Publicado em 11 de janeiro de 2025 e atualizado em 6 de fevereiro de 2025

Tem tido muita repercussão a recente suspensão da jornalista Jacqueline Sweet na plataforma X (antigo Twitter), após desmentir teorias conspiratórias sobre uma suposta conta alternativa de Elon Musk, dono do X, evidenciando a discrepância entre o discurso e a prática de figuras influentes que proclamam defender a liberdade de expressão, mas agem de forma contrária quando lhes interessa. Este artigo explora essa incoerência, refletindo sobre as palavras de Jesus em Mateus 15:14: “São cegos condutores de cegos; ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.”
A jornalista decidiu investigar a veracidade de histórias que diziam que Musk usava um perfil falso em nome de Adrian Dittmann para elogiar a si mesmo. Sweet rastreou o verdadeiro Dittmann, um empresário alemão residente em Fiji, comprovando que a teoria era infundada. Apesar disso, a conta de Sweet foi suspensa por 30 dias e seu artigo defendendo Musk recebeu um aviso de “conteúdo violento ou enganoso”.
O episódio ergueu sérios questionamentos sobre a coerência da plataforma em relação à suposta liberdade de expressão defendida por expoentes da mesma corrente político-ideológica de Musk. Ele, que se autodenomina um “absolutista da liberdade de expressão”, já foi acusado de atitudes contraditórias. Em 2022, suspendeu contas de jornalistas que reportaram o rastreamento de seu jato particular sob a alegação de preocupações de segurança, sendo que dados sobre voos de aeronaves são de acesso público em muitos países, inclusive o dele. Mais recentemente, acatou ordens de bloqueio de contas em países como Turquia e Índia sem desafiar a Justiça, como fez no Brasil. Ambos os episódios sugerem que a liberdade de expressão que ele defende com punho de ferro só é boa quando lhe convém.
Trocando em miúdos, é o bom e velho “faça o que digo, não o que faço”. Todo mundo sabe que nome isso tem.
Esse contraste entre discurso e prática não se limita à esfera pública. Declarações feitas por Errol Musk, pai de Elon Musk, reforçam essa complexidade. Em entrevista recente, Errol criticou o filho e disse que as pessoas não deveriam dar ouvidos a ele. Em outra entrevista, disse não ter orgulho do filho bilionário.
A recente decisão da Meta de encerrar seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos, substituindo-o por um sistema de “notas da comunidade” semelhante ao implementado por Musk no X, vai pelo mesmo caminho. Mark Zuckerberg, CEO da Meta, justificou a mudança alegando que os verificadores de fatos têm sido politicamente tendenciosos. Essa decisão ocorreu em um contexto político peculiar: Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, historicamente crítico das políticas de moderação das plataformas digitais, teria pressionado a Meta a adotar uma abordagem mais permissiva em relação ao conteúdo. Além disso, Zuckerberg participou de encontros recentes com Trump e a empresa realizou doações significativas para a cerimônia de posse do novo governo, levantando questionamentos sobre uma possível influência política na decisão.
Críticos argumentam que essa decisão pode aumentar a disseminação de informações falsas. No X, o único resultado prático da redução da moderação de conteúdo em nome de uma falaciosa liberdade de expressão foi o aumento significativo dos discursos de ódio e da desinformação, segundo relatórios de organizações como o Center for Countering Digital Hate (CCDH). O CCDH analisou 300 tweets contendo discurso de ódio extremo e constatou que 86% dessas postagens permaneciam publicadas mesmo depois de reportadas, evidenciando o desinteresse da plataforma na moderação de conteúdo.
Além disso, um recente artigo da revista Galileu destacou que as novas normas da Meta permitem discursos de ódio, como associar orientações sexuais a doenças mentais e outros discursos potencialmente preconceituosos, desde que fundamentados em crenças religiosas ou culturais. Essa permissividade, segundo críticos, amplia o espaço para a desinformação e enfraquece valores como igualdade e respeito à diversidade. Até um advogado que prestou serviços à Meta teceu duras críticas a Zuckerberg pela decisão motivada por evidente conveniência política.
Como se não bastasse, conforme destacado em reportagem do UOL, a Meta tem adotado estratégias que visam maximizar o tempo de uso de suas plataformas, chegando a considerar o sono dos usuários como rival. Essa postura evidencia uma manipulação dos hábitos dos usuários em favor de interesses lucrativos.
Tais incoerências refletem o alerta de Jesus em Mateus 15:14 sobre condutores cegos, que conduzem a sociedade por caminhos confusos e moralmente questionáveis. Figuras influentes como Musk e Zuckerberg, embora aleguem defender a verdade, revelam uma desconexão entre o que proclamam e o que praticam. Ao priorizar o lucro e interesses pessoais e/ou politico-ideológicos, demonstram não ter integridade moral suficiente para evitar a disseminação de mentiras e o enfraquecimento de valores éticos fundamentais.
O discernimento é a chave para fazer as máscaras caírem. Em meu artigo Discernimento: a chave para vencer a mentira secular e espiritual, exploro como essa habilidade essencial pode nos capacitar a reconhecer a mentira nas palavras e ações de líderes influentes. Quando aprendemos a enxergar além das máscaras, não somos facilmente enganados por guias cegos. Se mais pessoas desenvolvessem esse discernimento, figuras como Musk e Zuckerberg talvez não encontrassem tanto eco em boas pessoas iludidas por uma aparência de compromisso com a ética e a verdade.
Como costumo dizer, o que me consola é saber que está cada dia mais próximo o momento em que toda essa baderna ética e moral será expurgada do mundo. Daí veremos quem tinha razão. Tenho certeza de que para mim será um dia agradável e feliz. Espero que seja para você também.
Voce diz, acertadamente, que Musk e Zuckerberg retiraram as agências de checagem de fatos por serem politicamente tendenciosas. Você diz, também acertadamente, que a permissividade gera um ambiente tóxico. Onde está o contraponto?
Explico: onde voce alerta que agências de checagem politicamente tendenciosas é algo ruim? E quanto à falta de permissividade? Ambos extremos são ruins.
Em suma, estão trocando algo que era ruim de um lado por algo ruim do outro.
Agradavam uns e puniam outros. Agora punem uns e agradam outros, o que dá exatamente na mesma.
Concordando com tudo o que você escreveu, ressalto o meu fiel da balança: não quero delegar a outros a critica do que posso ver ou falar. Deve ser uma decisão minha, ou melhor, de cada um.
Eu não alerto sobre agências de checagem politicamente tendenciosas serem algo ruim porque “politicamente tendencioso” é algo subjetivo demais para ser definido. A questão é: “policitamente tendencioso” segundo o ponto de vista de quem?
Musk, que é escancaradamente de direita, cancelou as agências por questões meramente ideológicas. Zuckerberg fez o mesmo por mera conveniência política. Se agrada um lado, desagrada o outro. Podemos usar qualquer um dos dois como parâmetro para alguma coisa? Jamais, na minha opinião.
É aí que entra o discernimento que menciono no artigo. Ou você usa como parâmetro uma Sabedoria Superior a isso tudo, ou vira marionete nas mãos de influenciadores iníquos e condutores cegos.
Se você é comedido e responsável, não tem que temer moderação de ninguém, seja de agências de checagem, da comunidade ou do judiciário. Só quem não gosta de controle é quem gosta de extrapolar. Se não é seu caso, tá se incomodando por quê? Eu quero que haja controle por causa de quem extrapola e acho que esses têm que ser parados. O mote “é proibido proibir” é bem satânico, para dizer o mínimo.
Um abraço!
Extrapolar na opinião de quem?
Extrapolar não é uma questão de opinião pessoal, mas de ultrapassar limites que deveriam ser claros para o bom convívio em sociedade. Esses limites são determinados por princípios universais, como respeito, integridade e responsabilidade, e muitas vezes estão refletidos em normas jurídicas e sociais que regulam a liberdade de expressão sem permitir abusos.
O problema é quando tentamos relativizar esses princípios, permitindo que sejam manipulados por interesses ideológicos ou políticos. Por isso, defendo a necessidade de discernimento baseado em valores que transcendem nossas preferências pessoais. Se confiarmos apenas em critérios subjetivos, caímos novamente no dilema “quem vigia os vigilantes”.
A verificação de fatos e a moderação são essenciais não para limitar opiniões legítimas, mas para prevenir a disseminação de informações falsas ou prejudiciais. Sem isso, cria-se um ambiente propício para desinformação e discurso de ódio. Mas isso tem que ser feito de modo transparente e imparcial, para que sirva à verdade e à justiça e não a qualquer outro interesse.
Por que você não falou também de Donald Trump no seu artigo? Ele é o maior incentivador dessas coisas malignas. Para mim, inclusive, ele é um dos anticristos de que você fala em outro artigo. Ele também deveria estar citado neste.
Quando escrevi o artigo, o mundo ainda estava sob o impacto da decisão da Meta de copiar o X e suspender a verificação de fatos. A posse de Trump, com seu discurso ultra-nacionalista quase nazista, veio depois. Talvez eu ainda atualize o artigo com essa informação. Obrigado por opinar.
O que mais me causa espanto nem é saber que existem tais figuras no mundo, e sim que há quem os defenda e fique procurando justificativas para suas ações. Acredito que essas pessoas jogam sua inteligência na privada quando escolhem fechar os olhos para o que hipócritas como Musk e Zuckerberg fazem. Aliás, se pararmos para pensar, não é o mesmo que fazem os que adotam políticos de estimação? Sei lá, parece que esses “líderes” exercem algum tipo de poder hipnótico sobre as pessoas pra elas ficarem cegas a esse ponto. Triste!
Concordo, César, e acho que o “poder hipnótico” citado por você define bem a idolatria praticada pelos defensores desses líderes e influenciadores.
Um abraço!