Publicado em 23 de janeiro de 2024 e atualizado em 21 de março de 2024
Justiça é algo pelo que a sociedade anseia incessantemente. O ordenamento jurídico criado pelo homem e o sistema que o aplica, no entanto, são inerentemente imperfeitos, afinal são reflexo da falibilidade humana. Quando contrastamos isso com a ideia de um sistema jurídico divino imaculado e infalível, somos confrontados com uma intrigante dicotomia (divisão em duas partes, geralmente contrárias).
A justiça humana é limitada pela subjetividade de nossa compreensão de certo e errado, pela frouxidão de nossos valores éticos e morais e por nosso conhecimento imperfeito, o que inevitavelmente conduz a diversos tipos de erro judicial: absolvição de culpados, condenação de inocentes, leis aplicadas com falta/excesso de rigor, defesa/promotoria deficiente, erros forenses, magistrados parciais — a lista vai longe.
A justiça divina, por outro lado, transcende as limitações humanas e abrange uma compreensão completa e total de todas as ações, intenções e até pensamentos. Nesse sistema não há falhas, nenhuma ação é ignorada e cada um recebe exatamente o que merece, seja bom ou ruim, na proporção justa e perfeita.
No entanto, a ideia de uma justiça divina também levanta questões. Se a justiça de Deus é perfeita, por que então vemos tanta injustiça no mundo? Como podemos conciliar a ideia de um Deus justo e amoroso com a existência do mal e da injustiça?
Essa questão tem sido objeto de intenso debate teológico e filosófico por séculos. A resposta que melhor explica essa dúvida é a liberdade de escolha. Deus concedeu ao homem essa liberdade para que fosse livre para fazer suas próprias escolhas, conforme se sentir atraído pelo bem ou pelo mal. O profeta Leí descreveu essa liberdade dizendo:
E para [que Deus conseguisse] seus eternos propósitos com relação ao homem, (…) era necessária uma oposição; até mesmo o fruto proibido em oposição à árvore da vida, sendo um doce e outro amargo. O Senhor Deus concedeu, portanto, que o homem agisse por si mesmo; e o homem não poderia agir por si mesmo a menos que fosse atraído por um ou por outro. (2 Néfi 2:15-16)
Nesse contexto, a injustiça no mundo não é reflexo de alguma suposta falha da justiça divina, e sim consequência de más escolhas humanas. Deus não pode impedir o cometimento de maus atos porque isso interferiria em nosso arbítrio, que é justamente o grande teste da vida e é essencial para nosso progresso eterno. Por isso, temos que ser deixados livres para fazermos nossas escolhas, boas ou ruins.
Todavia, ser livre para escolher não significa ser livre para escapar das consequências. Como disse Paulo:
Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. (Gálatas 6:7)
Embora a justiça divina, exatamente por ser justa e perfeita, não possa impedir os maus atos, pode responsabilizar e punir os autores, com a vantagem, ressalte-se, de não estar sujeita a nenhuma das falhas da justiça humana.
E a parte boa é que não é preciso esperar até o dia do juízo final para que só então todos recebam o que merecem — o juízo final, como diz o nome, é final, portanto há outros antes dele. Mas esses ocorrem em segredo para que nosso arbítrio não seja influenciado pela consciência das ações de Deus. A vida não seria um teste se assim não fosse.
Mais tarde, com base no registro completo que Deus tem de nossas vidas e ações, todas as pessoas que viveram na Terra, da primeira à última, se apresentarão diante Dele para serem julgadas — desta vez sim, no último e definitivo julgamento, que será presencial, cara a cara, olho no olho. Então, finalmente, o ciclo será completado: não restará injustiça sem correção, inocente sem recompensa, culpado sem condenação.
“Nas eternidades, o Pai Celestial e Jesus Cristo resolverão todas as injustiças”, disse o Élder Dale G. Renlund. “Em situações injustas, um de nossos encargos é confiar que tudo o que é injusto na vida pode ser corrigido por meio da Expiação de Jesus Cristo. (…) Por causa Dele, podemos ter paz neste mundo e bom ânimo. Se permitirmos, Jesus Cristo consagrará as injustiças para nosso benefício”.
Assista a reconfortante declaração do Élder Renlund no video abaixo:
Esse é o consolo e a esperança que a justiça divina oferece quando contrastada com as muitas falhas da (in)justiça humana. Cada um de nós tem a liberdade e a responsabilidade de fazer escolhas justas. Que escolhamos sabiamente, pois, novamente, “tudo que o homem semear, isso também ceifará”.
Senti na pele os efeitos dessa nefasta justiça humana quando se negou a obrigar o INSS a aposentar minha mãe, doente e inválida, só porque ainda não tinha atingido a idade mínima para aposentadoria. O vendido “perito” do INSS disse que ela estava apta ao trabalho, danando-se o fato de que não estava. Não tivemos escolha a não ser recorrer à justiça divina. E testifico que ela prevaleceu, como você diz no artigo (aliás excelente, pra variar).