Publicado em 13 de abril de 2013 e atualizado em 13 de fevereiro de 2024
Já passei por muitas provações na vida e algumas foram bem duras de suportar. Ao atravessar os mares revoltosos de meus pungentes desafios, contudo, pude sentir a doce e confortadora mão do Senhor segurando o timão do meu barco para que não se perdesse nas tempestades de minhas aflições, graças ao que pude chegar em portos seguros.
Uma dessas provações foi particularmente difícil e se arrastou por vários anos. Enquanto me debatia e tateava no escuro em busca de uma saída que nunca aparecia, eu questionava o Senhor sobre o propósito pelo qual eu não estava sendo conduzido até a saída de emergência ou o porquê de não me ser dada uma trégua para recobrar o fôlego antes de prosseguir na luta contra o naufrágio de minha fé.
Não foram poucas as vezes em que me senti como Jó:
A minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura de minha alma. Direi a Deus: não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. (…) Bem sabes tu que eu não sou ímpio; todavia ninguém há que me livre da tua mão. (…) Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento. (Jó 10:1,2,7,20)
Era exatamente assim que me sentia, como se Deus estivesse jogando Seus juízos sobre mim e me sentisse esgotado em minhas forças para resistir, rogando por uma trégua.
Foi em meio a tal turbulência que Ele, movido pela compaixão por mim — ou talvez aborrecido pela insistência de minhas súplicas —, decidiu me ensinar o propósito pelo qual não me permitia escapar daquele severo teste de fé. O Espírito me fez compreender que todos os que almejam a glória celestial precisam passar por uma espécie de expiação pessoal, como se fosse um fogo purificador, um Getsêmani individual semelhante ao de Cristo, por meio do qual sofremos inclusive por causa dos pecados de outros. Não há como fazê-lo sem ser por meio do sofrimento, pois isso nos torna pacientes e humildes o suficiente para nos qualificarmos a herdar essa máxima recompensa.
Muito tempo depois, estudando o capítulo 7 do manual dos ensinamentos do Pres. Lorenzo Snow, encontrei palavras ditas por ele que confirmam a revelação recebida anos antes e ampliam minha compreensão do propósito do sofrimento:
É impossível conquistarmos nossa salvação e atingirmos os objetivos de Deus sem provações nem sacrifícios.
(…)
Não é possível que nos tornemos perfeitos a não ser por meio do sofrimento. Até com Jesus foi assim (ver Hebreus 2:10). Quando orou em agonia no Jardim do Getsêmani, Ele previa o processo de purificação necessário à vida daqueles que ambicionam alcançar a glória do reino celestial. Não se deve tentar fugir a isso por meio de subterfúgios.
Para os santos, não há outro meio de progredirem espiritualmente e prepararem-se para herdar o reino celestial, exceto pela tribulação. Esse é o processo pelo qual amplia-se nosso conhecimento e, por fim, a paz universal reinará. Ouvi dizer que, se agora vivêssemos em perfeita paz e prosperidade, nos tornaríamos indiferentes. Um grande número de boas pessoas não desejariam nada mais além disso e não se esforçariam por alcançar as coisas da eternidade.
Seja individual ou coletivamente, nós já sofremos e teremos de voltar a sofrer; e por quê? Porque isso é o que o Senhor exige para nossa santificação.
Pelo menos no que me diz respeito, essa luz e conhecimento colocam minhas aflições no contexto correto. Se o motivo de minhas angústias não for minha própria iniquidade, imprudência, negligência ou insensatez, meu sofrimento tem um justo e sábio propósito divino.
Posso adicionar a essa confortadora compreensão as sábias e inspiradoras palavras do Élder James E. Talmage:
Somos propensos a contender com a adversidade, às vezes até com veemência e fúria, quando no final ela pode ser a manifestação da sabedoria divina e do cuidado amoroso de nosso Pai, interferindo em nosso conforto temporário em prol de uma bênção permanente. Nas tribulações e sofrimentos da mortalidade existe um ministério divino que apenas a alma (que está) afastada de Deus não consegue entender. Para muitos, a perda das riquezas tem sido uma bênção, um meio providencial de afastá-los dos confins da auto-indulgência e guiá-los à liberdade, onde ilimitadas oportunidades esperam aqueles que lutam por ela. A decepção, a tristeza e as aflições podem ser a manifestação da bondade sábia do Pai Celestial.
Espero que essa compreensão ajude mais alguém além de mim no desafio de enfrentar as turbulências da experiência mortal, sabendo que o sofrimento, quando infligido por Deus, tem um propósito eterno que poderá se reverter em nosso benefício se soubermos tirar proveito dele. Que todos sejamos capazes de nos lembrar disso em nossos não raros momentos de aflição e dor.
Ainda não tinha lido seus artigos Marcelo, mas comecei a ler alguns e são muito bons! Realmente as provações moldam a nossa vida e nos preparam para algo melhor. Sayonara Vasconcelos Boa Ventura
Obrigado, Sayonara. Fico feliz que tenha gostado. Espero que encontre outros de que goste também. 😉