Publicado em 14 de outubro de 2007 e atualizado em 5 de março de 2024
Referente a outubro de 1998
Quando estiver escrevendo novamente, no fim do próximo mês, já estarei de volta ao Brasil. Estou ansioso por isso. Viver na Europa está sendo uma experiência fascinante, mas nenhum lugar é como nossa própria casa, junto de nossa própria família, em meio a nossas próprias coisas.
O trabalho segue a passos largos. Estive na Alemanha com alguns colegas de trabalho para fazer uma apresentação para uma grande empresa sediada na cidade de Lippstadt. Tudo indica que sairemos vencedores da concorrência, o que significa que teremos muito trabalho pela frente.
Estamos também participando de outra concorrência, desta vez para o Citibank. As possibilidades são muitas.
Numa conversa informal, há poucos dias, meu chefe inglês me disse que terei que escolher onde vou querer morar. Ele acha que não vou gostar de morar aqui na Holanda e que eu iria gostar muito mais da Inglaterra. Falamos até da questão do visto de permanência (a Inglaterra é um país rigoroso neste aspecto), mas ele garantiu que isso não seria problema no meu caso.
Voltarei ao Brasil com vários desafios a enfrentar. Escolher onde morar é um deles. Nunca pensei que enfrentaria um dilema desses alguma vez na vida. Estou dividido. Não estaria não fosse meus pais que, ficando velhos e doentes, precisam de minha atenção.
Deixar o Brasil para me estabelecer, por exemplo, na Inglaterra, implicaria em alguns sacrifícios, como o de só poder ver minha família de tempos em tempos, viver de favor ou em aperto financeiro por algum tempo e privado dos confortos que tenho em casa. Por outro lado, isso me lembra de sábios dizeres que ouvi recentemente: “Faça um sacrifício no começo da vida para não ter que fazer no fim”.
Deixarei a Europa entendendo um pouco melhor a natureza humana. Tive a oportunidade de ver que os povos são muito mais parecidos uns com os outros do que supunha, limitado pelo campo de visão de quem nunca havia saído do próprio país. Mesmo num país que é um dos mais ricos do mundo, as pessoas têm mais ou menos os mesmos hábitos, conceitos e pensamentos que estava habituado a ver dentre meu próprio povo.
A convivência com meu chefe holandês também me ajudou a entender melhor os holandeses e seus costumes. É pena que, sem falar holandês, eu não tenha podido ser mais sociável.
Estou chegando ao fim desta etapa mais evoluído como pessoa e como profissional. Como eles mesmos aqui afirmaram, agora estou me tornando internacional, um mérito que não devo a outra coisa senão a mais uma das bênçãos desmerecidamente recebidas de Deus. Disso, aliás, não tenho dúvidas, e ainda vou cravar meus joelhos no chão em gratidão por isso.