Minha participação no Superpop de Luciana Gimenez

Publicado em 14 de abril de 2008 e atualizado em 7 de março de 2024

Luciana Gimenez

Era 7:20 h da noite de 4 de abril de 2008, sexta-feira. Eu estava ocupado com um de meus muitos afazeres no computador quando recebi por e-mail o aviso de que um novo comentário havia sido deixado em meu artigo “Por que sou contra o casamento gay”. (A exibição do artigo neste blog foi suspensa anos depois devido à crescente onda de perseguição e cancelamento contra quem pensa diferente da moda ideológica do momento.)

O comentário dizia:

Olá, Marcelo. Por favor, entre em contato comigo.

Sobre o remetente, eu só sabia que se chamava Ana Paula. Respondi para o e-mail fornecido dizendo “Eis-me aqui. :-)”.

Dois dias depois, a surpresa:

Sou do programa Superpop, da Luciana Gimenez. Nesta quinta-feira (próxima) vamos fazer um programa debate sobre o casamento gay. Poderia participar? Precisamos de alguém com opinião a respeito… O que acha? Se puder, me passa seu contato para poder te explicar melhor a pauta.

Respondi confessando-me lisonjeado pelo convite, mas esclarecendo que eu não estava em São Paulo, e sim a milhares de quilômetros de distância, e não acreditava que a produção do programa me mandaria passagens de ida e volta.

E não é que mandou? 🙂

Claro que houve uma boa quantidade de negociação antes de meu embarque. Primeiro, Ana Paula pediu para ver fotos minhas. Depois, foram vários telefonemas de lado a lado e até uma espécie de entrevista, na qual queria que eu lhe explicasse “ao vivo” o porquê de minha posição contrária ao casamento gay. Mesmo não sabendo o que mais eu poderia acrescentar além do que escrevi em meu artigo, ela queria ouvir a explanação de minha própria boca. Depois, disse ter achado importante ouvir de mim coisas como “eu acho”, “eu creio”, “para mim” — indicando que eu estava expressando opiniões pessoais e não fazendo uma pregação religiosa, na qual realmente não estavam interessados. É exatamente o que faço no artigo e foi o que chamou a atenção deles desde o início.

Ana Paula explicou também que a produção queria realizar um debate de alto nível e me garantiu que não haveria qualquer “barraco” no programa. Respondi que eu seria o primeiro a não ir caso houvesse esse risco. Ela achou o nível de minha conversa equiparável ao pretendido para o debate, que seria levantado em função da transmissão ao vivo de uma cerimônia matrimonial gay — a qual, não por acaso, era de um dos funcionários da emissora. Era intenção da produção fazer-me estar acompanhado de outros opositores do casamento gay, que também foram convidados.

Finalizando, ela disse que levaria suas impressões a meu respeito para a direção do programa e perguntou se, na hipótese de o envio das passagens ser aprovado, eu realmente iria.

Até chegar a esse ponto, eu já tinha refletido bastante sobre a possibilidade de aceitar o convite. Achei que seria uma oportunidade de ouro de prestar meu testemunho pessoal do evangelho de Jesus Cristo e de dizer às pessoas que creio existir um modelo de vida melhor que qualquer coisa oferecida pelo mundo. Eu já tinha feito várias consultas a meu Pai Celestial em busca de Sua opinião. Tinha até conversado com meus líderes do sacerdócio e com o diretor regional de assuntos públicos da Igreja e de nenhum deles ouvi algo como “não vá”. Posso afirmar, com toda segurança, que me senti em paz em todas as minhas ponderações e orações sobre essa possibilidade. Por essa razão, dei à Ana Paula um sim como resposta.

Enquanto isso, comecei a comentar esses fatos com minha família. Tanto minha mulher quanto minha mãe se mostraram receosas quanto às possíveis reações adversas vindas da comunidade gay. Nunca tive esse medo, pois sempre tratei o assunto com o respeito que os gays merecem e não via porquê desta vez deveria ser diferente. Mas isso não as tranquilizou. Temiam que o barraco que me foi garantido que não aconteceria durante o programa acontecesse depois. Temiam até por minha integridade física. Mas nenhuma delas manifestou franca oposição a meu comparecimento ao programa.

Elas não eram as únicas com tais receios. Em uma comunidade do Orkut para membros da Igreja da qual eu fazia parte, várias pessoas tentaram me desencorajar. E também não faltaram críticas e deboches vindos de opositores da Igreja. Uma ateia disse: “Todo circo precisa de um palhaço. Honestamente, acho que o Marcelo foi chamado lá pra fazer esse papel. Ele var ser zoado”. Uma outra pessoa disse: “Vou rachar o bico de tanto rir do quanto ele vai se dar mal”. Parecia consenso entre todos que eu estava para ser massacrado e exposto ao ridículo.

Como foi bom provar que estavam todos errados! 😉

Dois dias antes da viagem, Ana Paula ligou novamente dizendo que o diretor havia autorizado o envio das passagens. Reafirmei meu compromisso em comparecer ao programa. Eu realmente estava tranquilo e sentia que não havia nada a temer.

Na noite anterior à viagem recebi o localizador das passagens, fiz o checkin no site da companhia aérea e imprimi os cartões de embarque.

Satisfeito, procurei as duas mulheres de minha vida para contar que já estava com os cartões de embarque em mãos. Parece que foi só então que a ficha caiu na cabeça delas. “Ele vai mesmo!”, devem ter pensado. E o que antes era uma mera recomendação para que desistisse da ideia passou a assumir contornos de drama familiar. Insistiam que eu seria ridicularizado, humilhado, escarnecido e que isso poderia ir além de meros ataques verbais. Estavam levando isso a sério e, diante do que lhes pareceu desprezo meu por sua preocupação, sentiram-se ofendidas.

A coisa só piorou na manhã da viagem. Ouvi delas coisas que me deixaram muito triste, todas baseadas na certeza do cumprimento de suas profecias apocalípticas. O mal-estar entre nós foi tamanho que, mesmo já estando com os cartões de embarque em mãos, hotel reservado e com a produção do programa à minha espera, cheguei a considerar a possibilidade de desistir da viagem em prol da paz e da harmonia familiar. Eu detestaria sair em meio àquele mal-estar.

“Estou com um problema”, disse eu a Ana Paula por telefone poucas horas antes do embarque. Relatei-lhe todo o ocorrido e perguntei que grande prejuízo haveria se eu não fosse. Nervosa, respondeu que poderia até perder o emprego se isso acontecesse, pois ela foi a porta-voz de minha palavra e seu diretor confiou nisso. Realmente, seria terrível quebrar minha promessa, obrigando alguém a encarar o risco de ir para o olho da rua por isso. Por outro lado, estava sendo terrível viver aquele drama dentro de casa.

Mas que sinuca!

Embora eu continuasse em paz com a ideia de participar do programa, não tive alternativa senão fazer o que sei que tenho o direito de fazer nesses momentos: pedir socorro a meu sábio e onisciente Pai Celestial. Como é bom poder contar com a ajuda de um Pai que tudo sabe e tudo pode!

De joelhos, aos pés de minha cama, escancarei-Lhe meu coração e minha angústia. Disse-Lhe que, apesar de tudo, eu ainda queria muito ir, pois acreditava que aquela poderia ser uma oportunidade ímpar de lembrar a uma parte do mundo que a vida não se resume a seguira moda do mundo. Mesmo assim, eu estava disposto a abrir mão dessa oportunidade se Ele julgasse a viagem inoportuna devido ao problema em casa.

Foi então que, mais uma vez, vi cumprir-se a promessa feita pelo Senhor em D&C 9:8:

Mas eis que eu te digo que deves [estudar o assunto] bem em tua mente; depois me deves perguntar se está certo e, se estiver certo, farei arder dentro de ti o teu peito; portanto sentirás que está certo.

Isso explica porquê criei coragem para enfrentar o ranger de dentes familiar e honrar o compromisso assumido com a Rede TV. Já que, para isso, eu estava criando um problema em casa, minha única saída seria fazer o possível para que tudo aquilo valesse a pena.

O resultado foi visto ao vivo por milhões de pessoas, inclusive pelas que me aconselharam a desistir e pelas que debocharam de mim. Nenhum dos temores e das profecias apocalípticas se cumpriu. O programa transcorreu na mais perfeita e absoluta tranquilidade e com um incomum nível de civilidade, conforme a própria Luciana reconheceu no ar três vezes.

Para mim, não foi nenhuma surpresa. Primeiro, porque era o que eu sentia. Segundo, porque não fui ao programa munido da intenção de condenar, criticar, desafiar, provocar e criar antagonismos. Ao invés, entrei no estúdio após ter me trancado no banheiro e feito uma última prece humilde ao Senhor pedindo-Lhe serenidade e inspiração, razão pela qual minha disposição era a de construir sobre bases comuns e oferecer um convite à reflexão sobre a possibilidade de haver um modelo de matrimônio melhor, que é o oferecido pelo Senhor.

Como diz o velho ditado, “quando um não quer, dois não brigam”.

Quando voltei ao hotel, já de madrugada, senti-me inundado por uma profunda sensação de alegria e satisfação espiritual pelo cumprimento do propósito de fazer com que alguns pelo menos ficassem com uma pulga atrás da orelha. Já mais calma e aliviada, minha mulher ligou para contar que, ao contrário do que havia dito, assistiu o programa e gostou de ver que não aconteceu nada do que temia. Fui dormir naquela noite sentindo-me muito satisfeito.

O resultado foi tão positivo que, na tarde seguinte, Ana Paula me ligou novamente agradecendo muito minha ida ao programa e dizendo que outras oportunidades poderão surgir. Choveram e-mails e telefonemas de congratulações e agradecimentos, inclusive de gente que nem conheço. É claro que houve críticas também, pois é impossível agradar a gregos e troianos — mas, felizmente, a quantidade de críticas não foi sequer próxima de ser considerada significativa e em sua maioria veio de opositores da Igreja.

Minha única ressalva a respeito do programa fica por conta da repetição da pergunta “você aprova o casamento gay?” feita por Luciana aos vários entrevistados participantes da festa do casal gay. Ora, se estavam lá para prestigiar o evento, que se poderia esperar que respondessem? 😉

Curiosidades de bastidores

Adriana Lessa
  • Antes de começar o programa, fiquei em uma sala esperando alguém da produção vir conversar comigo. O programa que estava no ar naquele momento era o TV Fama, apresentado pela ex-atriz global Adriana Lessa (foto), pela ex-BBB Íris Stefanelli e pelo apresentador Nelson Rubens, especializado em fofocas de celebridades. Às 20:30 h começou o horário político, então os apresentadores tiveram 10 minutos de intervalo. Adriana Lessa passou em frente à sala onde eu estava. Eu quis vê-la de perto quando voltasse, então fiquei à porta. Quando isso aconteceu, pude confirmar algo de que eu desconfiava sempre que a via na tela: ela é muito bonita! E é também mais alta do que parece: de salto, ficou quase da minha altura — e tenho 1,88 m. Como não sou tiete, não a parei para pedir autógrafo ou para tirar foto com ela. Eu simplesmente queria vê-la de perto. Dei-me por satisfeito.
  • Vi Íris Stefanelli também, que foi tomar água no bebedor em frente à sala. Entre as duas, gostei mais de Adriana.
  • Não vi Nelson Rubens. Acho que não perdi nada. 🙂
  • Depois do programa, Luciana me perguntou: “O que os mórmons fazem de diferente?” Respondi que eu teria muito mais para contar do que seria possível fazer em cinco minutos (ela estava se preparando para gravar), mas que, se tivesse interesse, poderia começar sua pesquisa solicitando o vídeo do cartão de amizade que saquei do bolso da camisa — o mesmo que distribuí para vários membros da equipe de produção. Lamentei-me por não ter saído de casa com um bolo maior de cartões, eu queria tê-los distribuído a mais gente.
  • Aliás, com aquele tamanho todo, me pergunto por quê Luciana quer usar salto alto. Ficou mais alta que eu! Deve ser para meter medo em alguém… 😉
  • O maquiador me enganou. Aplicou um laquê em meu cabelo garantindo que não ficaria duro. Quando saí do programa, parecia que eu estava usando uma peruca de concreto.
  • O estúdio do Superpop é pequeno, mas bem montado. Gostei da produção e da organização do programa — vê-se que não é coisa de amadores. Mas, também, esta é a opinião de um leigo e não sei se quem é da área pensaria o mesmo.
  • A Rede TV não tem instalações nababescas e observa-se um tanto de improviso em várias partes. Mas os profissionais são dedicados e conseguem realizar um bom trabalho.
  • A gerente de produção me contou que muitos são os contrários ao casamento gay (inclusive dentre os próprios gays!) e que vários representantes dessa corrente foram convidados a participar do programa junto comigo para expôr suas idéias. Mas fui o ÚNICO que teve a coragem de mostrar a cara. Ela me parabenizou pela coragem — que não é o adjetivo que explica melhor minha atitude: como contei mais acima, eu estava me sentindo em paz. Essa paz é fruto da segurança advinda da vivência do evangelho. Como o próprio Senhor disse: “se estiverdes preparados, não temereis” (D&C 38:30).
  • Beto Sato — codinome do jornalista e publicitário José Roberto Wicher Sato, conhecido ativista LGBT que participou do programa junto comigo — e um amigo dele me acompanharam no carro da emissora que me levou ao hotel após o programa. No caminho, Beto fez-me diversas perguntas interessantes sobre a Igreja e o evangelho. A que me chamou mais a atenção foi feita depois que expliquei que, quando Jesus Cristo voltar, toda iniquidade será varrida da Terra e o mundo voltará a ser como era no Jardim do Éden em termos de pureza e retidão. Então ele perguntou: “Se eu, sendo gay, estiver vivendo uma vida honrada e honesta, que acontecerá comigo?” Dei-lhe a única resposta possível: “Não sei. Essa é uma decisão que caberá ao Senhor. Não posso julgar por Ele, mas você tem o direito de obter essa resposta diretamente Dele”. Beto e o amigo também ficaram com um cartão de amizade que lhes dei. A motorista que nos conduzia fez questão de ficar com um também.
  • Ainda sobre Beto, acho importante dizer que, nos momentos em que tive oportunidade de estar com ele e conversar, senti haver um espírito nobre dentro dele. É bem humorado, agradável, afável e articulado. Despedi-me dele com um abraço fraternal, desejando ter um dia a chance de continuar a conversa. Espero sinceramente que peça o vídeo do cartão que lhe dei.

Para encerrar, quero deixar registrado meu agradecimento à Ana Paula, à gerente de produção Cláudia e à assistente Priscila (com seu interessantíssimo celular-walkie-talkie preto permanentemente pregado ao ouvido), que foram meus anjos da guarda durante minha permanência nas dependências da emissora. Priscila, aquele lanche que você me serviu estava ótimo! 🙂

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63 comentários em “Minha participação no Superpop de Luciana Gimenez

  1. Parabéns a você, Marcelo , por ter recebido o convite e fazer a Coisa Certa,falar da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e dar seu testemunho . Luciana,gosta muito de confundir a pessoa,mas , você foi firme. Marcelo, tenho certeza que o Espirito estava presente. Porque a Luciana coloca outras pessoas para fazerem um debate, mas ela ( pelo que assisti há pouco) ela estava tranquila. Ele estava sim!
    Meus Parabéns!
    Um abraço!

  2. Oi, Irmão Marcelo Todaro! Meu nome é Carol e é um prazer escrever pra vc, na verdade gostaria de contar pra você que admiro muito sua coragem! Na noite do seu debate no Superpop eu estava assistindo TV e passando os canais, parei pra ver você falando e logo percebi que era um membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, pela maneira de ensinar e doutrinas. Eu e meu marido ficamos grudados assistindo o debate e a cada resposta sua eu comemorava. Posso confessar que fiquei muito emocionada com sua coragem de prestar testemunho! Hoje encontrei seu blog e procurei o vídeo para assistir novamente. Parabéns! Você foi como Davi na cova dos leões! O teor das perguntas é mesmo pra tentar confundir a pessoa, como os fariseus faziam com Cristo. Você falou tudo o que deveria! Infelizmente eles não puderam compreender a linguagem do Espírito!

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