Quatro-olhos, nunca mais

Referente a abril de 2003

No mês passado tomei uma decisão que mudaria minha vida — e minha aparência — para sempre. Decidi operar os olhos.

Livrar-me dos óculos era uma coisa que sempre desejei, mas os olhos são um órgão delicado demais para serem submetidos a uma decisão tão drástica apenas por motivos estéticos. Os motivos foram também financeiros. As últimas lentes que usei não eram trocadas há cinco anos e estavam inadequadas, fazendo-me enxergar com alguma dificuldade. Devido à minha alta miopia — quase dez graus —, para que não fossem grossas como o fundo de uma garrafa as lentes tinham que ser de um tipo especial e muito caro.

Como há uma lei que obriga os planos de saúde a custear cirurgias de correção de miopia para pacientes com mais de seis graus, passei a considerar a idéia com mais entusiasmo, movido mais pela questão financeira do que pela estética. Em dezembro do ano passado consultei o oftalmologista de mamãe a respeito da possibilidade de fazer a operação. Ele solicitou alguns exames para averiguar a viabilidade da cirurgia. Constatou que minhas córneas eram planas demais para garantir o sucesso da tentativa de zerar uma graduação tão alta. Assim sendo, explicou-me que, não podendo garantir o resultado, recusava-se a realizar a cirurgia por receio de futuras reações negativas minhas. Tentei argumentar que qualquer coisa que conseguisse tirar de minha miopia para mim seria um grande negócio, pois passar a poder usar lentes simples ao invés de especiais representaria uma grande economia para mim. Cheguei até a oferecer-me para assinar um termo de responsabilidade isentando-o de culpa caso o resultado fosse outro que não o que se esperava. Mas ele mostrou-se inflexível e recusou-se terminantemente, dizendo que, se eu quisesse, fosse procurar outro médico.

Até então, essa não era uma questão prioritária em minha vida e decidi levá-la como estava por mais algum tempo. Então aconteceu um pequeno acidente que quebrou uma das lentes, o que contribuiu para acelerar meus planos. Foi quando decidi fazer o que o primeiro médico desaforadamente sugeriu.

Em março, com uma médica de outra equipe, repeti os exames feitos meses antes, que chegaram ao mesmo diagnóstico. Todavia, a nova equipe não tinha os brios da primeira. Eu simplesmente fui alertado para a possibilidade de não ser possível zerar a miopia, o que acarretaria na convivência com algum resquício. Para mim, era um grande negócio, que aceitei sem titubear.

Todavia, antes de seguir adiante, levei minha decisão ao Senhor na esperança de obter Seu apoio. Sua resposta foi positiva, fazendo-me sentir tranqüilo quanto à decisão.

O resultado foi melhor que o esperado: no olho direito, que era o pior, restou apenas 0,75 grau. A miopia do olho esquerdo foi totalmente zerada.

E foi assim que livrei-me dos óculos que usei por trinta anos. Estou muito satisfeito com o resultado. Nunca mais terei que sofrer com lentes que sujam a toda hora, óculos pesados que marcam o nariz, ouvir coisas como “noooooossa, que lente grossa, você é cego mesmo, hein?”, pagar exames de refração e fortunas em armações e lentes especiais, acordar no meio da noite e ficar tateando no escuro para achar os óculos, tomar banho sem me enxergar no espelho, espirrar ao sair no sol (agora posso usar óculos escuros), correr o risco de cair no sono sem tirar os óculos ao deitar e empenar a armação, ter a visão piorando à medida em que a idade avança (os operados não desenvolvem mais miopia, disse a médica), ser chamado de “quatro-olhos” ou de caolho quando uma lente quebra, ficar com o óculos escorregando no nariz quando estou suado, ter que ficar endireitando a cabeça para poder enxergar bem só pelo centro das lentes, ter carteira de motorista com validade menor que as outras, e a lista vai longe…

Sou muito grato por poder contar com a orientação do Espírito em minhas decisões. Este foi um caso em que eu poderia ter me prejudicado enormemente se, sabendo que algo poderia dar errado, o Espírito não pudesse avisar-me por não encontrar-me digno de receber Sua manifestação. Foi o que aconteceu com meu avô Ernesto, pai de papai, que ficou cego dos dois olhos devido a uma desastrada cirurgia do mesmo tipo que fiz.

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2 respostas para Quatro-olhos, nunca mais

  1. Felipe disse:

    Interessante sua história, é meio difícil ver pessoas que operam para correção da miopia acima de 10di zerarem ou ficar com dioptria baixíssima. Agora em relação às pessoas operadas não desenvolverem a miopia, depende da situação. Caso o paciente seja jovem (geralmente abaixo dos 21 anos) e continua a desenvolver uma miopia de caráter maligno, é altamente recomendável esperar o erro de refração estabilizar, pois é provável que a miopia ainda continue a avançar.

    • Marcelo Todaro disse:

      Oi, Felipe.

      O que escrevi no artigo foi o que minha oftalmologista disse na época da cirurgia. Hoje, sete anos mais tarde, o olho direito (que era o pior) ficou com 3 graus e o esquerdo com 1. Ela explicou que isso é normal devido a uma espécie de acomodação do olho após o procedimento cirúrgico, mas que minha miopia não mais aumentaria na proporção que sempre aumentou ao longo de minha vida.

      Há uns dois anos refiz os exames para saber se haveria possibilidade de fazer nova cirurgia para reduzir esse resquício. Infelizmente, o resultado levou a equipe médica a não recomendar novo procedimento. Então estou convivendo com o que sobrou, mas é uma convivência absolutamente tranquila. Comparado a como era minha vida antes, eu diria que estou no céu. 😉

      Um abraço!

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