A história de minha conversão

Publicado em 1 de janeiro de 2007 e atualizado em 8 de março de 2024

Nasci na cidade de São Paulo em 4 de maio de 1966, num pacato bairro da zona sul chamado Cidade Vargas, que fica na região do Jabaquara.

Vindo de família cristã, recebi de meus pais orientação espiritual segundo os mais altos padrões cristãos. Em sua juventude, papai frequentou a igreja Presbiteriana e mamãe, a Metodista. Foi em uma das duas que se conheceram e casaram.

Cresci ouvindo falar em Deus, tanto em casa quanto nas igrejas evangélicas que frequentávamos. Apesar disso, até meados de minha adolescência minha imaturidade não me havia permitido desenvolver genuíno interesse pelo evangelho ou pelas escrituras. Muito embora não houvesse em meu coração qualquer dúvida quanto à existência de um Pai Eterno, até então Ele era para mim alguém por demais distante e inalcançável para que valesse a pena uma tentativa de aproximação. Por isso, eu não tinha o hábito de orar ou de ler a Bíblia. Muitas vezes, perante colegas de escola e amigos do bairro, me sentia envergonhado em dizer que ia à igreja com meus pais.

Despertar espiritual

Por volta de meus 15 anos, contudo, essa situação começou a mudar. Meus pais já não frequentavam mais nenhuma igreja por causa de desavenças com os pastores e nunca mais tornaram a pisar em uma. Assumiram a postura “Deus está dentro de mim, não preciso de igreja”. Apesar disso, senti que deveria começar a desenvolver por conta própria um compromisso espiritual mais sério. Tomei a iniciativa de frequentar uma igreja sozinho e escolhi a Metodista. Passei também a orar regularmente e a ensaiar uma leitura sistemática e consistente da Bíblia.

Os motivos desse despertar espiritual me eram desconhecidos. Apenas senti que deveria fazê-lo e meramente segui meus instintos.

Em julho de 1982, dois meses após completar 16 anos, mudamo-nos para Maceió. De São Paulo eu levara o desejo de continuar atuante numa igreja evangélica como a que eu frequentava, mas o que encontrei na nova cidade foram igrejas fracas, desamparadas, esvaziadas e totalmente desinteressantes. Decidido que estava a melhorar minha condição espiritual e imaginando que em nenhuma daquelas igrejas eu alcançaria esse objetivo, resolvi deixá-las de lado e agir por conta própria. Passei a orar com mais fervor, a ler a Bíblia com mais interesse e a adaptar alguns traços de minha personalidade ao que me parecia estar mais de acordo com meu entendimento dos textos bíblicos, como ser caridoso, humilde, sincero, solícito, prestativo, paciente, etc.

Então uma colega de escola chamada Ana Rúbia, de apenas 16 anos, linda e delicada como uma pétala de rosa, de quem eu era relativamente próximo e a quem eu muito admirava, dirigiu-se a uma praia distante e, com a arma do pai, deu-se um tiro no ouvido. Foi um choque para toda a escola, mas para mim, que vivia uma fase de buscas por respostas espirituais, pareceu ter tido impacto ainda maior. Por um bom tempo me perguntei por que Deus permitiu que uma de suas belas, inteligentes e promissoras filhas tirasse a própria vida sem que Ele nada fizesse para impedir a desgraça trazida sobre si mesma e sobre seus pais, que em decorrência do trauma sofreram severo desequilíbrio psicoemocional. Tais perguntas somaram-se às muitas que eu já tinha e fizeram com que me dedicasse ainda mais à caça de respostas. O único meio ao alcance de minha visão era a oração e a leitura da Bíblia.

Busca por um batismo

Foi lendo sobre a necessidade de “nascer da água e do Espírito” (João 3:5) que decidi procurar uma igreja evangélica que me parecesse razoável para nela ser batizado, coisa que até então eu não tinha feito. Ou melhor, tinha, mas sem que tivesse sido por minha livre e espontânea vontade, porque fui batizado por aspersão na igreja Metodista quando recém-nascido. Apesar disso, eu sentia que devia ser batizado novamente, por algum motivo. Só muito depois é que vim a entender que aquele primeiro batismo não poderia ser válido perante Deus porque é uma ordenança que Ele instituiu para a remissão dos pecados da pessoa que se arrepende deles (Atos 22:16). Ou seja, o compromisso precisa ser assumido voluntariamente por quem já tem idade suficiente para compreender o que está fazendo e assumir essa responsabilidade perante Deus. Obviamente, um recém-nascido não é capaz disso.

Além do mais, a Bíblia descreve o batismo de Cristo (já adulto, não criança) como tendo sido por imersão ao mencionar que Ele “saiu da água” (Mateus 3:16, Marcos 1:10). Se saiu, é porque entrou. Como alguém entra na água apenas com uma pequena quantidade derramada sobre a cabeça? Por que Ele precisaria ir até o Rio Jordão para isso? Não faz sentido.

Na verdade, a entrada de corpo inteiro na água é necessária para cumprir o simbolismo da ordenança, que representa a morte para a vida anterior e o renascimento para uma nova vida (Romanos 6:4, Colossenses 2:12). Então mergulhar simboliza o sepultamento e o levantar simboliza a ressurreição, coisa que a mera aspersão de água na cabeça é incapaz de simbolizar. Há outras passagens no Novo Testamento mostrando que os batismos eram feitos por imersão, como João 3:23 e Atos 8:3.

Eu não compreendia nada disso naquele momento, só sentia que precisava ser batizado de novo, pelos motivos expostos acima e que só vim a entender tempos depois.

Embora as igrejas evangélicas que até então eu conhecera na nova cidade me parecessem espiritualmente mortas, isso não me parecia um problema quanto à minha intenção de ser batizado. Segundo minha interpretação da Bíblia, o batismo não significava um compromisso com a igreja que o ministrava, e sim com Deus. Isso me permitiria ir a qualquer uma delas, ser batizado e sumir. Eu realmente não estava interessado em compromisso com igreja nenhuma, e sim em desfrutar de uma comunhão maior com o Pai e dos dons dados a quem renasce espiritualmente através do batismo, conforme descreve a Bíblia. Eu queria servir de instrumento em Suas mãos para realizar Sua obra. Em busca dessa possibilidade estive em várias igrejas evangélicas, até nas mais fundamentalistas, mas os pastores tentaram me convencer de que as coisas não eram como eu imaginava. Inconformado, achei que estavam todos errados e não me batizei em nenhuma. Só não procurei a igreja católica, na qual nunca vi qualquer traço de semelhança com a forma como eu achava que a Igreja de Jesus Cristo deveria ser, além de ser repudiada por meus pais.

O primeiro contato

Foi então que, numa tarde de 1983, aos meus 17 anos, alguém bateu palmas à porta de casa. Eram dois rapazes finamente trajados que se apresentaram como representantes de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Diziam trazer uma mensagem sobre Jesus Cristo e pediam permissão para transmiti-la. Sem saber ao certo do que realmente se tratava, chamei mamãe. Ela os viu de longe e exclamou: “Xi, são os chatos dos mórmons! Mande-os embora!”

Não o fiz. Senti que não devia. Ao invés, senti que deveria ouvir a mensagem deles, por isso convidei-os a entrar. Afinal, eu buscava respostas e estava disposto a ouvir quem quer que pudesse me dar alguma. Então me deram uma palestra sobre Jesus Cristo e Sua missão como Criador e Redentor. Deram-me também dois folhetos e me convidaram a visitar a Igreja.

Mais tarde, fui procurar saber o motivo da aversão de mamãe à religião conhecida como “mórmon”. Ela teve contato bastante estreito com a religião em sua juventude, mas não chegou a se filiar. Musicista que era, tocou em vários eventos da Igreja e participou de outras tantas reuniões. Mas, por conta de um mal-entendido, criou grande antipatia pela religião. Eu nunca soube ao certo que mal-entendido foi esse, pois ela não quis entrar em detalhes.

Conversei com algumas pessoas sobre a peculiar visita dos mórmons à minha casa. Embora as opiniões fossem divergentes, todas convergiam num ponto: não valia a pena. Todavia, achei a visita interessante. Não li os folhetos que me deram, mas ponderei que seria produtivo visitar a Igreja deles, afinal eu vivia uma fase de busca. Se encontrasse lá algo bom, rete-lo-ia para mim, sem necessariamente assumir compromisso com eles. Esse, aliás, sempre foi meu intuito ao buscar as igrejas que até então havia frequentado.

Procurei-os no domingo seguinte. O local de reunião daquela congregação de mórmons era uma casa pré-fabricada de madeira nos fundos de um enorme terreno cheio de árvores (onde hoje funciona a capela que sedia a Estaca Maceió Brasil). As poucas pessoas que havia lá quando cheguei me receberam muito gentilmente. Era notória sua preocupação em me fazer sentir à vontade. Os missionários que me visitaram também estavam lá. Gostei muito de tudo.

Ainda não foi dessa vez

Assisti todas as reuniões daquele domingo e saí de lá muito bem impressionado. Mas foi só. Voltei para casa e continuei a vida como a vinha vivendo. Os missionários, por sua vez, não me procuraram mais, por algum motivo.

Algum tempo depois, mamãe foi contratada por uma das igrejas batistas da cidade como regente de seu coral. Como sempre gostei de cantar e já houvera participado de grandes corais evangélicos em São Paulo, resolvi participar daquele também. Fui me enturmando com os batistas daquela congregação e, não demorou muito, acabei encontrando lá o batismo que tanto buscava. Sobre esse batismo, meus pais eram da opinião de que eu deveria ter esperado e pesquisado um pouco mais antes de me decidir por tratar-se de um sério compromisso assumido com Deus para o qual não me julgavam preparado. Mas eu discordava. Aproximar-me de Deus era algo de que eu sentia necessidade e abraçaria qualquer coisa que me beneficiasse nesse sentido.

Inspirado por tal sentimento, o estudo regular da Bíblia (até me matriculei num curso bíblico por correspondência), a oração e a frequência aos cultos tornaram-se uma constante em minha vida. Eu sentia necessidade disso. Meu pai, por outro lado, achava anormal um adolescente como eu trocar o clube, as praias e as garotas aos domingos por uma igreja. Também estranhava minha preferência pela leitura bíblica em lugar de outras mais de acordo com a juventude. Para alguém que outrora foi fiel participante das congregações evangélicas que frequentávamos — nunca é demais lembrar que o sentimento religioso entrou em minha vida graças a meus pais —, sua estranheza me parecia surpreendente. Talvez esperasse que, assim como ele, eu também chegasse à conclusão de que religião era algo dispensável.

Até então, eu nunca havia associado a palavra “igreja” à imagem de qualquer outra que não fosse evangélica. Não me interessava conhecer outras religiões que fugissem das evangélicas tradicionais porque coisas como catolicismo, espiritismo, budismo, islamismo, maçonaria, pirâmides, cosmos, deuses astronautas e outros assuntos pelos quais papai sentia-se irresistivelmente atraído me pareciam mais invencionices humanas do que idéias divinamente inspiradas. Numa certa noite, ele manifestou seu inconformismo e desagrado com minha atitude hermética em relação a essas outras idéias. Como sempre foi muito convincente e persuasivo, conseguiu me convencer de que eu deveria abrir meus ouvidos para conhecer mais de seus pensamentos religiosos que, na verdade, eram uma panaceia filosófica formada por fragmentos desconexos dessas várias doutrinas. Talvez achasse que eu estava bitolado e que minha mente precisava ser arejada. Assim, por boa vontade e consideração a ele, escancarei as portas de minha mente ao que tinha a dizer.

Antes não o tivesse feito.

Choque ideológico

Começou uma palestra falando sobre a evolução da vida, afirmando ser o homem fruto de mera evolução biológica e não de criação divina. Disse também que Deus era uma “entidade” dotada de grande poder, com o qual governava o universo e mantinha todas as coisas na devida ordem. O homem teria herdado Dele parte desse poder, de modo que, com a força da mente, poderia fazer coisas como curar doenças, transladar-se de um lugar a outro e conhecer pensamentos de outras pessoas, razão pela qual o homem não deveria perturbar o Ser Supremo com seus problemas menores, já que “Deus é alguém ocupado demais para ser molestado com banalidades”. De acordo com essa visão quase ateísta, Jesus Cristo não era o Filho Unigênito do Pai Eterno, portanto também Deus, e sim um desses homens com poderes mentais desenvolvidos a tal ponto que lhe era possível curar à distância, andar sobre a água, ressuscitar mortos e outras maravilhas que “qualquer homem pode fazer”. Cristo teria sido também um disciplinador, alguém vindo do além para “pôr ordem na bagunça”. E mais: segundo ele, Satanás não existia, não sendo mais que uma mera representação de nossas próprias fraquezas e debilidades.

De tudo o que disse naquela noite, contudo, houve algo que me perturbou a ponto de ter conseguido abalar minha fé: seu conceito sobre a oração. A oração nada mais seria que uma reles “mentalização”, uma forma de comunicação com nosso próprio inconsciente. Para ele, era por meio do poder do inconsciente que podíamos obter as “bênçãos” que queríamos.

Saí daquela conversa bastante confuso e desnorteado. Fechei-me em meu quarto perturbado com a possibilidade de que tudo aquilo fosse verdade. Se fosse, estariam destruídos todos os meus fundamentos cristãos sobre a Divindade. Deixar ver Jesus Cristo como o Criador do universo e considerar que “Deus é alguém ocupado demais para ser molestado com banalidades” subitamente fizeram com que me visse entregue à própria sorte e sendo governado pelo acaso. Pouco a pouco, a confortadora imagem divina que eu fazia em minha mente como forma de imaginar o Ser Supremo foi desaparecendo. A idéia do auto-condicionamento como explicação para a oração me deixou preocupado com a possibilidade de que minhas orações não tivessem sido mais que um monólogo comigo mesmo, caso em que eu poderia me considerar um completo otário. Tudo aquilo penetrou fundo em meu íntimo, até o ponto de achar que realmente poderia não haver um Deus que ouvisse minhas preces. Se não havia mais a quem recorrer para buscar orientação, não haveria motivos para continuar lendo a Bíblia, nem a Quem dedicar e de Quem receber amor. Consequentemente, não faria sentido guardar mandamento nenhum e minha dedicação às coisas espirituais estaria sendo em vão.

Passei alguns dias me sentindo totalmente sem chão. Porém, com todas as forças de meu coração, eu desejava que tudo aquilo fosse mentira. A infame idéia de entregar o curso de minha vida ao acaso me ofendia e repugnava. Precisava encontrar alguém a quem pedir socorro, alguém que pudesse contrapor tais idéias de maneira tão ou mais convincente do que papai foi capaz. Ir atrás de um pastor estava fora de cogitação, porque pastor nenhum teria argumentação racional suficiente, não baseada na Bíblia (afinal, a Bíblia também passou a estar em questão), para me ajudar. Padres, rabinos, médiuns, monges e congêneres, idem. Então quem?

Restauração da fé

Foi então que lembrei da existência de um homem com quem simpatizei muito e que me inspirou grande confiança quando o conheci (vide foto). Era um homem sábio e que tinha grande amor ao próximo. Eu sabia que ele era mórmon — fato que, para alguns evangélicos como eu, o desqualificaria para qualquer tipo de ajuda —, por isso a princípio receei procurá-lo. Esse receio baseava-se num irracional preconceito evangélico contra os mórmons incutido em mim em meu tempo de convivência com os batistas. No entanto, a despeito de ser mórmon, ele era alguém cuja imagem me inspirava confiança. Quanto mais eu pensava nisso, mais algo dentro de mim dizia que fosse vê-lo. Raciocinei que, na pior das hipóteses, procurá-lo significaria ficar mais confuso do que eu já estava. Não me pareceu um preço demasiadamente alto, já que pior seria difícil ficar. Portanto, deixei meus medos e preconceitos de lado e o procurei. Conheci-o na visita que eu fizera à igreja mórmon cerca de um ano antes. Ele servia como bispo para a congregação que visitei.

O bispo (à direita) e eu, vinte e quatro anos depois
O bispo (à direita) e eu, vinte e quatro anos depois

Assim, na calorenta tarde de 29 de julho de 1984, domingo, ele e eu conversamos longamente a respeito das idéias que tanto haviam me perturbado dias antes. Usando da grande sabedoria que lhe era peculiar, não usou de argumentos racionais nem escriturísticos, mas simplesmente relatou suas ricas experiências pessoais, através das quais teria alcançado grande grau de proximidade com Deus. Testificou de maneira poderosa que a oração é uma forma efetiva de comunicação pessoal e direta com Deus e que Ele não apenas ouvia suas orações como também as respondia. Conhecer suas ricas experiências espirituais me ajudou a reconstruir a casa da fé derrubada por uma súbita tormenta e a crer novamente na existência de um Deus próximo, amoroso e tangível. A grandiosidade do alívio que senti enquanto aquela alma abençoada me falava é algo difícil de descrever. Isso não aconteceu meramente porque ele disse o que eu queria ouvir. A sensação de alívio e conforto era mais poderosa que isso. Era algo que vinha de fora. Senti meu coração tocado e não tive forças nem motivos para duvidar de nada do que dizia.

Talvez percebendo isso, ele aproveitou para também prestar seu testemunho quanto à sua fé. Em outras circunstâncias eu não o ouviria, mas naquele momento senti que deveria ouvi-lo e prestar atenção em suas palavras. Prestou seu testemunho sobre a Igreja dizendo saber ser ela a única Igreja verdadeira na face da Terra. Então me mostrou um livro chamado O Livro de Mórmon, explicou sua origem, falou de seu conteúdo e da maneira como foi trazido à luz dos homens pelo poder de Deus, ao final do que disse: “Eu amo este livro”. Foi incrível observar como aquela frase, dita com tamanha sinceridade e humildade, mexeu comigo como nenhuma outra frase antes o fizera. Eu continuava sem forças para duvidar de nada do que dizia, pois estava totalmente envolvido por um penetrante sentimento de paz e segurança em relação à novidade que entrava por meus ouvidos. Depois me mostrou uma passagem no fim do livro que fala em uma grande promessa, extensível a todos os homens na Terra, de que pelo poder do Espírito Santo poderemos saber a verdade de todas as coisas (Moroni 10:4-5).

A verdade era algo que eu vinha perseguindo com incomum tenacidade. Por um momento receei que o bispo também fosse um desses homens inocentemente enganados pelas idéias humanas, tal como meu pai. Eu não queria cair nessa! Preferiria virar ateu a ter que engolir idéias de homens como doutrinas divinas.

O mais estranho de tudo era que, quanto mais me envolvia nesse redemoinho de dúvidas, mais algo dentro de mim dizia que continuasse procurando o bispo. Eu não sabia explicar a fonte desse sentimento. Isso me intrigava ainda mais.

Naquele mesmo domingo orei muitas vezes. Reuni toda sinceridade, humildade e fé que fui capaz de encontrar dentro de mim na intenção de alcançar uma resposta, qualquer que fosse ela. Em decorrência, senti-me confortável com a idéia de ceder aos misteriosos impulsos que me compeliam a continuar procurando o bispo e o fiz várias vezes nos dias subsequentes.

O que eu precisava, na verdade, era de um testemunho. O testemunho baseia-se na revelação de Deus e vem quando Ele fala a nosso coração, mente e espírito, fazendo-nos saber da verdade por nós mesmos — como se já tivéssemos nascido com ela. O testemunho não pode vir de fonte humana, mas de Deus. Por essa razão, o bispo não tentou me persuadir a seguir o caminho que ele sabia ser o verdadeiro. Ao invés, me persuadiu a descobrir por mim mesmo, pelo poder do Espírito Santo, se aquele era o verdadeiro caminho. Em outras palavras, ele não queria que eu acreditasse em suas palavras, mas nas de Deus, expressas pelo poder do Espírito. Explicou-me que, através do Espírito, o Senhor pode Se expressar de diferentes formas, conforme Seus propósitos e circunstâncias. Pode falar através de Sua aparição pessoal, ou através da de Seu Filho, ou da de um de Seus anjos, ou fazendo-nos ouvir Sua voz, ou dando-nos uma visão, sonho, enfim, várias são as possibilidades. Embora fosse pouco provável que eu recebesse uma prodigiosa manifestação celestial, eu estaria sujeito a isso caso houvesse um propósito divino. O mais provável, contudo, seria que acontecesse o que normalmente acontece: Ele falar a nosso coração, mente e espírito através de inequívocos sentimentos de paz, segurança, doçura e poder de penetração tais que trazem certeza e confiança à mente e coração daquele que recebe Dele Seu testemunho sobre o que se precisa saber. Algo exatamente assim foi o que senti quando o bispo prestou seu testemunho sobre a veracidade da Igreja e do Livro de Mórmon no domingo anterior. Foi esse o motivo pelo qual não tive forças para duvidar de nada do que disse. Foi como se todo ceticismo, descrença e preconceito antimórmon incutidos em mim pelo meio evangélico tivessem sido apagados de minha mente e nunca tivessem existido.

Os céus estão abertos

Mas eu ainda precisava de uma última e definitiva confirmação. Assim, mais uma vez, reuni sinceridade, humildade e fé em oração, talvez a mais importante de minha vida. Com meu exemplar do Livro de Mórmon em mãos, à meia luz e no mais absoluto silêncio, pedi ao Pai que me fizesse saber se A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é verdadeiramente a Igreja de Jesus Cristo na Terra — não apenas mais uma que pretende ser de Cristo, mas a única que Ele reconhece como Sua. Pedi-Lhe também que mostrasse a verdade sobre aquele livro que eu tinha em mãos. Tinha plena certeza de que receberia alguma resposta, qualquer que fosse, por qualquer meio, visto que sempre fui crente em Deus e em Seu poder.

Foi essa fé que possibilitou então que o Espírito me desse Sua resposta na forma de impulsos pelos quais fui exteriormente compelido a pregar meus olhos sobre a capa azul-marinho do livro que traz O Livro de Mórmon – Um Outro Testamento de Jesus Cristo gravado em elegantes letras douradas. Em seguida, dentro de mim, uma voz suave e quase audível me disse para abri-lo. Quando o fiz, minha surpresa não foi quanto ao que vi, e sim quanto ao que senti: as poucas palavras que consegui ler pareceram ter se fundido ao meu DNA como se eu tivesse reencontrado uma parte de mim que havia se perdido. Fui novamente sequestrado pelo mesmo penetrante e envolvente sentimento de paz, conforto e segurança com os quais eu houvera sido envolvido dias antes na conversa com o bispo e que, naquele momento, fez com que as dúvidas que ainda tinha se extinguissem como mágica. Senti que nenhuma outra prova era necessária senão aqueles sentimentos que só poderiam ter sido emanados pelo Espírito do Senhor. Não era uma mera impressão ou imaginação: eu sabia que vinham Dele. Eu não poderia explicar como sabia, eu simplesmente sabia! Essa certeza brotou espontaneamente dentro de mim como se eu já tivesse nascido com ela. Por todo o tempo em que estive envolvido por aquela sublime e sagrada manifestação do amor do Pai por mim, pareceu que o mundo todo perdera importância, como se tivesse parado para que eu recebesse o testemunho que buscava.

Dali por diante, tudo em minha mente e em meu coração tornou-se claro. O que senti foi que não precisaria procurar mais, pois achara o que tanto buscava. Assim sendo, não haveria por que não tomar parte nessa alegria. A idéia de me filiar à Igreja me fazia sentir muito bem — o que realmente era surpreendente para um evangélico como até então eu era — e foi no primeiro dia de agosto de 1984 que tomei a decisão de me batizar, desta vez com o batismo único, verdadeiro e definitivo.

Embora não tivessem tentado me impedir, meus pais foram radicalmente contra esse meu novo batismo. “Você vai quebrar a cara” foram as palavras mais suaves que ouvi. Como eu já havia passado por outras igrejas nessa minha busca por Deus, estavam provavelmente supondo que esta seria só mais uma. Mas eu não pensava assim. Nas outras, não senti o que sentia nesta. Era como se algo me puxasse para dentro dela e me fizesse sentir tão bem que não me parecia mais necessário continuar procurando.

A eternidade é logo ali

As palestras que recebi dos missionários não aconteceram da forma usual, ou seja, com a visita deles em minha casa: eu é que ia à casa deles. Isso porque procurei minimizar ao máximo o contato de meus pais com os missionários devido às repercussões negativas que a ministração das palestras estavam causando em casa. Meus pais não viam os missionários e a Igreja com bons olhos, nem ao que eu estava fazendo — provavelmente por causa do mesmo tipo de preconceito antimórmon que os evangélicos outrora haviam incutido em mim. Embora eu não lhes escondesse nada, torciam o nariz para mim toda vez que eu voltava da casa dos missionários e das visitas à Igreja. Surgiram vários tipos de crítica e deboches. Eu detestava esse tipo de constrangimento, ainda mais em minha própria casa. Sentia-me péssimo com isso. Imagine o que é cultivar e fortalecer o recém recebido e ainda tenro testemunho tendo que encarar intensa oposição da família, de meus ex-colegas evangélicos, de colegas de escola e, por fim, de todo o resto do mundo que duvida ser possível o Espírito de Deus ter Se manifestado a mim como fez. Não adiantou dizer a meus pais que decidi me batizar porque recebi um testemunho direto e inequívoco do Espírito do Senhor dizendo que era a coisa certa a fazer. Não acreditavam que Ele possa ter testificado que é verdade algo com o que não concordam. Se não testificou a eles, por que o faria para mim? Achavam que era meramente uma ilusão, autocondicionamento, deslumbramento, hipnose, imaginação, lavagem cerebral (lorota muito comum na época) ou algo parecido. Falaram contra a Igreja por muito tempo, tentando me convencer de que eu estava tomando uma atitude impensada e premeditada. Ouvi todo tipo de apelação à minha imaturidade e inexperiência na vida. Eu só ouvia, calado, sem mover um músculo. Essa tortura psicológica durou dias! Por fim, vendo que não me demoveriam de minha decisão, deram-se por vencidos dizendo: “Vá e faça o que quiser”.

Foto de 1987 da capela sede da Estaca Maceió Brasil
Capela sede da Estaca Maceió Brasil em 1987. Três anos antes, quando a capela ainda não existia, fui batizado num tanque improvisado sob as grandes mangueiras ao fundo.

Era uma tarde de sol, céu limpo e calor, em 5 de agosto de 1984. Os missionários me abraçaram demoradamente, com largos sorrisos nos lábios, parabenizando-me insistentemente. Assim fizeram também todos os que ali se encontravam, aguardando o início da cerimônia batismal. Em meu coração misturavam-se paz e euforia, às quais era impossível resistir, bem como o desejo de perpetuar aqueles momentos tão sublimes. Reunidos em torno da pia batismal improvisada sob uma imensa mangueira do terreno da pequena capela de madeira, entrei na água morna. Um dos missionários ergueu o braço direito em ângulo reto, pronunciou as palavras da oração batismal, me submergiu totalmente na água e me retirou dela. A vitória estava sendo tão somente minha mesmo.

O que ocorreu e ocorre desde então está nas páginas a seguir. Para prosseguir com a leitura, clique aqui ou nos links de navegação que aparecem abaixo, logo acima dos comentários.

Visitado 3.305 vezes, 1 visita(s) hoje

30 comentários em “A história de minha conversão

  1. Bom Dia

    Marcelo, após mergulhar nas páginas da sua jornada de conversão, é evidente que você não apenas navega, mas também desenha os mapas das rotas que percorre. Sua habilidade de transformar desafios em degraus para o crescimento é mais impressionante que um alquimista transformando chumbo em ouro. Não é todo dia que encontramos um explorador de terras desconhecidas da alma com a bússola apontando sempre para a verdade. Mantenha a curiosidade como seu norte e continue compartilhando sua saga, pois cada capítulo é uma nova lição para quem tem o privilégio de acompanhar sua jornada.

    Segue a nossa história
    https://noticiassudbrasil.blogspot.com/2013/08/familia-e-batizada-apos-conhecer-igreja.html?m=1

  2. Irmão, você já ouviu falar do livro “Dissertações sobre a Fé” que foi retirado posteriormente de Doutrinas e Convênios? Nele Joseph Smith afirma que Deus, o Pai, é um personagem de espírito e que Jesus possui um tabernáculo. Fiquei confuso. O irmão pode me ajudar?

    1. Olá, Marcos.

      Já tinha ouvido falar dessa obra, pois está citada em diversos materiais da Igreja, mas nunca a li e desconheço seu conteúdo.

      Agora, saber que Joseph se referiu a Deus como um personagem de espírito não causa nenhum espanto. O próprio apóstolo João também o fez (veja João 4:24) e nem por isso Deus deixou de ter o corpo físico que tem. É preciso interpretar o que apóstolos e profetas dizem à luz da necessária inspiração do Espírito.

      Então, se vamos buscar conhecimento e inspiração, fazê-lo consultando as fontes corretas é garantia de obtermos conhecimento correto. Sobre a obra mencionada por você o próprio site da Igreja tem a resposta que você procura. Leia lá.

      Espero ter ajudado.

      Um abraço!

  3. Marcelo, a sua história é muito boa e compreendo tudo o que você diz…mas não posso aceitar que você ache que só a igreja de vocês é a igreja verdadeira. Primeiro ponto: Não existem duas palavras de Deus, para mim existe uma só e nenhuma outra fonte pode ser equiparada à ela.
    Néfi fala somente de coisas que já existem na Bíblia Sagrada, não há nada novo.
    Se as outras igrejas são “falsas”, porque se existe só uma verdadeira as outras são “falsas” se é que bem entendi. Me explica porque a presença de Deus está nas outras também? Quarta-feira passada Deus falou com meu irmão no culto, através de uma serva dEle, uma mulher que foi somente visitar a nossa igreja (ela é do Rio de Janeiro), nunca viu meu irmão e nem o conhecia e falou exatamente tudo o que ele estava passando e que Ele (Deus) estava vendo toda a situação. O que você me diz desse tipo de manifestação de Deus em uma igreja “falsa”?

    1. Jeferson disse:

      não posso aceitar que você ache que só a igreja de vocês é a igreja verdadeira.

      Não sou eu quem acha, é o Senhor. Isso foi o que Ele disse a Joseph Smith. Como obtive Dele próprio um testemunho de que isso é verdade, então as palavras Dele passam a também ser minhas.

      Isso por si só deveria ser suficiente para encerrar a discussão sobre todo o resto.

      Você também pode obter Dele um testemunho sobre isso, basta estar disposto a pagar o preço para obtê-lo, coisa que não parece disposto a fazer por estar demonstrando confiar mais no próprio conhecimento do que no de Deus. E Ele também não vai lhe dar uma resposta que você não quer receber por achar que já sabe o que Ele diria, não Lhe dando a chance de Se manifestar. Então é você mesmo que sai perdendo.

      O profeta Moroni testifica que quem quer que busque saber a verdade com fé e humildade, com coração sincero e real intenção, sem preconceito, ceticismo ou achando que já sabe a resposta, poderá obtê-la pelo poder do Espírito Santo, por meio do qual podemos saber a verdade de todas as coisas (veja Moroni 10:4-5). A menos que assim proceda, vai passar o resto da vida encontrando no Livro de Mórmon, em Joseph Smith e na Igreja de Jesus Cristo defeitos e falhas que na verdade são fruto apenas e tão somente de seu entendimento distorcido dos fatos.

      Néfi fala somente de coisas que já existem na Bíblia Sagrada, não há nada novo.

      Aparentemente você não entendeu o que leu, nem também leu o Livro de Mórmon até o fim. Então que tal fazê-lo antes de falar do que não sabe?

      O que você me diz desse tipo de manifestação de Deus em uma igreja “falsa”?

      Não sou assim tão binário, Jeferson.

      Eu jamais diria que a história é falsa, assim como também não afirmo que a de Maomé ou a aparição de Maria em Fátima sejam falsas, e outras coisas. É-me facultado o direito de não acreditar nelas, mas eu jamais diria que são falsas. Primeiro, porque não é educado. Segundo, porque não sou dono da verdade. Se acho que essas alegações são ou não verdadeiras, isso fica pra mim.

      No meu blog eu simplesmente presto testemunho do que sei ser verdade. Sei que as alegações de Joseph Smith são verdadeiras pelos motivos que exponho no artigo. É baseado nesse conhecimento que estou onde estou, creio no que creio, afirmo o que afirmo e não me desculpo. Esse conhecimento mudou todo o curso de minha vida desde quando o obtive.

      Você tem todo direito de duvidar de Joseph Smith, mas seu ceticismo não torna a história dele falsa só porque você não acredita nela. Felizmente, Deus não depende da sua fé (ou da falta dela) para fazer o que quiser.

      O detalhe é que um dia toda a humanidade saberá da verdade. Aí, os que duvidaram de Deus e de Suas obras (Joseph Smith dentre elas) serão obrigados a reconhecer que erraram.

      Não acredita? Então espere pra ver. 😉

      Um abraço!

  4. Poxa vida, se rendeu aquilo que Paulo nos alertou: Ainda que nós, ou um anjo desça do céu pregando outro evangelho seja anátema. Os mórmons tem outro evangelho, outra bíblia. Lastimável.

    1. Danusa, aparentemente você não entendeu o que leu em meu artigo, ou não prestou atenção ao que leu. Se o tivesse lido e entendido, não teria dito o que disse. Então convido-a a lê-lo novamente, com calma e atenção.

      Se, ainda assim, não o entender e se desejar se informar melhor a respeito de nossas crenças e doutrina, talvez conclua que, ao contrário daquilo em que acredita, não temos outro evangelho nem outra Bíblia. Caso esteja interessada em esclarecer-se e a não dar ouvidos a boatos que ouve a nosso respeito, posso ajudar, basta me procurar.

      Um abraço!

  5. Oi Marcelo! Li seu texto e me identifiquei muito. Agradeço de coração por ter compartilhado sua história. Um abraço e que Deus o abençoe!

  6. Seu testemunho é muito bom e me ajudou bastante, mas uma duvida invadiu minha mente: pessoas de outras denominações que se originaram por nao aceitarem Brigham Young como novo presidente da Igreja, como a comunidade de cristo, nao afirmam tambem que obtiveram um testemunho da veracidade da igreja à qual pertencem? seus lideres nao dizem tambem receber revelações continuamente? Se puder me ajudar, eu agradeço.

    1. Marcos, as pessoas podem dizer o que quiser e até morrer pelo que afirmam e acreditam, mas isso não significa que estejam certas pelo ponto de vista de Deus.

      Eu realmente não sei o que leva a Comunidade de Cristo a afirmar que recebe revelações continuamente ou que obteve um testemunho da veracidade da igreja, assim como também não sei o que leva um homem-bomba extremista muçulmano a se explodir para matar o maior número possível de pessoas, ou certos povos hindus a adorar vacas, ou os budistas a reverenciar Buda, ou os Hare Krishna a agir como agem, etc., etc. O fato é que essa gente toda não pode estar certa ao mesmo tempo! Deus não é Deus de confusão.

      Para saber onde está o certo e a verdade você tem que recorrer ao único Ser onisciente que existe, dono de toda sabedoria e conhecimento do Universo. Se você acredita que Ele tem boca e fala e quer lhe dar essa resposta, tem que estar disposto a pagar o preço para obtê-la. E o preço é exercer fé e humildade na pesquisa do assunto e na oração pelo tempo que for preciso até obter sua resposta. Então você saberá quem está certo e quem não está (mesmo que afirme que está). Eis porque estou onde estou. 🙂

      Espero ter ajudado.

      Um abraço!

  7. O comentário do leitor Léo Paiva foi apagado por ter usado e-mail falso para publicá-lo (leopaiva.paivva@hotmail.com), contrariando a instrução para que não se o faça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *