‘És tu maior que Ele?’

Lembro-me de uma manhã em que eu havia descoberto um casulo na casca de uma árvore no momento em que a borboleta o rompia e se preparava para sair. Esperei bastante tempo, mas estava demorando muito e eu estava com pressa. Impaciente, comecei a ajudá-la a abrir o casulo, imaginando ser ele o responsável pelo retardo ou impedimento do processo de nascimento da borboleta. Graças à minha intervenção, o milagre da vida começou a acontecer diante de mim mais depressa que o natural. O invólucro foi aberto e a borboleta se arrastou para fora. Com seu corpinho ainda trêmulo, lutava para desdobrar as asas. Coloquei-a em minha mão e tentei ajudá-la várias vezes. Mas o desdobrar das asas deveria ser feito devagar, ao sol. Era necessária uma lenta maturação. Ela se agitou em desespero e, alguns segundos depois, morreu na palma da minha mão. Nunca hei de esquecer o horror que senti ao dar-me conta de que meus bem intencionados cuidados obrigaram a borboleta a nascer antes do tempo. Fiquei com um tremendo peso na consciência. Compreendi que não podemos nos apressar e ficar impacientes. Temos que seguir com confiança o ritmo da eternidade. Tive esta experiência com 9 anos e jamais a esqueci.

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Rapaz sortudo, rapaz azarado

Recentemente participei de uma reunião na qual foi contada uma história muito interessante, que reproduzo a seguir.

Um certo rapaz ganhou um potrinho. Cuidou dele com atenção e carinho até que se transformou em um belo e vistoso cavalo adulto. Por ser o mais belo cavalo da região, os moradores da localidade diziam entre si: “Mas que rapaz sortudo!”

Após algum tempo, seu cavalo pulou a cerca e fugiu em disparada sem que ninguém conseguisse alcançá-lo ou recuperá-lo. Então os moradores passaram a dizer: “Mas que rapaz azarado!”

Pouco tempo depois, o rapaz levanta-se da cama pela manhã e encontra seu cavalo esperando na porta de sua casa. Mas não estava sozinho: tinha trazido com ele um grupo de outros cavalos. Então os moradores passaram a dizer: “Mas que rapaz sortudo!”

Um belo dia, montando seu cavalo, o rapaz escorregou da sela e caiu, quebrando alguns ossos. Então os moradores passaram a dizer: “Mas que rapaz azarado!”

Enquanto se recuperava de seus ferimentos, veio uma guerra. Os rapazes de sua idade foram convocados a servir seu país. Todos morreram na guerra, menos ele, por estar incapaz de lutar. Então os moradores passaram a dizer: “Mas que rapaz sortudo!”

Não sei se a história tem continuação, mas a que foi contada na reunião terminou assim.

Tenho o hábito de me colocar no lugar dos personagens das histórias que ouço, dos filmes que assisto, etc., a fim de tentar imaginar como eu reagiria no lugar desses personagens. Que eu teria pensado ao me ferir caindo do cavalo ou vendo-o fugir de mim? Teria me queixado de meu infortúnio ou sido humilde e sábio para aguardar as bênçãos subsequentes?

Esse exercício me ajudou a enxergar nessa história alguns elementos que podem se converter em lições de humildade e confiança no Senhor. Aquele que Lhe é fiel não têm razão para temer ou se queixar de eventuais revezes, pois eles podem na verdade ser a preparação de uma bênção maior — como quando o cavalo retornou trazendo outros consigo — ou a proteção contra um mal — como quando os ferimentos causados pela queda salvaram-lhe a vida ao dispensá-lo de lutar numa guerra.

A constatação dessa verdade eterna lembra-me das sábias e inspiradoras palavras do Élder James E. Talmage:

Somos propensos a contender com a adversidade, às vezes até com veemência e fúria, quando no final ela pode ser a manifestação da sabedoria divina e do cuidado amoroso de nosso Pai, interferindo em nosso conforto temporário em prol de uma bênção permanente. Nas tribulações e sofrimentos da mortalidade, existe um ministério divino que apenas a alma (que está) afastada de Deus não consegue entender. Para muitos, a perda das riquezas tem sido uma bênção, um meio providencial de afastá-los dos confins da auto-indulgência e guiá-los à liberdade, onde ilimitadas oportunidades esperam aqueles que lutam por ela. A decepção, a tristeza e as aflições podem ser a manifestação da bondade sábia do Pai Celestial.

Já citei essas mesmas palavras outras vezes neste blog. Elas me trazem força e esperança em minhas aflições, dando-lhes contexto e sentido.