‘Páscoa não é isso’

Publicado em 23 de março de 2008 e atualizado em 27 de novembro de 2023

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Uma das atividades que exerço por profissão é escrever artigos sobre tecnologia para meu site AppleMania.info. Escrevo sobre tudo que diga respeito à Apple, empresa que produz os que são considerados os melhores computadores, telefones celulares e tocadores MP3 do mundo. É um trabalho que gosto muito de fazer, pois com ele, dentre outras coisas, ajudo a formar opiniões.

Desde que inaugurei o site, há um ano, sua popularidade deu um salto espetacular. O número de visitas cresceu mais de mil porcento no período. O site ganhou grande visibilidade e credibilidade. A maior prova disso é o interesse de agências de publicidade em incluir o site em sua relação de veículos de comunicação para os quais intermedia anúncios publicitários de seus clientes.

Nesses doze meses de trabalho já passei por diversas datas comemorativas: páscoa, dia das mães, São João, dia dos pais, independência, finados, Natal, etc. Sempre que uma dessas datas especiais se aproxima, gosto de colocar no site alguma mensagem edificante alusiva à data. Geralmente o faço através de um banner exibido em todas as páginas do site.

Com a proximidade da Páscoa deste ano, tive o desejo de fazer o mesmo. Então pensei em criar um banner bem simpático exibindo ovos e coelhos de chocolate junto com a expressão “Feliz Páscoa”. Cheguei a começar a procurar na Internet imagens de ovos e coelhos de chocolate com as quais poderia compor meu banner. Mas, tão logo comecei a pesquisa, o Espírito do Senhor me disse: “Páscoa não é isso”.

É verdade, não é mesmo. Eu estava tão envolvido pela onda cultural tradicional dos ovos e coelhos de chocolate que nem tinha me dado conta de que iria agir como um papagaio, repetindo o que o mundo faz sem meditar sobre o que significa. Eu não poderia fazer isso. Sou um portador do sacerdócio. Já que conheço o Evangelho e o verdadeiro significado da páscoa e disponho de um bom veículo de divulgação, tenho a obrigação de passar adiante a verdadeira mensagem.

Ovos, chocolate e coelhinhos

Antes de criar uma nova arte para o banner, fui procurar as raízes da tradição dos ovos e do chocolate. Descobri que alguns historiadores sugerem que muitos dos atuais símbolos ligados à páscoa são resquícios culturais da festividade de primavera (no hemisfério norte) em honra de Eostre, deusa pagã da fertilidade e do renascimento nas mitologias anglo-saxã, nórdica e germânica. Depois da cristianização dos pagãos germânicos, esses símbolos foram assimilados às celebrações da páscoa judaica. Persas, romanos, judeus e armênios tinham o hábito de oferecer e receber ovos coloridos por esta época.

Um ritual importante ocorria no equinócio da primavera, onde os participantes pintavam e decoravam ovos (símbolo da fertilidade) e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Este ritual foi adaptado pelo catolicismo romano no principio do 1º milênio depois de Cristo, fundindo-o com outra festa popular da época chamada de páscoa.

O hábito de dar ovos de verdade (geralmente de galinha) vem da tradição pagã. É uma tradição muito, muito antiga. Centenas de anos antes da era cristã, na Ucrânia já se trocavam ovos pintados com motivos de natureza em celebração à chegada da primavera. Os chineses e os povos do Mediterrâneo também tinham como hábito dar ovos uns aos outros para comemorar a estação do ano. Para deixá-los coloridos, cozinhavam-nos com beterrabas. Mas os ovos não eram para ser comidos, e sim serviam apenas como presente que simbolizava o início da vida.

A tradição de homenagear essa estação do ano continuou durante a Idade Média entre os povos pagãos da Europa. Eles celebravam Ostera, a deusa da primavera, simbolizada por uma mulher que segurava um ovo em sua mão e observava um coelho, representante da fertilidade, pulando alegremente ao redor de seus pés.

Foi o imperador romano Constantino, no Concílio de Nicéia, realizado no ano 325, que introduziu no cristianismo o culto à data e adotou a imagem do ovo para festejar a páscoa da ressurreição de Jesus. Na época, pintavam-se os ovos (geralmente de galinha, gansa ou codorna) com imagens de figuras religiosas, como o próprio Jesus e Sua mãe, Maria. O Concílio estabeleceu também de que maneira a data comemorativa da páscoa cristã seria calculada a cada ano: no primeiro domingo após a primeira Lua cheia da primavera (no hemisfério norte).

Na Inglaterra do Séc. X os ovos ficaram ainda mais sofisticados. O rei Eduardo I (900-924) costumava presentear a realeza e seus súditos com ovos banhados em ouro ou decorados com pedras preciosas na Páscoa. Não é difícil imaginar por que esse hábito não durou muito.

Foi só no Séc. XVIII que confeiteiros franceses tiveram a idéia de fazer ovos de chocolate — iguaria que aparecera por volta de 1500 a.C. na região do Golfo do México. A imagem do coelho apareceu na mesma época, associada à criação por causa de sua grande prole.

A páscoa dos judeus

Mas, como o Espírito me alertou, páscoa não é nada disso.

A páscoa teve sua origem com os israelitas do tempo de Moisés, profeta do Velho Testamento, e nada tinha a ver com ovos, coelhos ou chocolate. Foi uma festa criada pelos judeus em lembrança da época em que o anjo destruidor passou por suas casas sem levar seus filhos e libertou-os do cativeiro e da escravidão no Egito (veja Êxodo 12:21–28). Os cordeiros sem mancha, cujo sangue foi usado como sinal para salvar a Israel antiga, eram um símbolo de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, cujo sacrifício redimiu toda a humanidade.

Quando Cristo foi morto e ressuscitou, Sua ressurreição aconteceu no domingo em que os judeus comemoravam essa páscoa. Desse dia em diante, a páscoa passou a representar Sua ressurreição -– já que o sacrifício simbolizado pela antiga páscoa já havia sido cumprido. O que comemoramos hoje em dia na páscoa, portanto, é a ressurreição de Cristo, a mesma da qual todos nós desfrutaremos daqui a algum tempo.

A grande importância da ressurreição de Cristo

Na Conferência Geral de abril de 1999, o Pres. Gordon B. Hinckley disse: “[A ressurreição de Cristo] não foi uma coisa sem importância. Não hesito em dizer que esse foi o maior acontecimento da história da humanidade. (…) Somente um Deus poderia ter feito o que Ele fez.”

No mesmo discurso, o Pres. Hinckley discorre sobre como a ressurreição de Cristo afeta a todos nós, diretamente: “Graças a Seu sacrifício redentor, todos os homens se levantarão do sepulcro. Ele abriu o caminho pelo qual podemos alcançar não apenas a imortalidade, mas também a vida eterna.”

Ainda hoje a data da páscoa parece ter grande importância para o Salvador. Em D&C 110 lemos a descrição da visita que Ele, Moisés, Elias e o outro Elias (o profeta) fizeram ao profeta Joseph Smith e a Oliver Cowdery por ocasião da dedicação do primeiro templo da era moderna, o Templo de Kirtland, em 3 de abril de 1836. Parece bastante significativo o fato de que aquela data era um domingo de páscoa. E não ficarei minimamente surpreso se a Segunda Vinda do Salvador acontecer também num domingo de páscoa.

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Páscoa remete à Expiação e ressurreição de Cristo, não a ovos e coelhos de chocolate. Por isso, o banner que criei para o AppleMania foi o que se vê ao lado. Do dia em que foi posto no site até hoje, deve ter sido exibido cerca de meio milhão de vezes. Espero que minha pequena contribuição tenha sido eficaz em lembrar o leitor do verdadeiro significado da páscoa.

Ah, e boa páscoa para você. 🙂

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