Publicado em 14 de outubro de 2007 e atualizado em 20 de dezembro de 2023
O templo realmente fincou profundas raízes em mim. Fora o testemunho da divindade do Salvador Jesus Cristo, da veracidade do Livro de Mórmon e da Igreja, nunca nada penetrou tão profundamente meu coração quanto o testemunho da obra realizada naquele pedaço do reino celestial na terra.
Os dois dias de janeiro de 2004 que passei servindo nele, no primeiro por doze horas ininterruptas, foram tais que meu parco vocabulário não consegue descrever. Não vi anjos, não vi espíritos, nem a face do Salvador, mas vi que minha vida muda um pouco a cada vez que vou à Casa do Senhor, como se um elo inquebrantável entre ela e eu fosse forjado e fortalecido a cada visita, a cada serviço, no olhar de cada irmão e irmã que ajudo a servir ao Senhor como oficiante das sagradas ordenanças do templo.
O espírito do templo permaneceu em mim por vários dias depois que voltei, deixando-me tremendamente sensível à beleza do evangelho restaurado de Jesus Cristo e fazendo com que me emocionasse com grande facilidade. Por esse motivo, tive “dificuldade” em dar as aulas daquele primeiro domingo e chorei por quase todo o tempo da Reunião Sacramental. 90% dos testemunhos prestados naquela manhã não foram para falar de outra coisa senão de como a ida ao templo tinha marcado as vidas dos que estiveram nele naqueles dois maravilhosos dias. Eu estava tão emocionado que, pela primeira vez em um ano e meio, não subi ao púlpito para prestar meu testemunho. Eu simplesmente não conseguiria falar.
Inevitavelmente, contudo, a labuta diária pela vida não permitiu que esse magnífico espírito durasse mais tempo. Então me vi novamente às voltas com as aflições de minhas preocupações cotidianas.
Jó é meu exemplo. Não só de paciência e humildade, mas também de como o Senhor permite que Satanás nos aflija para que sejamos testados e provados em nossa fé e obediência. Estará sendo esse o caso? Talvez o Senhor tenha permitido que o inimigo me infligisse intensa oposição, dando-me oportunidade de, assim como Jó, dizer: “receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” (Jó 2:10)
Mas há momentos em que me sinto cansado, em que gostaria de receber um alívio que me desse a chance de respirar um pouco para então recomeçar a batalha. Jó sentiu-se assim também, quando disse:
A minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura de minha alma. Direi a Deus: não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. (…) Bem sabes tu que eu não sou iníqüo; todavia ninguém há que me livre de tua mão. (…) Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento. (Jó 10:1,2,7,20).
É exatamente assim que me sinto, como se Deus estivesse jogando Seus juízos sobre mim e me sentisse esgotado em minhas forças para resistir, rogando por uma trégua.
Em momentos como este não há como não me lembrar das palavras do Senhor ao profeta Joseph Smith, a quem, no auge de seu sofrimento, o Senhor relembrou o exemplo de Jó ao dizer: “Ainda não estás como Jó” (D&C 121:10). E eu nem de longe estou como o profeta, portanto mais longe ainda estou de estar como Jó — o que não torna minha provação menos difícil de suportar, segundo minha capacidade. De qualquer forma, minha confiança no Senhor em nada diminuiu, nem meu desejo de perseverar na obediência a Seus mandamentos.
Tudo o que quero é que Ele me ajude a suportar minha provação pelo tempo que achar que deve durar e que me ajude a ter os meios e recursos para honrar meus compromissos. Mais uma vez, Jó é meu exemplo. Depois de ter perdido quase tudo o que tinha, ele disse: “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor”. (Jó 1:21)