quanto meus parentes e amigos maçons sabem ou em que graus estão? Não seja presunçoso.

          Permita-me contar-lhe uma coisa:

          Três décadas atrás, quando eu era recém converso na Igreja, contava-se todo tipo de boato e rumor contra os membros. Segundo se falava, as capelas escondiam armas no subsolo, os ornamentos metálicos em forma de agulha apontando para o céu usado nas capelas da época eram antenas de comunicação com o serviço secreto americano, os missionários eram agentes da CIA disfarçados e se fazia lavagem cerebral nos visitantes para que se convertessem. Como pude constatar por mim mesmo, tudo mentira. A única razão pela qual essas lendas ganhavam vida na boca do povo era a ignorância.

          A mesma ignorância que alimentava lendas e boatos sobre a Igreja é a que faz o mesmo em relação à maçonaria. Quando eu era missionário ouvi a primeira delas: que uma vez por ano os maçons escolhiam um membro de seu grupo para oferecer em sacrifício humano. Pura sandice!

          Então tudo que se tem contra a maçonaria são lendas, rumores, preconceito, desconfiança e teorias conspiratórias, do mesmo tipo que há contra a Igreja e que sei serem falsidades. Acredita quem quer. Você prefere crer que a maçonaria está envolvida nesse estado de coisas, eu prefiro crer que não e assim continuarei até haver alguma prova em contrário, coisa que em milênios de história nunca surgiu. E estou falando de comprovações irrefutáveis, não de meras desconfianças e acusações sem provas. Eis porque eu disse anteriormente que não há rigorosamente nada errado em ser maçom e que só não sou também porque prefiro dedicar à família o tempo que estaria dedicando à maçonaria.

          Jesus é a unica verdade a se dar valor.

          Concordo integralmente. Quem é fiel ao Senhor e se empenha em obedecer a Seus mandamentos (todos, não só a porção que lhe convém) não tem o que temer. Por isso mesmo não temo iluminatis, maçonaria ou coisa que o valha (até porque continuo não crendo nessas teorias conspiratórias que os catastrofistas de plantão adoram regurgitar). Se Deus está no comando e procuro ser fiel a Ele, o que tenho a temer?

          Um abraço!

          1. Eduardo Cioffi (e-mail educioffi72@h…), seu comentário foi apagado por ter sido desrespeitoso e provocativo, contrariando a instrução “se quer discordar, faça-o com educação e respeito”. Aceito críticas, sim, o que não aceito é falta de educação. Você poderá tentar novamente se o fizer demonstrando o mesmo respeito que espera receber dos outros. Favor ler a advertência em vermelho e segui-la se quiser garantir o direito de comentar.

  6. O comentário da leitora “mria antonieta sgonçalve” foi rejeitado por ter usado e-mail falso para publicá-lo (maria-PAX@hotmail.com), contrariando a instrução de não fazê-lo. Ela pode tentar novamente se usar um endereço verdadeiro.

  7. Obrigado Marcelo! Vc tem sido uma luz ao esclarecer essa historia de maneira imparcial. Precisamos de mais membros SUD com essa disposição e conhecimento para defender a verdade. Estou cada dia certo de que o reino de Deus está sendo estabelecido na terra e não será jamais interrompido por quem quer que seja. Nem essa historia do massacre e nenhuma outra vai sujar o bom nome da igreja. Esse grande exército vai continuar avante e o senhor tem nos convidado a tomarmos parte importante nele. Nossa maior arma? Nosso testemunho!!! QUE O PAI CELESTIAL O ABENÇOE CADA DIA MAIS.

    1. discordo totalmente das suas justificativas que vc intitula de comentarios. Rodeou, rodeou e qaunica coisa que vc fez foi confirmar o massacre impretrado pelos lunaticos que formam sua igreja, na época todos a servico do chefao da sua igreja. Houve o massacre e so nao podem ser mais condenados exatamente porque os meios de comunicacao eram precarios, isso nao e desvantagem para mal feitores.] e si vantagem. Bando de hipocritas lunaticos que sempre falam em nome de Deus a bel prazer e em proveito proprio. O que eu percebo e com certeza ‘e o que todos vcs devem aprovar ‘e destruir tudo o que se oponha a sua opiniao. Citando sua palavra acima !sumariamente” como fizeram nas montanhas.

        1. antes de escrever o meu comentario havia lido nao apenas esse artigo mas tambem outros que vc escreveu, bem como outros sobre esse terrivel genocidio, o que reforcou a minha opiniao. Nao pretendedo convence-lo para aceitar a minha opiniao, sei que ‘e uma tarefa impossivel. Mas sei que la no fundo da sua conciencia permeia a duvida de que tudo o que vc tenta justificar com seus artigos, tudo isso possa ser fruto de mentes doentias, que acreditam e infelizmente seguem a loucura fanatica de um homem mentalmente doente.

          1. Nice,

            Em primeiro lugar, que prova você tem de que Brigham Young era mentalmente doente que não seja a palavra de uma minoria composta por críticos, opositores e caluniadores da Igreja? Buscar a verdade sobre a Igreja pelo que dizem essas pessoas é tão produtivo e confiável quanto buscar a verdade sobre os judeus pelo que dizem os nazistas.

            Se você fosse uma investigadora imparcial, estaria interessada em buscar a verdade com Aquele que é o dono dela, ou seja, Deus. Ele tem boca e fala, portanto poderia dizer-lhe quem está falando a verdade, pois Ele sabe. Eis porque estou onde estou, afirmo o que afirmo e não me desculpo.

            Exatamente por isso chega a ser risível sua afirmação de que “la no fundo da sua conciencia permeia a duvida de que tudo o que vc tenta justificar com seus artigos, tudo isso possa ser fruto de mentes doentias”. Dizer que tenho qualquer fiapo de dúvida a respeito é o mesmo que dizer que não confio em Deus, ou que Ele pode estar enganado ou estar me enganando. Se assumimos como verdadeiro o pressuposto de que Ele é perfeito e, portanto, não pode mentir, não tenho o menor motivo para duvidar do que Ele me disse. Então, novamente, eis porque estou onde estou, afirmo o que afirmo e não me desculpo.

            Portanto, você tem razão: você jamais conseguirá me convencer da sua opinião. E isso por um motivo bem simples: entre a opinião de Deus e a sua, fico com a Dele. 😉

            Se você um dia conseguir exercer uma partícula de fé para buscar a verdade com Ele em vez de com homens sujeitos a falhas, maledicências e influências enganosas, talvez consiga saber com a plena e absoluta segurança que só Deus pode dar quem tem razão.

            Um abraço!

        2. Massacre mórmon volta à tona 146 anos depois
          Igreja Mórmon é pressionada por parentes de vítimas da chacina de Monte Meadows a pedir desculpas
          SALLY DENTON
          The New York Times

          SANTA FÉ, Novo México – Neste verão, quando as famílias perambularem por todos os Estados Unidos visitando locais históricos, existe um local – o Monte Meadows, no sudoeste de Utah – que não fará parte de muitos itinerários. O Monte Meadows, que fica a duas horas de carro de um dos destinos turísticos mais populares do Estado, o Parque Nacional Zion, é o local que o historiador Geoffrey Ward chamou de “o exemplo mais hediondo do custo humano cobrado pelo fanatismo religioso na história americana até o 11 de setembro”.

          E embora possa não ser um destino turístico importante, por um século e meio o massacre tem sido o foco de um debate acalorado entre os mórmons e a população de Utah. É uma discussão que atinge o cerne dos dogmas básicos do mormonismo. Isso, a mancha mais escura da história da religião, é uma realidade amarga e uma situação desafiadora para a moderna Igreja Mórmon, que luta para se livrar de sua história de extremismo.

          Em 11 de setembro de 1857, em um monte no sudoeste de Utah, uma milícia da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ou mórmons, atacou um comboio de famílias de Arkansas a caminho da Califórnia. Após um cerco de cinco dias, a milícia convenceu as famílias a se entregarem sob a bandeira da trégua e a promessa de travessia segura. Então, na pior carnificina de pioneiros brancos contra outros pioneiros brancos de toda a história da colonização dos EUA, aproximadamente 140 homens, mulheres e crianças foram mortos. Só 17 crianças com menos de 8 anos – a idade da inocência pela crença mórmon – foram poupadas.

          Após a matança, a igreja primeiro alegou que os responsáveis tinham sido os índios Paiute, mas, à medida que surgiram provas do envolvimento dos mórmons, a igreja pôs toda a culpa em John D. Lee, um membro da milícia e mórmon fanático que também era o filho adotado do profeta Brigham Young.

          Após quase duas décadas, como parte de um acordo para a transformação em Estado, Lee foi fuzilado em 1877. A igreja tem consistentemente negado a responsabilidade – rotulando Lee de renegado -, mas muitos historiadores acreditam que os líderes mó+rmons, embora nunca tenham sido processados judicialmente, ordenaram o massacre.

          Agora, passados 146 anos, os descendentes de Lee e os parentes das vítimas vêm pressionando a Igreja Mórmon por um pedido de desculpas. O movimento por algum reconhecimento oficial por parte da igreja começou no final da década de 80, quando um grupo de descendentes de Lee, entre eles um ex-secretário do Interior dos EUA, Stewart Udall, começou a trabalhar para limpar o nome de seu ancestral.

          Em 1990, descendentes das vítimas e dos perpetradores começaram a insistir com a Igreja Mormon para admitir a responsabilidade pelo morticínio e para reconstruir um marco em ruínas levantado no local por soldados do Exército americano, em 1859.

          O atual presidente da Igreja, Gordon B. Hinckley – ele próprio um profeta que diz receber revelações divinas – tomou um interesse pessoal pelo episódio e, em 1998, concordou em restaurar o marco, onde ao menos alguns dos corpos estavam enterrados. Mas mesmo essa concessão acabou criando uma polêmica quando, em agosto de 1999, uma escavadeira da empreiteira contratada pela igreja desenterrou acidentalmente os ossos de 29 vítimas.

          Após um debate entre autoridades de Utah e líderes da igreja sobre leis estatuais que exigem que ossos desenterrados sejam examinados por legistas para determinar a causa da morte, a igreja mandou enterrar rapidamente os restos mortais sem um exame mais detalhado que poderia ter chamado a atenção para a brutalidade dos assassinos. Um mês depois, em 10 de setembro de 1999, quando descendentes dos autores e das vítimas se reuniram para inaugurar um monumento financiado pela igreja no qual esperavam que houvesse um serviço religioso “curador”, ambos os lados ficaram desapontados pelos comentários de Hinckley.

          Ele continuou a negar a responsabilidade da igreja, chegando a acrescentar uma exoneração de responsabilidade jurídica que muitos consideraram afrontosa. “Que aquilo que nós fizemos aqui nunca seja interpretado como uma admissão por parte da igreja de qualquer cumplicidade nas ocorrências daquele dia fatídico”, disse. Muitos consideraram esse discurso uma tentativa de evitar processos judiciais.

          Mas a recusa da igreja em desculpar-se é mais complicada. Numa época em que religiões no mundo inteiro estão reconhecendo e mostrando arrependimento pelos pecados do passado, o massacre deixou a Igreja Mórmon num dilema.

          Católicos romanos se desculparam pelo seu silêncio durante o Holocausto, metodistas unidos, pelo massacre de índios americanos durante a Guerra Civil americana, batistas sulistas, pelo apoio à escravidão, e luteranos, pelos comentários anti-semitas feitos por Martin Luther King.

          Mas, diferentemente dos líderes de outras religiões que se acreditam guiados pela mão de Deus, os profetas mórmons são considerados uma extensão de Deus.

          O reconhecimento da cumplicidade por parte dos líderes da igreja poria em dúvida a questão da divindade de Brigham Young e a crença mórmon de que são o povo escolhido por Deus.

          Acreditando estar fazendo trabalho de Deus livrando o mundo de “infiéis”, os fanáticos mórmons evangélicos cometeram uma das maiores atrocidades civis em solo americano. Sem uma verdadeira tentativa de prestação de contas e reparação, a igreja não escapará da sombra desse crime horrível que paira sobre ela.

          Sally Denton é autora do livro American Massacre: The Tragedy at Mountain Meadows, September 1857 (Massacre Americano: A Tragédia no Monte Meadows, Setembro de 1857)

          1. Nice, com esse artigo você está meramente chovendo no molhado. Veja porque:

            1. O artigo é velho, tem 10 anos de idade (2003) e foi produzido a partir da opinião de UMA única pessoa (Sally Denton). Os fatos que apresento no artigo que traduzi acima são mais recentes (2007) e fruto de pesquisas realizadas por uma EQUIPE de historiadores de dentro e de FORA da Igreja também. Portanto, qual tem mais chance de ser historicamente confiável?
            2. Uma equipe de pesquisadores liderada por Robert H. Briggs dedicou-se a escrutinar o livro de Sally Denton e descobriu ser mais esburacado que peneira de garimpeiro em termos de acuidade histórica. As conclusões a que essa equipe chegou estão publicadas no artigo Sally Denton’s American Massacre: Authentic Mormon Past versus the Danite Interpretation of History, o qual, se você for uma investigadora realmente imparcial, vai querer ler do início ao fim.

            Talvez depois disso você acabe concluindo que, realmente, a Igreja não tem motivo algum para se desculpar e, na minha opinião, jamais o fará.

            Boa leitura e um abraço!

  8. M Todaro,

    Assunto Massacre…. esgotadíssimo. Poderia nos brindar com outros esclarecimentos como: quando da expulsão dos mormons antes de chegarem ao Lago Salgado foram expropriados de tudo o que tinham, até de suas proprias vidas e nada foi feito. Exceto a revogação da lei de exterminio do Gov.Boggs a alguns anos atrás.E o massacre em Haun’s Mills? E muitos outros? Até breve.

    1. Oi, Clóvis.

      Sobre a expulsão dos pioneiros SUD, não há muito o que dizer além do que já está exaustivamente coberto nos livros de história da Igreja, inclusive no aspecto legislativo.

      Sobre o massacre de Haun’s Mill, você pode ler esclarecimentos aqui:

      http://eom.byu.edu/index.php/Haun's_Mill_Massacre

      Quanto aos “muitos outros”, desconheço.

      O episódio conhecido como Massacre de Mountain Meadows foi o mais dramático dos que envolveram membros da Igreja, por isso fala-se mais dele do que de outros e era o que precisava de um esclarecimento mais profundo. Contudo, nunca é demais lembrar que, ao contrário do que dizem alguns críticos, não há absolutamente nenhum documento histórico confiável que atribua aos líderes ou ao presidente da Igreja na época qualquer parcela de culpa pelo ocorrido. Foi um ato isolado de uns poucos membros que decidiram agir à revelia da liderança da Igreja e por isso foram severamente punidos, tanto no aspecto eclesiástico quanto no cível — tanto que, como dito no artigo, descendentes das vítimas hoje congraçam-se com a Igreja.

      Um abraço!

  9. obrigado por esclarecer tão bem este assunto porque ja ouvi falar de muitas versões diferentes e muito bom finalmente saber a verdade um grande abraço e parabens

  10. Porquê o povo não seguia o governo vigente?
    Porquê lutar contra o próprio país?
    Porquê pegar em armas…?
    Os imigrantes tinham todo direito civil de atravessar os USA pois eram AMERICANOS!!!
    Quando Young falou… deixe que os indios façam o que quiserem? poxa! ELE NÃO ERA PATRIOTA NÃO?
    Pior cego é o que vendo diz que não vê para agradar.
    Eu sou brasileiro! Tenho orgulho disso. E se um irmão precisa de ajuda eu ajudo seja paulista, carioca , baiano.
    Não vejo patriotismo nas ações de Young. Vejo uma necessidade de criar um estado idempendente.
    Esqueceram, que os USA foi comprado com sangue?
    Não acredito que Young mandou executar os imigrantes.
    Acredito que um grupo de fanáticos fez isso.
    Porém, se Young ensinasse PATRIOTISMO!!! AMOR A BANDERIA ETC..!!!
    talvez os malucos do vale, tivessem visto irmãos imigrantes e não ameça.
    Quem não segue a lei do país é perseguido. O estado tem que se impor.
    A terra tem dono! Tem sangue derramado nela…
    (esqueceu de mencionar que os malucos do vale foram fuzilados pelo exercito dos USA)
    sem mais…

    1. Heber disse:

      Quando Young falou… deixe que os indios façam o que quiserem? poxa! ELE NÃO ERA PATRIOTA NÃO?

      (…)

      Não vejo patriotismo nas ações de Young.

      (…)

      Porém, se Young ensinasse PATRIOTISMO!!! AMOR A BANDERIA ETC..!!!
      talvez os malucos do vale, tivessem visto irmãos imigrantes e não ameça.

      Não entendi sua crítica. Se Brigham Young mandou que deixassem os imigrantes em paz, onde está a falta de patriotismo nisso?

      Além do mais, Young nem precisava ter mandado nada, bastava que os perpretadores do massacre simplesmente seguissem os ensinamentos da Igreja à qual diziam pertencer. O Evangelho de Jesus Cristo nos ensina a amar nosso semelhante e o que aqueles homens demonstraram foi tudo menos amor.

      Não bastasse isso, a décima-segunda de nossas Regras de Fé diz:

      “Cremos na submissão aos reis, presidentes, governadores e magistrados, na obediência, honra e manutenção da lei.”

      Quer coisa mais patriótica que isso?

      Por todos os aspectos, o massacre foi algo injustificável e indesculpável. Mas a pressa de alguns em buscar culpados acaba levando-os a apontar o dedo para a pessoa errada. Numa época em que não havia telefones celulares nem Internet para levar uma mensagem de forma instantânea a alguém que estava há vários dias de viagem a cavalo, simplesmente não havia como a ordem de Brigham Young chegar a tempo para evitar o massacre. Então não sejamos apressados e injustos em nossos julgamentos. Brigham Young não teve nada a ver com isso, nem mesmo a alegada “falta de patriotismo”.

      Um abraço!

      1. Por que Isaac Chauncey Haight, prefeito de Cedar City, aceitou as crianças do massacre, sem perguntar a razão, suponha-se?
        Por que Isaac Chauncey Haight não identificou e puniu o responsável, já que não partiu dele a ordem? Foi melhor esperar o governo americano fazê-lo? Assim como, posteriormente, na reconstrução do monumento, ao encontrarem 20 ossadas do massacre, (outro prefeito) mandar enterrar rapidamente sem perícia, obrigatória no Estado de Utah?
        Que líder é esse que, abençoado por revelações divinas, não percebeu a “conspiração” debaixo da sua barba?
        William H. Dame também não sabia de nada? Lulas?
        Que ser humano, eleito e iluminado por Deus, LÍDER de uma seita eleita e iluminada,participaria de um massacre desses? O que os motivaram a isso? Esse é o discernimento de um mórmon?
        Que igreja é essa que já pregou a ideia de Deus Adão, que já praticou a poligamia, que não deu sacerdócios aos negros por serem descendentes de Caim, que relata que seus ensinamentos vieram de um livro de ouro de 130 kg (ou de aparência de ouro, de uma liga… que liga?) que não se sabe o paradeiro nem o paradeiro de onde foi tirado (nem com os quinze profetas videntes e reveladores) e ainda sela o seu início com um massacre desses?
        Acho então que você concorda plenamente com Dallin H. Oaks:
        “Você não pode criticar os líderes da igreja, ainda que sua crítica seja verdadeira.”

        http://www.legendsofamerica.com/ut-mountainmeadowshistoricaccounts10.html

        1. Caro Roberto,

          Você não faz ideia do quão cansativo e desanimador é ter que ficar respondendo sempre aos mesmos velhos batidos e já devidamente refutados argumentos de sempre. Vocês, críticos, parecem sofrer de uma umbilical falta de imaginação ao criticar. Só ficam regurgitando sempre as mesmas velhas histórias como se ninguém nunca as tivesse regurgitado antes, aí o ciclo fica se repetindo ad nauseam. Muito chato isso.

          Se você tivesse feito a si mesmo o favor de ler mais dos comentários anteriores talvez nem tivesse escrito nada. Então, por favor, faça-o e, se tiver algo novo a dizer, sinta-se à vontade.

          Um abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *