A fé é racional, senão não é fé, é fideísmo

Publicado em 18 de dezembro de 2010 e atualizado em 5 de março de 2024

Gosto muito do Programa do Jô, mas o horário em que é apresentado me costuma ser proibitivo. Como também não tenho tempo para ficar assistindo vídeos do programa no site, acho bastante significativo o fato de que, numa das raras oportunidades que tenho de procurar no site alguma entrevista interessante para assistir, eu tenha tropeçado justamente na do arqueólogo Rodrigo Pereira da Silva (veja video da entrevista no fim do artigo).

Há duas semanas o programa exibiu entrevista com ele, que é pós doutor em arqueologia bíblica pela Andrews University (EUA). Ele mostrou na entrevista alguns artefatos contemporâneos de Jesus Cristo. No meio da entrevista, introduziu o assunto ressurreição de Jesus falando de vários dos muitos elementos históricos que comprovariam esse fato.

Chamou-me a atenção a quase irracional teimosia do Jô em duvidar desses elementos históricos para sustentar que crer ou não na ressurreição de Jesus — e, portanto, no testemunho dos apóstolos e no de uma multidão de pessoas que estiveram com Ele após Sua ressurreição — é uma mera questão de fé, não um fato comprovável por qualquer meio. É o mesmo que dizer que daqui a 2 mil anos dependerá da fé acreditar no que hoje está escrito neste artigo, mesmo depois de já ter sido lido dezenas de milhares de vezes (veja contagem no fim do artigo). Juro como eu queria estar no lugar de Rodrigo naquele momento para dizer ao Jô umas coisas. Mas isso foi antes de ouvir a estupenda resposta de Rodrigo, tão estupenda que deixou até o próprio Jô sem palavras.

Em resumo, Rodrigo concordou com ele sobre ser uma questão de fé, mas não deixou a coisa restrita ao vácuo factual em que a fé costuma ser compartimentalizada pelos que não a entendem. Nesse ponto, Rodrigo pronunciou a frase que, de tão abrangente e verdadeira, motivou até este artigo: “A fé é racional, senão não é fé, é fideísmo”.

A reação de rendida surpresa de Jô atiçou minha curiosidade sobre o termo do qual eu nunca havia ouvido falar. Imediatamente parei o vídeo da entrevista para procurar o significado de fideísmo. Segundo a Wikipédia, fideísmo é:

Doutrina religiosa que prega que as verdades metafísicas, morais e religiosas, como a existência de Deus, a justiça divina após a morte e a imortalidade, são inalcançáveis através da razão, e só serão compreendidas por intermédio da fé.

(…)

Os fideístas procuram se esquivar de qualquer tipo de argumentação para que possam apoiar sua fé em Deus sem qualquer tipo de racionalização. Porém, esta corrente teológica é flagrada em aparente contradição quando utiliza a própria razão para expor sua doutrina e depois negar seu emprego em questões de fé.

Não foi só o Jô que ficou de boca aberta com a conclusão de que fé irracional é fideísmo: eu também. Nunca tinha pensado nisso. Fiquei feliz em comprovar o que eu intuitivamente já sabia: não sou fideísta. Não creio por crer, meramente. Não lido bem com o que não tem racionalidade ou lógica. Eis porque sou fã do personagem Sr. Spock, da série Jornada nas Estrelas. Acho até que, se eu tivesse nascido no Séc. XXIII, seria um vulcano ideal.

Sou perfeitamente capaz de apresentar a quem quiser saber o bem definido racional de minha fé. Racionalidade e lógica têm a ver com inteligência. E sabemos que “a glória de Deus é inteligência” (D&C 93:36) e que “a inteligência apega-se à inteligência” (D&C 88:40). Portanto, quanto mais inteligente eu me tornar, mais atraído pela inteligência vou me sentir. Como não há no Universo ser mais inteligente que o Criador nem obra mais inteligente que a da Criação, isso explica meu instintivo apego a Ele e às Suas obras.

Mas essa é só parte da explicação do racional de minha fé. O ingrediente que a completa surgiu quando comecei a agir de acordo com minha fé para conhecer a opinião do Criador sobre certas coisas. Como nunca neguei a Ele o direito de Se expressar com posturas soberbas ou presunçosas como a de que já sei o suficiente, ou Ele não fala, ou Ele não existe, e fui atrás de respostas por meio do estudo e da fé, obtive a magnífica recompensa de começar a receber respostas Dele, uma após outra, cada uma a Seu tempo e a Seu modo. Então fui levado a desenvolver com Ele um relacionamento íntimo e pessoal, quase tangível. Não há como duvidar dessa relação de causa e efeito tão bem explicada pelas leis da Física. Essa é a razão da rígida solidez de meu testemunho sobre Ele e sobre tudo que Lhe diga respeito.

Eis aí o racional de minha fé e o porquê não é fideísmo.

Convido o leitor a assistir abaixo a parte final da interessante entrevista do arqueólogo Rodrigo Pereira da Silva e a se deixar levar por sua intrigante proposição. No mínimo, você poderá ter algo em que pensar.

Caso deseje algo mais em que pensar, assista também o video abaixo (apenas 4 minutos), no qual um renomado cientista fala sobre aquilo em que crê.

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216 comentários em “A fé é racional, senão não é fé, é fideísmo

  1. Salve, meu Prezado. Gostei muito de seu artigo. Tive a mesma reação que voce ao ver a entrevista e partilho de seus apontamentos. Grato por traduzir meu sentimento. Forte abraço.

  2. Adoraria conversar com o autor desse texto. Não entendi como uma lei fisica explica a relação entre Deus e ele. Gostaria de entender a otica religiosa no ponto de vista racional, pois para mim não parece coerente. Se alguém mais aqui acredita no Deus cristão e chegou a essa crença de forma racional, por favor me explique de maneira resumida (ou nao) o que o ou a levou a acreditar assim. De forma respeitosa por favor.

    1. Victor, a explicação que eu poderia lhe dar está resumida no parágrafo que começa com “Mas essa é só parte da explicação do racional de minha fé”. A relação de causa e efeito que explica esse racional está lá.

      Aproveite para assistir a entrevista do arqueólogo com Jô no primeiro vídeo e a do engenheiro químico no segundo, quem sabe isso lhe abra a mente.

      Se, ainda assim, nada disso lhe ajudar, então não me resta outra coisa a dizer a não ser “espere pra ver”. 😉

      Um abraço!

  3. Tbm tive a mesma curiosidade com relação à palavra fideismo, porém não consegui entender, mesmo após estudo posterior, me parece que fé e fideismo têm o mesmo significado.

    1. Não, Gerson. Como demonstrado no artigo, a diferença básica é que a fé é racional, o fideísmo não.

      Um abraço.

    2. Fé: vc esta com uma grave enfermidade, medico diz q vc tem q toma uma medicação se nao vc nao resistira e podera vir a óbito e vc tera grande possibilidade de se curar fazer o tratamento certo imposto pelo seu medico, vc acredita nele coloca sua fé (uma coisa racional) e faz o tratamento.

      Fideismo: médico te da todas essas orientações explicada ai em cima e vc simplesmente diz q não precisa pq vc tem fé q sera curado.

      Simples assim.

  4. Sensacional a maneira como ele o Rodrigo Silva se comportou ! Como um cristão, ele o Rodrigo sendo um homem de uma mente brilhante não deixou se levar pelas ironias e deboches num tom sutil mas negro de jô . Como a Bíblia diz : combater o mal com o bem .
    Fé !se tenho fé hoje em Deus e por que penso e raciocínio. Como iria saber o que é ter fé se não pensasse a respeito de tal .
    Por ex; um ateu ( acredita ) que tudo foi feito a partir de uma explosão. ..
    Agora raciocine comigo ‘acredito nisso exige ter muita fé.
    Logo prefiro eu pensar , raciocinar e ter fé que Deus criou tudo .

  5. Tão curioso quanto interessante. Hoje 25 de junho de 2017,em plena madrugada, assistindo a mesma entrevista parei o vídeo no exato ponto em que você parou e fiz a mesma pesquisa chegando a mesma conclusão que você, não sou fideista.
    Depois disso encontrei nessa sua matéria.
    Agora finalizarei meu video.

  6. A ciência sabe perfeitamente que tudo é fundamentado em Leis, a ciência e os cientistas não inventam leis, nem criam suas funções. O cientista Max Planck, cita. O cientista precisa de muita fé. Penso que misturam o conceito (vezes até a tradução do espanhol para o nosso idioma que não é bem português, é difícil), Há sim a verdadeira fé que Jesus pregou: O caminhar, o buscar, a reflexão (o caminhar da mente). Infelizmente muita gente pensa e prega que fé é apenas acreditar e aceitar, doutrinar. Quanto eu tiro conclusões definitivas sobre o não sei é apenas anulação do pensamento e “seita” – a seita do crer e do não crer.

  7. Exemplo da possível racionalidade da fé: Observe o universo, e a forma como ele funciona. Existem leis que foram aparentemente formuladas, ou modeladas que regem tudo aquilo presente nele. É plausível presumir que essas leis seguem linhas de raciocínio, e apresentam padrões que aparentemente foram frutos de uma mente pensante. A harmonia dessas leis jamais poderiam ser fruto de mera casualidade. A crença em um ser, entidade ou energia, responsável por materializar o universo, pode não ser de cunho irracional. A fé pode então se tratar da abstração de um pensamento racional, sobe um aspecto ou fenômeno não comprovado fisicamente. Ou seja, fé não é coisa de idiota.

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