Religiosos são mais suscetíveis a serem enganados por políticos?

Publicado em 15 de janeiro de 2024 e atualizado em 12 de fevereiro de 2024

Acho impressionante como pessoas que se dizem ou se sentem próximas de Deus e que são politicamente engajadas se deixam enganar tão facilmente por políticos desonestos. Depois que adotam um político de estimação de qualquer dos lados, vejo essas pessoas fecharem os olhos para os pecados de seu ídolo e os justificarem como se fossem advogados de sua alma. Começam também a espalhar todo tipo de mentira (fake news) contra o adversário como se fossem os promotores de (in)justiça responsáveis por sua condenação.

Note que não estou falando de ateus e agnósticos, e sim daqueles dos quais se espera um mínimo de compromisso com a verdade e com a decência ética e moral, justamente por professarem crença num Deus que abomina a mentira.

A questão é: essas pessoas sabem o que estão fazendo? Conseguem discernir a verdade da mentira?

Sim, conseguem, na maioria das vezes. Estudo da Universidade de Regina, no Canadá, descobriu que as pessoas geralmente conseguem detectar quando algo é uma notícia falsa. Ainda assim, preferem compartilhar essa notícia, mesmo falsa, só porque concorda com seu ponto de vista.

É da satisfação de suas percepções, verdadeiras ou não, que também nascem entre os religiosos as teorias conspiratórias e as campanhas de desinformação que eles tanto vomitam sobre o adversário.

Dentre esses, o conhecimento científico tornou-se alvo frequente de ataques, levando-os a achar mais fácil confiar em seu político de estimação do que na ciência. Não por acaso, esse fenômeno ocorre mais em nações desiguais, como a nossa, do que nas mais igualitárias. As crenças religiosas podem influenciar a percepção das pessoas sobre a verdade e a honestidade, tornando-as mais suscetíveis a serem enganadas por políticos desonestos, especialmente quando esse político também posa de religioso.

Como a maioria das pessoas enxerga a política com desconfiança e com sentimentos ruins, é grande o número de religiosos que buscam um “salvador da pátria”, normalmente encarnado em líderes populistas. O messianismo na política tem origem na insatisfação popular e ganha ainda mais força quando forrado por um bom colchão de nacionalismo.

Seja de que lado for, os termos “massa de manobra” e “comportamento de manada” são os que melhor descrevem esses que seguem cegamente um político de estimação.

Mas, verdade seja dita, nem sempre esse ato de devoção cega e irracional é consciente ou intencional (embora frequentemente o seja). Transtornos de personalidade, como o borderline, esquizoide, antissocial e narcisista, assim como os transtornos de humor, como depressão e transtorno bipolar, podem influenciar a maneira como uma pessoa percebe e interage com políticos.

Só o Senhor sabe quem se encaixa em qual caso e só Ele pode jugar com equidade e justiça, inclusive aqueles que mentem conscientes do que fazem, sem se darem conta de que estão agindo conforme inspirados pelo maligno:

[Deus] justificará a prática de pequenos pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos de alguém por causa de suas palavras, (…) não há mal nisso. (2 Néfi 28:8).

Isso tornará sua situação muito ruim quando forem cobrados para que se expliquem, sem poder alegar ignorância, sobre por que não obedeceram ao mandamento de não proferir falso testemunho contra o próximo (ver Êxodo 20:16; Levítico 19:11; Provérbios 12:22; Apocalipse 21:8; 2 Néfi 9:34; 2 Néfi 28:8-9; D&C 10:25; D&C 42:21; D&C 76:81,103–106). Não está escrito em lugar algum que uma exceção pode ser aberta quando o alvo do falso testemunho for um político.

É nossa obrigação, sim, conferir as informações que queremos repassar (sobre qualquer assunto, aliás) para não corrermos o risco de nos tornarmos tão mentirosos quanto os que inventam as mentiras e estejamos sujeitos ao mesmo juízo. Também é nossa obrigação desenvolver o necessário dom do discernimento para não sermos inocentemente enganados pela astúcia dos mentirosos, sejam eles os políticos ou seus ativistas. O apóstolo Paulo poderia muito bem tê-los incluído em sua carta aos Efésios quando disse:

Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engodo dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. (Efésios 4:14).

Quem se deixa enganar por políticos desonestos dessa forma cai no mesmo engodo no qual caíram os membros da Igreja enganados por um impostor contra o qual o Presidente Joseph F. Smith teve que lidar. O espírito de mentira é o mesmo em ambos os casos, só muda o assunto.

Podemos nos defender dessas coisas pela obediência à voz do Espírito Santo. O Salvador nos ensinou lindamente como fazê-lo:

Aquilo que o Espírito vos testificar, assim quisera eu que fizésseis em toda santidade de coração, andando retamente perante mim, refletindo sobre o resultado de vossa salvação, fazendo todas as coisas com oração e ação de graças, para que não sejais seduzidos por espíritos malignos ou pelas doutrinas de demônios ou por mandamentos de homens; (…)

Portanto, acautelai-vos para que não vos enganem; e, para que não sejais enganados, procurai com zelo os melhores dons, lembrando sempre por que são dados. (D&C 46:7-8)

Por fim, recomento meditar sobre o ensinamento do Élder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, no discurso Para Que Não Sejais Enganados (cuja leitura completa é altamente recomendada):

O Espírito Santo nos protegerá para não sermos enganados, mas para que essa maravilhosa bênção se concretize, devemos sempre fazer as coisas necessárias para reter esse Espírito. Devemos guardar os mandamentos, orar por orientação, frequentar a Igreja e participar do sacramento a cada domingo. E não devemos fazer nada que nos afaste desse Espírito. Especificamente, devemos evitar a pornografia, o álcool, o fumo e as drogas, e sempre, sempre evitar as violações da lei da castidade. Nunca devemos ingerir coisas ou fazer coisas com o nosso corpo que afastem o Espírito do Senhor e nos deixe sem a proteção espiritual contra a decepção.

A partir de agora, pense duas vezes quando quiser defender aquele político que você idolatra e atacar o adversário dele como se com isso fosse ganhar pontos com Deus. Cuidado para não ser achado dentre aqueles cuja recompensa “os espreita de baixo e não de cima” (D&C 58:33).

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