Publicado em 1 de janeiro de 2007 e atualizado em 8 de abril de 2024
No escritório da missão, em Porto Alegre, recebi mais instruções e treinamento adicional. O presidente da missão nos ofereceu um jantar em sua casa. Tivemos uma reunião de testemunhos e tiramos fotos para mandar às nossas famílias. Viajei para Pelotas no dia seguinte, onde encontrei meu primeiro companheiro, paulista como eu.
Ele também havia chegado naquele dia e encontrou uma casa que mais parecia um chiqueiro. Nosso primeiro dia de trabalho no campo missionário foi ensinando as baratas a cairem fora de nosso quarto e limpando a sujeira, tornando-a um ambiente mais ou menos digno de abrigar missionários.
Nos primeiros dias caminhei como nunca na vida pensei ser capaz de fazer. Nossa área é imensa e o transporte difícil, por isso somos obrigados a percorrer quilometros a pé. De tanto andar, meus pés se encheram de bolhas e doiam terrivelmente, quando não sangravam. Sentia-me como se pisasse em espinhos. A dor atrapalhava muito o trabalho. Para complicar, meu tornozelo esquerdo inchou e acrescentou ainda mais dor, como se já não bastasse a das bolhas que insistiam em aparecer em diversos pontos dos pés. Houve um dia no qual não pude sair de casa porque, de tão inchado, meu pé esquerdo parecia uma bola.
Desde que chegamos alcançamos notáveis progressos em termos de horas de proselitismo, palestras e pessoas desafiadas para o batismo. Não era o ideal, mas a engrenagem começou a virar e ganhar velocidade.
Nossos líderes de distrito promoveram uma exposição em praça pública através da qual ganhamos referências de pessoas interessadas em conhecer a Igreja. Queríamos alcançar nossas metas a partir desse contato direto com as pessoas na rua.
Tal como previ, estou tendo dificuldades neste início de missão. Creio que a primeira e maior delas é o desenvolvimento de uma virtude importante para um missionário: paciência. Paciência com o companheiro, com as regras da missão, com as pessoas e com minhas próprias limitações. A segunda é a humildade para aceitar certas coisas.
Aconteceu no dia 20 a Conferência do Distrito de Pelotas. As autoridades discursaram para uma capela lotada. Dentre todos os discursantes, quem mais me marcou foi a irmã Drechsel, esposa da autoridade geral Élder Drechsel. Ao fim da conferência, fui ao púlpito me despedir dela e do presidente da missão. Mas quando ela bateu os olhos em mim, foi como se tivesse visto algo espantoso. Apertou fortemente minhas mãos, me olhou bem fundo nos olhos e assim me fitou por alguns instantes. Em seguida, abraçou-me como a um filho e, com lágrimas nos olhos, sussurrou em meu ouvido: “Você é um grande espírito. Confie no Senhor e segure sempre Sua mão. Foi muito bom ter te encontrado!”
As palavras de irmã Drechsel passaram um bom tempo ressoando em minha cabeça como se estivessem numa câmara de eco. Estou intrigado. Que teria ela visto? Talvez eu só saiba quando voltar a ser espírito.
Como fruto de nosso primeiro mês de trabalho e de meu primeiro mês na missão tivemos nossos primeiros batismos. Não foram as primeiras pessoas que batizei na vida, mas as primeiras na missão. A diferença estava no ensino e no acompanhamento dessas pessoas em seu embrionário progresso espiritual. A alegria de batizar é muito maior quando os candidatos são pessoas que encontramos, ensinamos e acompanhamos.
Neste primeiro mês meu companheiro me ensinou muitas lições. Comparado a ele, sou uma ilha de orgulho e um poço de sabedoria temporal, enquanto ele é um oásis de humildade e uma nascente de devotada fé no Senhor. Muitas vezes ele nem precisa abrir a boca para me repreender, porque seu exemplo vale mais que muitos discursos.
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