Publicado em 20 de fevereiro de 2024 e atualizado em 2 de maio de 2024
Sou alguém que gosta de se sentir seguro, inclusive no aspecto espiritual. Por isso, costumo erguer ao meu redor barreiras de proteção que podemos comparar a um cercadinho.
Também sou curioso (e bastante), mas não aventureiro, do tipo que se lança ao desconhecido sem medir consequências. Mesmo assim, fui levado pelo Espírito do Senhor a uma aventura espiritual cuja veracidade precisei quebrar um grande paradigma para reconhecer.
O Espírito pode nos levar a uma experiência dessas mesmo que não peçamos. No meu caso, foi porque Ele queria me ensinar uma lição sobre meu cercadinho e, principalmente, sobre o que há de verdade fora dele. Em suma, Ele queria que eu evoluísse espiritualmente.
Quando ou se uma oportunidade dessas surge, o que fazer: recuar para a segurança do pacote de conceitos e preconceitos do cercadinho ou confiar no Espírito e nos aventurar fora do cercadinho por um momento?
O paradigma do cercadinho
Conheço muita gente que recuaria e se recusaria a admitir que uma ideia diferente das de seu cercadinho veio do Espírito. Essas pessoas prontamente a rotulariam como estranha, ousada ou absurda demais para ter sido inspirada por Deus. Entendo essas pessoas porque também já fui assim. Hoje percebo que já deixei de receber de Deus bênçãos de sabedoria, conhecimento e poder no sacerdócio por ter uma cabecinha de alfinete dessas.
A primeira vez em que tive que exercitar a elasticidade intelectual para estar apto a receber de Deus uma bênção foi quando, ainda adolescente, o evangelho restaurado me foi apresentado. Para saber se aquilo era verdade, tive que sair da segurança do cercadinho de então. Se eu não o tivesse feito, teria perdido toda a transcedental vastidão de magníficas descobertas espirituais à minha disposição, num processo de evolução e amadurecimento que dura até hoje. A história de como tudo começou pode ser lida aqui.
O detalhe é que, embora a nova descoberta tenha quebrado um paradigma e mexido em meu cercadinho, continuei preso a um. Ele só mudou de endereço. Com muita gente que conheço também é assim: o que está dentro do cercadinho é de Deus, o que está fora é do diabo. Binário assim.
É por isso, aliás, que muitos deixam de receber um testemunho da restauração do evangelho: porque não admitem sair do cercadinho e negam ao Senhor o direito de lhes mostrar coisas novas. Deus não abre a cabeça de ninguém e coloca nela conhecimento que não se quer ter, nem sobre o evangelho, nem sobre coisa alguma. Não é assim que funciona.
A admissão à casa milenar
Com o iminente retorno de Jesus Cristo à Terra, o grande Milênio está para começar. Ele já está promovendo a necessária limpeza do mundo que permitirá Seu retorno, como quando uma casa precisa ser limpa e organizada para que se possa habitá-la. Bem ao contrário do que pensa quem acha que já tem lugar cativo nessa casa, sabemos que o Dono admitirá nela filhos Seus de qualquer religião, credo ou filosofia. O critério de admissão não é baseado em religião, mas em dignidade. E gente digna há em todo lugar, pois a Luz de Cristo está disponível para todos e muitos há que a seguem, mesmo não agindo como os do cercadinho acham que deveriam. Não foi Ele quem disse que há muitos que foram cegados pela astúcia do maligno e só estão afastados da verdade por não saberem onde encontrá-la? (Ver D&C 123:12.) Então quem sou eu para julgar as crenças e práticas dessas pessoas?
O julgamento pertence ao Senhor. Só Ele sabe onde esses filhos dignos estão e os trará para Sua casa do Milênio. Quando isso acontecer, os do cercadinho que eventualmente também forem trazidos se surpreenderão vendo nela muitos que eles achavam que não poderiam ser trazidos e não vendo muitos que achavam que poderiam.
Verdades fora do cercadinho
Graças aos influxos do Espírito do Senhor que aprendi a identificar e seguir prontamente, tenho sido agraciado com experiências espirituais que me mostram uma porção maior da sublime beleza da grande obra da Criação. Fora do cercadinho há verdades em perfeita harmonia com o que se aprende dentro, mas sobre as quais, em sua cegueira de cercadinho, muitos jogam uma bigorna discriminatória de falsidade, heresia ou apostasia.
Não, meus irmãos. Asseguro-lhes que muitas dessas coisas que a mentalidade de cercadinho carimba como falsas, heréticas ou apóstatas não são nada disso. Eu seria o primeiro a pular fora do barco dessa observação se estivesse navegando em águas perigosas rumo a alguma ameaça a meu testemunho ou ao poder e autoridade do sacerdócio que recebi de Jesus Cristo. Meus privilégios espirituais são caros demais para me arriscar a perdê-los.
Presto-lhes meu testemunho de que Deus está mais presente fora do cercadinho do que os de dentro dele imaginam. O Espírito pôde me mostrar essa presença justamente porque minha mente não está hermeticamente fechada como um dia já esteve. A parte de Sua criação que não pode ser vista com olhos naturais prova ser verdade o que inspiradamente disse Shakespeare: “há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe [nossa] vã filosofia”.
A vastidão da espiritualidade e do poder de Deus
Aprendi que o Criador está intrinsecamente ligado a toda forma de espiritualidade. Mesmo! Seu poder está em toda parte e Ele tem controle sobre tudo, mais do que seríamos capazes de imaginar em nossas mais delirantes fantasias. O amor, a misericórdia e a compaixão do Pai são muito mais amplos que isso. É justamente o que tenho descoberto e com o que tenho me assombrado e maravilhado. Ele tem me ajudado a quebrar os paradigmas de cercadinho que me impediam de desfrutar desse apredizado.
Se posso dar um conselho a quem vier a ler este artigo, não aprisione sua mente numa redoma hermeticamente fechada e duplamente blindada. O Senhor não porá nela conhecimento, sabedoria e experiências que você não quer ter. Eu fazia isso e agora vejo o que estava perdendo. Mesmo que você se sinta protegido em seu cercadinho, admita que, diante da vastidão da grande obra da Criação, você é nada e não sabe nada. Mas não é preciso esperar a eternidade chegar para aprender mais das coisas da eternidade — até porque, na realidade, já fazemos parte dela —, basta dar ao Pai uma chance de lhe mostrar a verdade que há fora do seu cercadinho. Tenho certeza de que, assim como eu, você descobrirá que a Criação é bem mais fascinante do que imaginava e será ainda mais admirador do Pai e do Salvador Jesus Cristo do que supunha ser possível.
Em tempo: se você chegou ao fim deste artigo entendendo que estou sugerindo crer e praticar coisas que vão além de seus convênios com Deus, peço-lhe que o leia novamente, com calma e atenção, do começo ao fim. Não estou sugerindo fazer o que eu mesmo não faço. O que estou sugerindo é apenas isto: há (muita!) verdade, misericórdia, influência e amor divino onde parece não haver. É essa descoberta, sempre orientada pelo Espírito, que lhe convido a fazer também. Acredite, você se lamentará por não tê-la feito antes. 😉
Isso se encontra em todas as religiões, aqueles que vivem dentro de sua Matrix de crenças limitantes e ficam robotizados.
Perfeita visão (auto visão) sua colocação de cercadinho encaixou perfeitamente como exemplo de como muitas vezes temos esse cercado, ou melhor, nós mesmos criamos esse cercado muitas vezes por querermos ter controle, comodismos, ego etc…
E muitas vezes por nossas crenças limitantes, perdemos a oportunidade que o universo (fonte criadora DEUS) nos dá.
Ainda acho que ter um cercadinho é melhor do que estar à toa, ao sabor dos ventos, pois eles podem levar a um lugar ruim. Sabemos que o mundo é cheio de más influências e uma das formas de nos protegermos delas é se tivermos um cercadinho.
O que estou criticando em meu artigo, na realidade, é o fanatismo. Ele não teria me permitido chegar onde cheguei.
Um abraço!
Eu tinha lido ontem e acabei de ler novamente!
São palavras muito importantes para nosso mundo e vibração!
Desejo que cada vez mais possamos sair desse cercadinho!
Sair do cercadinho pode ser fundamental em alguns momentos, mas é preciso ter cuidado com a motivação da saída. Eu mesmo só saí do meu porque fui influenciado pelo Alto. Sair só por sair, sem que se saiba o que está fazendo, pode ser espiritualmente perigoso.
Muito bom, Marcelo! O mundo deveria ouvir isso. Não tenho redes sociais, mas fiquei com vontade de fazer só pra poder falar tudo isso para as pessoas. Parabéns! A gente sabe o quanto a transformação é difícil, porém libertadora.
A transformação só é libertadora quando orientada por Aquele que conhece todas as coisas. Se a orientação vier da fonte errada, podemos acabar ainda mais aprisionados mesmo que creiamos estar nos libertando.
Muito bom Marcelo, é o que costumo dizer pros meus amigos mais fanáticos, “O reino de Deus está dentro de ti e a tua volta; não em palácios de pedra ou madeiras. Rache uma lasca de madeira e Eu estarei lá; Levante uma pedra e Me encontrarás…” parafraseando com seu texto, nem sempre Deus está só dentro do cercadinho.
Acredito que o conceito de Reino de Deus não seja assim tão amplo. Se fosse, Jesus não teria organizado a Igreja Dele quando esteve na Terra e poderia ter feito parte de qualquer das religiões existentes na época (mais detalhes podem ser encontrados neste capítulo).
Mas isso não é o que me proponho a debater no artigo, e sim o fato de que Sua misericórdia e graça se estendem bem além das fronteiras com as quais muitos tentam compartimentalizar a fé. Relatei a experiência de ter tido uma ampliação dessa visão que me fez ficar maravilhado com o que vi.
Um abraço!